Alunas denunciam machismo de professores em ação no Mackenzie

O Coletivo Feminista Zaha, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, colou inúmeros cartazes pelo prédio de arquitetura para denunciar o machismo do corpo docente.

por Ana Júlia Gennari no HuffPost Brasil
A intervenção aconteceu na última terça-feira (26). As meninas ocuparam até mesmo o espaço da sala dos professores do prédio da faculdade de arquitetura. Os cartazes contém frases que as alunas costumam ouvir de seus professores e a hashtag #EsseÉMeuProfessor.

mackenzie

De acordo com a publicação do Facebook do Coletivo, todas as frases foram confirmadas por pelo menos duas testemunhas.

“Todas as frases são reais e foram confirmadas por pelo menos duas testemunhas. Reunimos relatos de meninas que se sentiram impotentes e não souberam reagir a agressões verbais por estarem sozinhas”

Em entrevista ao HuffPost Brasil, Lela Brandão, uma das fundadoras do coletivo, disse que a ação começou após um professor fazer uma piada sobre estupro em sala de aula, o que gerou comoção entre as alunas.

“A partir disso, começamos a nos reunir pelo Coletivo e discutir coisas que ouvimos em sala de aula, e vimos que os comentários machistas são muito mais comuns do que acreditávamos (e gostaríamos)”, conta.

E explica:

“Decidimos, então, reunir todos esses relatos e escancarar eles pela faculdade, para passar a mensagem de que estamos de olho e não vamos mais tolerar esse tipo de atitude e postura em um ambiente acadêmico.”

Fernanda Corsini, outra integrante do coletivo, disse que alguns professores se incomodaram com a intervenção e chegaram a falar que foi um “exagero” por parte delas.

“O importante é que fomos ouvidas e deixamos avisado que não vamos mais nos calar“.

mackenzie2

Sobre a ação das alunas, a assessoria de imprensa da Universidade Presbiteriana Mackenzie disse que está organizando um seminário cujo tema será “Gênero e Preconceito”. Além disso, afirmou que respeita a liberdade de pensamento e o debate democrático.

mackenzie3

Leia o comunicado na íntegra:

O mural realizado pelos alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo demonstra sua preocupação com o tema e a importância da discussão sobre intolerância no Brasil hoje. No seio desta questão, a escola informa que está organizando um seminário sobre “Gênero e Preconceito”, que será realizado ainda no mês de maio.

O Mackenzie orgulha-se por formar cidadãos críticos e atuantes, que discutem os problemas do dia a dia da sociedade. Também respeita a liberdade de pensamento e o debate democrático, presente entre as milhares de pessoas que transitam todos os dias pelos seus camp0.

Como tudo começou?

O professor e arquiteto, Paulo Giaquinto, que leciona urbanismo no Mackenzie, debochou em sala de aula das acusações de estupro feitas contra o médico Roger Abdelmassih — condenado a 278 anos de prisão, em 2010, por ter estuprado e violentado 56 pacientes.

De acordo com a denúncia, feita no dia 21 de abril, disponibilizada pelo UOL, “Giaquinto comentou, em tom de deboche, sobre como o médico não tinha praticado o crime de estupro, pois ‘o contrato dizia reprodução assistida’ (sic)”.

Ainda segundo o texto, algumas alunas foram conversar com o professor ao final da aula sobre o ocorrido e ouviram que não passava de uma “piada” e que “uma coisa é certa: muitas mulheres se aproveitaram da situação com denúncias falsas”.

A reportagem afirma que a presidente do diretório acadêmico de arquitetura, Victoria Braga, encaminhou a denúncia em uma nota a todos os estudantes da Universidade no mesmo dia.

No dia 22, o diretor do curso, Valter Caldana, respondeu ao diretório que o professor formalizaria um pedido de desculpas, reforçou que a faculdade repudia “qualquer manifestação de cunho racista, sexista ou preconceituoso”, mas não comentou sobre qualquer penalidade ao professor.

Sobre a investigação do caso e possíveis penalizações, a assessoria da Universidade afirmou também ao UOL que “o processo corre trâmite interno. As circunstâncias estão sendo apuradas para subsidiar as possíveis providências.”

Veja mais fotos dos cartazes com frases das alunas em resposta ao sexismo que já sofreram dentro da faculdade:

+ sobre o tema

Aprenda, de uma vez por todas, aqui não dorme louça suja! – Por: Fátima Oliveira

Mesmo exausta após um plantão de 12 horas, lavo...

Laverne Cox fala sobre oportunidades limitadas para atores transexuais

A atriz de 'Orange Is The New Black' conta...

América Latina mobiliza-se contra feminicídios

Começam em toda região — com força especial na...

para lembrar

Leci Brandão homenageia Maya Angelou e Martin Luther King

Leci Brandão homenageia Maya Angelou e Martin Luther King A...

Nem morena, nem mulata

Segundo o IBGE, no Brasil, 7,6% da população se...

Nath Finanças entra para lista dos 100 afrodescendentes mais influentes do mundo

A empresária e influencer Nathalia Rodrigues de Oliveira, a...
spot_imgspot_img

Universidade é condenada por não alterar nome de aluna trans

A utilização do nome antigo de uma mulher trans fere diretamente seus direitos de personalidade, já que nega a maneira como ela se identifica,...

O vídeo premiado na Mostra Audiovisual Entre(vivências) Negras, que conta a história da sambista Vó Maria, é destaque do mês no Museu da Pessoa

Vó Maria, cantora e compositora, conta em vídeo um pouco sobre o início de sua vida no samba, onde foi muito feliz. A Mostra conta...

Nath Finanças entra para lista dos 100 afrodescendentes mais influentes do mundo

A empresária e influencer Nathalia Rodrigues de Oliveira, a Nath Finanças, foi eleita uma das 100 pessoas afrodescendentes mais influentes do mundo pela organização...
-+=