As cervejas transgênicas e as incertezas da ciência – Por: Fátima Oliveira

Um alerta o artigo “Cerveja: o transgênico que você bebe”, de Flávio Siqueira Júnior e Ana Paula Bartoletto. Está lá que Ambev, Antarctica, Bohemia, Brahma, Itaipava, Kaiser e Skol trocam a cevada pelo milho, acarretando ingestão inconsciente de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados). São cervejas sem padrão de pureza “como as da Baviera, mas estão de acordo com a legislação brasileira, que permite a substituição de até 45% do malte de cevada por outra fonte de carboidratos mais barata” (“Carta Capital”, 1.3.2014). É, não são ilegais, são inseguras, logo, imorais!

Por: Fátima Oliveira

Cerveja é a bebida alcoólica mais consumida no mundo e a terceira bebida mais popular, depois da água e do chá. OGM é qualquer ser vivo criado por manipulação genética do que se convencionou denominar de engenharia genética. Todo transgênico é um OGM, mas nem todo OGM é transgênico! A transgenia, técnica singular de engenharia genética que rompe as fronteiras entre as espécies, é germinativa: o novo padrão genético é hereditário. Um transgênico é para sempre: uma vez transgênico, transgênico até morrer.

O sabor das cervejas nossas de cada dia, dia após dia, mudou. Fomos acostumados com cerveja feita com água, malte de cevada e lúpulo. “A fonte de amido é um fator determinante no sabor da cerveja”. Entendeu o gosto de água choca hoje em dia das cervejas no Brasil, o adeus ao gostinho amargo de antigamente? É o pouco malte de cevada! Cerveja que substitui malte de cevada pelo milho, ou outro cereal, é enganação? Não, porque “outros grãos maltados e não maltados (milho, arroz, trigo, aveia, centeio e sorgo) podem ser usados”, mas quem consome tem o direito de saber.
Questão de gosto não se discute, mas imposição, sim! Ao adotar um amido para o fabrico da cerveja é preciso considerar a biossegurança dele! O Brasil usa milho transgênico! Oh, Ninkasi, deusa da cerveja, aprecio degustar cerveja e quero o meu corpo livre de transgênicos, então não beberei cerveja turbinada!

Tenho uma longa história com os transgênicos, publicada em muitos artigos e em meu livro “Transgênicos: o direito de saber e a liberdade de escolher” (Mazza Edições, 2001), ainda atual, porque as indagações feitas nele continuam sem respostas! Como Guimarães Rosa, concordo que “na vida, o que aprendemos mesmo é a sempre fazer maiores perguntas”; então, prossigo perguntado.

Em “Afinal, qual é mesmo o ‘suave veneno’ dos transgênicos?”, eu disse: “A transgenicidade, como qualquer outra biotecnologia “bioengenheirada”, elimina as fronteiras entre as espécies ao possibilitar que qualquer ser vivo adquira novas características ou de vegetais ou de animais ou humanas. Feito de tal monta provocará alterações na vida biológica, social, política e econômica, já que é fato inconteste que as biotecnologias “bioengenheiradas” portam um enorme potencial de desequilíbrio de micro e macroecossistemas”.

Em “Controle social para os transgênicos” (“Observatório da Imprensa”, 15.6.2004), escrevi: “A instabilidade do genoma; as proteínas inconstantes e as áreas de regulação e desativação de genes presentes no DNA lixo são três descobertas recentes que evidenciam que o paradigma sobre o qual a engenharia genética foi construída caiu por terra, o que exige mudança radical de postura no manejo da transgenia, indicando necessidade absoluta de controle social para os transgênicos, pois legar às gerações futuras um amanhã ecologicamente saudável é o mínimo que se espera como demonstração de consciência ecológica”

Fonte: O Tempo 

 

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