De 23 a 25 de julho a Vila de São Jorge recebe toda a força do povo negro – das cidades e dos campos- para celebrar um Brasil de cores.
Por Narelly Batista, do Encontro de Culturas
Depois de conhecer e vivenciar a experiência dos povos indígenas do Brasil com a Aldeia Multiétnica, que este ano celebra os 10 anos de realização, de 15 a 22 de julho, o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros é invadido pelas cores vivas das saias e turbantes do povo negro. De 23 a 25 de julho a Vila de São Jorge recebe toda a força dos povos quilombolas – das cidades e dos campos- para celebrar um Brasil de cores.
Rodas de prosa, apresentações artísticas e religiosas, exposições e oficinas completam a programação do evento que este ano discutirá, dentre outras coisas, estratégias e arranjos produtivos locais, políticas públicas de inclusão e valorização da cultura afro-brasileira e os desafios que se colocam na luta do povo quilombola por garantia de direitos básicos ainda negligenciados.
Assim como as festas tradicionais do povo do campo, que sempre foram feitas de muitas mãos, o Encontro de Lideranças Negras também é realizado dessa forma. Nomes como Douglas Belchior, Família Menezes também conhecida como as Caxeiras do Divino da Casa Afanti Ashanti (Maranhão), Surama Caggiano, Selma Dealdina, Monique Evelle, Enderson Araújo, Elizeu Xumxum, Benjamim Abras e o grupo mineiro Berimbrown fortalecem a programação, já tão rica com os grupos de cultura tradicional da região da Chapada dos Veadeiros.
Conheça alguns dos convidados que já são presença confirmada no XVI Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros:
Douglas Belchior
Professor de história da rede pública de São Paulo, Douglas Belchior se tornou, com uma forte atuação nas redes sociais, um expoente da luta contra a redução da maioridade penal. Autor do blog Negro Belchior, da CartaCapital, Douglas é defensor da política racial de cotas em universidades e atuante na UneAfro Brasil, uma das redes de cursinho que dá chance aos estudantes de baixa renda se prepararem para o vestibular.
Monique Evelle
Estudante do 6º ano no curso de Humanidades na Universidade Federal do Estado da Bahia (UFBA), soteropolitana, de 20 anos é apontada pelo site M de Mulher da editora Abril, como uma das 30 mulheres no país com futuro promissor. A indicação veio por conta de um projeto criado há quatro anos, o Desabafo Social, que traz o tema “Inspirar e empoderar pessoas e projetos”, trabalhando na área de direitos humanos através de oficinas, palestras e debates para conscientizar crianças, jovens e adultos. O projeto tem como foco despertar senso crítico sobre o tema. Monique fez parte do Grupo de Pesquisa da 3ª Bienal da Bahia, produziu o Festival Southbank Centre no Pelourinho, fez consultoria em comunicação para a Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas, foi mediadora do Curso de Capacitação para operadores do Sistema de Garantia de Direitos e Adolescentes: Subsídios para a elaboração de uma Política Nacional de Atenção à Criança e Adolescente em Situação de Rua dentre outros trabalhos.
Enderson Araújo
Estudante de Publicidade e Propaganda, o jovem baiano de 22 anos, Enderson Araújo de Jesus Santos, é um dos criadores do blog Mídia Periférica, e foi um dos 10 jovens empreendedores sociais selecionados para a edição 2012 do Prêmio Laureate Brasil. Enderson Araújo é articulador de movimentos sociais ligados a juventude negra, produtor de conteúdos para o programa Câmara Ligada, da TV Câmara Federal, membro do Conselho Jovem do programa e integra o Conselho Curador da Empresa Brasil Central.
Família Menezes -As Caxeiras do Divino (MA)
A Família Menezes é guardiã de muitas manifestações da cultura maranhense, entre elas a tradição dos toques das Caixas do Divino Espírito Santo, mantida por Dindinha, Zezé, Graça e Bartira. Parte da família reside em São Paulo há mais de 15 anos divulgando e recriando as tradições e festejos maranhenses e, assim, promovendo um intercâmbio cultural entre os dois estados.
Elizeu Xumxum
Elizeu é presidente do Quilombo Capão Negro, de Várzea Grande. Militante do movimento negro e articulista político pelas demandas do povo negro, Elizeu é em sua comunidade um importante representante da luta quilombola pela garantia de direitos básicos, ainda negligenciado em muitos cantos do Brasil.
Selma Dealdina
Selma dos Santos Dealdina é quilombola. Graduada em serviço social ingressou a militância atuando no Movimento Negro CECUNES integrando o Grupo de dança afro Kanoombo, coordenado pela Silvana Santos, Irmã Luzia e Pe. Rufino. Em 2002 fez parte da equipe de pesquisadores (as) quilombolas do projeto Egbé Territórios Negros coordenada pela Koinonia Presença Ecumênica e Serviço e a Federação de Assistência Social e Educacional. Participou da criação da Rede Alerta Contra o Deserto Verde e desde 2009 atua na Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas.
Surama Caggiano
Surama Caggiano é artista plástica e mosaicista há 10 anos, iniciou seus projetos com a criação da técnica do mosaico reciclado, que substitui as pastilhas do mosaico tradicional por CDs inutilizados, jornais, revistas e materiais diversos. Em 2010 realiza sua primeira exposição “Mulheres Africanas” no Tu Mercado de Arte/SP onde cria a união das artes plásticas com o mosaico na criação de esculturas em tamanho natural que representam a beleza, força e coragem das mulheres de 15 países do Continente Africano, retratando e afirmando a identidade da origem da mulher afro-brasileira. Em julho de 2011 inicia suas atividades na área de docente no Quilombo de Brotas em Itatiba/SP onde nasce a Oficina de Mulheres de Brotas da qual é desenvolvido conceitos da cultura do Continente Africano e obras produzidas com a técnica do mosaico reciclado pelas mulheres e adolescentes da comunidade
Berimbrown
Fundado pelo capoeirista Mestre Negoativo em 1997 proveniente de um projeto sócio-cultural e artístico chamado Bloco Afro Porto de Minas, na periferia, comunidade do Maria Goretti, com o objetivo de resgatar e preservar a cultura de matriz africana e a busca da cidadania através da arte.
Comunidade Quilombola do Sítio Histórico Kalunga
Localizado no norte goiano, o Sítio Histórico Kalunga possui 272 mil hectares, e compreende os municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre. Com uma população em quase oito mil pessoas. Essa é a maior comunidade remanescente de quilombo do Brasil, organizada em mais de 20 comunidades e 42 localidades. Até 30 anos atrás a comunidade não conhecia o mundo exterior.