A sambista Beth Carvalho, madrinha do samba, explica por que já não se fazem enredos como “Mangueira, teu cenário é uma beleza / Que a natureza criou, ô ô”
Para a sambista Beth Carvalho, o “Carnaval de rua já é um protesto. É juventude, é garotada. E com contexto político, contrário a todo esse esquemão que se tornou o Carnaval”.
Beth explicou em entrevista a Luiza Franco, da Folha de S. Paulo, que hoje as escolas não “têm mais compositores, mas escritórios. Juntam um bando de compositores, de tudo quanto é lugar, e eles fazem por encomenda para todos – até para São Paulo. Imagina seis ou sete pessoas fazendo um samba sem a menor alma, sem menor amor pela escola que ele nunca viveu? As escolas acabaram com a ala de compositor. O que é uma escola sem isso?”
Por isso, em sua opinião, já não são produzidos samba-enredos como “Mangueira, teu cenário é uma beleza / Que a natureza criou, ô ô” [samba de exaltação à Mangueira, de Aloísio Costa e Eneas Brites da Silva. “Quem fez era apaixonado pela escola, conhecia a escola”, disse.
Beth ainda completou: “Estão reféns do patrocínio. A crise financeira de agora pode trazer de volta a criatividade. As escolas não precisam de patrocínio. Com o que ganham, não precisam. O problema é que a coisa ficou megalomaníaca e as escolas começaram a delirar. Fazer enredo sobre iogurte [Porto da Pedra, 2012] não tem nada a ver com escola de samba, é deboche. E como fica a inspiração do compositor?”
Na entrevista, ela ainda afirmou que hoje o samba está mais fraco. “Esse tal pagode que está aí é outra música, que usa ritmo do samba, mas não é samba. Samba tem filosofia, poesia, forma de cantar direta.” E foi direta: hoje não gravaria a música “O Teu Cabelo Não Nega”, de Lamartine Babo. “É racista. Acho legal banir, não repetir o erro.”