Bukassa Kabengele: “O Brasil ainda não conhece a música africana”

Dono de uma fala calma, Bukassa sorri ao cantar com sua voz doce. Nascido na Bélgica e criado na República do Congo, ele veste uma túnica até os tornozelos e encanta com a “Pé na África”, uma festa que celebra a música e a cultura afro-brasileira há um ano no Espaço Urucum.

No palco, ele surpreende: dedilhados de guitarra congolesa, suingue brasileiro, dança afro e letras cantadas em dialetos africanos como o swahili e o tchiluba, em francês e português fazem o público suar, agitado pela banda Booka Mutoto.

Talento nato

Bukassa Kabengele, 41 anos, veio para o Brasil aos dez anos de idade acompanhando seu pai e quatro irmãos. “Meu pai, Kabenguele Munanga, é hoje professor titular de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP).” Quando mudou para o Brasil ficou um ano e meio em Natal e, em seguida, a família veio para São Paulo e de cá nunca mais saiu.

“Sou apaixonado pela Vila Madalena. Eu digo, seguramente, que este é o lugar mais democrático de São Paulo. Há espaço para todas as classes sociais, numa movimentação que inclui tanto aquela pessoa que fica na calçada do bar bebendo com os amigos, quanto aquela que vai a um restaurante mais caro e sofisticado”, conta o africano que se naturalizou brasileiro.

Foi também em São Paulo que Booka, como foi apelidado, conheceu sua esposa, a portuguesa e artista plástica Vera Rocha, com quem teve uma filha, Muanza Maria, de quatro anos.

Conhecido por algumas participações em minisséries e filmes como “A Casa das Sete Mulheres”, “Mad Maria”, “JK”, “Carandiru” e “Mandrake” (HBO), Booka se dedica ainda a uma carreira musical de mais de 25 anos, tendo acompanhado Marisa Monte e Elba Ramalho em turnês internacionais.

Sempre teve como referência mestres como Gilberto Gil, Tim Maia e Cassiano e descobriu, já com certa maturidade, que a música africana o torna autêntico.

Música afro-brasileira

Como negro, sofreu muito preconceito nas terras tupiniquins. “O Brasil é um país machista e racista. Mas é o segundo no mundo com a maior população negra, fora a Nigéria, na África. A minha briga é para que o brasileiro reconheça a sua africanidade e a assuma.”

A primeira canção composta pela mistura de música brasileira com suingue do Congo, “Mutoto”, foi sucesso absoluto e uniu-se a uma série de outras composições, resultando no CD homônimo, lançado pela EMI-Odeon Francesa em 2005. Foram mais de 200 mil cópias vendidas em seis meses.

No vídeo abaixo, confira o clip da música “Mutoto”.

Booka – Mutoto from Notícias de Setúbal on Vimeo.

“Quando vim para o Brasil, depois de uma temporada na França, comecei a abrir espaço para um novo mercado musical e a fazer contatos. Mudei de banda, investi milhares de reais e fui convencendo músico por músico, pois no começo, não havia onde tocar a música que eu faço”, conta.

Ele quebra a ideia que muitas pessoas têm da música africana, de que sua força está apenas nos tambores. Mostra uma música extremamente desenvolvida em sua harmonia e ritmo; revela no palco algumas influências do som africano no mundo, como em Cuba e no tango argentino.

Com o sucesso da festa “Pé na África” e vendo sua rede se expandir em parcerias com o Centro Cultural Africano e o Fórum África, Booka vai assumindo cada vez mais um papel social, um compromisso prático e decorrente do que ele expressa sendo músico ou ator. “Parece que o Universo está me empurrando para exercer esse papel social, para expandir os valores africanos”.

Um grande resultado desse esforço está prestes a nascer no dia 13 de maio. Trata-se do Instituto Sócio-Cultural Dolores África, uma parceria de Bukassa com o Dolores Bar – casa que há 16 anos toca black music.

O Dolores África, que também fica na Vila Madá, terá exposições de roupas e tecidos, formação e auxílio de imigrantes para a entrada no mercado profissional, DJs africanos, espaço da beleza negra, concursos, e, claro, muitos shows da banda militante Booka Mutoto.

Espaço Urucum

Festa Pé na África – 14 de maio, a partir das 21h.

R. Cardeal Arcoverde, 1.598, Vila Madalena, São Paulo – SP. Tel.: (11) 2309-7409.

Dolores África

R. Fradique Coutinho, 1.007, Vila Madalena, São Paulo – SP. Tel.: (11) 3812-6519.

 

Fonte: VilaMundo

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