Duas datas fundamentais para a história brasileira marcam este ano em que a nova edição da peça de Abdias Nascimento, Sortilégio, é disponibilizada ao público: os 200 anos da independência e os 100 anos da Semana de Arte Moderna. Ambos eventos constituem-se como referenciais primeiros da identidade nacional, registrada como fenômeno notadamente de memória branca e paulista – que, consequentemente, marca os cânones do imaginário nacional. A peça Sortilégio e a atuação do Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado em 1944 por Abdias Nascimento, são manifestações que questionam a vigência de identidade e memória forjadas no eurocentrismo. A vida e a obra de Abdias Nascimento foram dedicadas ao desafio de pensar, valorizar e criar referenciais outros que dessem conta da diversidade de pensamentos e oferecessem novos protagonismos à identidade brasileira. Nesse sentido, ele atuou na transição entre duas eras: a do modernismo e a do contemporâneo.
“Qual é o sortilégio que lança o moderno para o contemporâneo, senão a magia que emana do emergir de culturas há séculos suprimidas ao jugo do colonialismo? Ao tomar a palavra na sua própria língua, por assim dizer, e lançá-la na arena do discurso público, os criadores dessas culturas desafiam o jogo do poder, mudam padrões, desmontam narrativas e hierarquias estabelecidas. Abdias Nascimento foi precursor e continuador desse processo. Ao fundar o Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1944, ele atuava ao lado de companhias de vanguarda como Os Comediantes. O TEN participou ativamente do parto do teatro moderno no Brasil. Mas seu forte impacto na cena cultural da época ficou, ao mesmo tempo, fartamente documentado e mantido oculto”. É o que Elisa Larkin Nascimento, companheira de Abdias Nascimento por 40 anos, autora e fundadora do IPEAFRO, afirma no prefácio à nova edição de Sortilégio.
Para o premiado ator e diretor teatral Ângelo Flávio, responsável pela produção, roteiro e direção cênica do evento, o texto de Sortilégio é um clássico do teatro brasileiro. Afirma o diretor: “para mim, que dirigi a estreia mundial desta obra em 2014, em Salvador, que teve ampla repercussão nacional, é uma honra, uma alegria e uma responsabilidade muito grande assumir o compromisso de produzir o lançamento desta obra fundamental para o legado do teatro negro no Brasil. Sortilégio retrata o sintoma social do povo negro no país, além de ser, em minha opinião, o maior clássico do teatro negro no Brasil”.
Para celebrar o lançamento nacional do texto definitivo da peça escrito pelo professor Abdias Nascimento em 1951 e reelaborado em 1978, o IPEAFRO realiza evento no Terreiro Contemporâneo, reduto do teatro negro no Rio de Janeiro, em 13 de julho, às 19h, com entrada gratuita ao público. A programação inclui leituras dramatizadas e performances artísticas sobre o texto de Sortilégio. Participam da atividade: Wilson Rabelo, Ana Paula Black, Nádia Bittencourt, Mônica Nêga, Heloísa Jorge, Flávia Souza, Reinaldo Júnior e Cridemar Aquino; além da Confraria do Impossível e Cia. Rubens Barbot. Serão exibidos vídeos produzidos com base no acervo IPEAFRO ressaltando trabalhos de Abdias Nascimento ligados ao Teatro Experimental do Negro. A programação inclui, ainda, uma noite de autógrafos com a autora do livro Abdias Nascimento, a Luta na Política, Elisa Larkin Nascimento. A publicação aborda o ativismo político de Abdias Nascimento.
Os dois livros, edições da Editora Perspectiva em parceria com o Ipeafro, abordam as dinâmicas entre arte e política na vida e obra de Abdias Nascimento. Para ele, a arte foi um meio para enfrentar a urgente questão política das condições de vida das populações negras no Brasil e no mundo. Seu maior objetivo era combater o genocídio do negro brasileiro, que persiste até hoje: no Brasil, um jovem negro é morto violentamente a cada 23 minutos. Escreveu Abdias Nascimento: “Nosso Teatro seria um laboratório de experimentação cultural e artística, cujo trabalho, ação e produção explícita e claramente enfrentavam a supremacia cultural elitista-arianizante das classes dominantes” (Abdias Nascimento, O Quilombismo, 2019; pág 92-93).
TERREIRO CONTEMPORÂNEO
O Terreiro Contemporâneo foi idealizado e fundado pelos criadores da ‘Cia Rubens Barbot’, primeira companhia de dança negra contemporânea do Brasil: o bailarino e coreógrafo Rubens Barbot e o coreógrafo e diretor Gatto Larsen. Localizado no centro do Rio de Janeiro, o Terreiro Contemporâneo funciona para acolher, lapidar e desenvolver talentos negros por meio da arte. Atua para manter o legado negro vivo na cidade do Rio de Janeiro, abrigando coletivos e atividades de dança, cinema e teatro.
SINOPSES DOS LIVROS
1. SORTILÉGIO
Incrível a atualidade da peça. A cada vez que nos deparamos com um texto de Abdias Nascimento, salta aos olhos o frescor, a pertinência e a contundência de sua prosa ou poesia, de seus diálogos, de sua força, de sua capacidade como orador. Sortilégio escancara a brutalidade do racismo no Brasil, denuncia a farsa da democracia racial e ainda ilumina e se abre para uma poderosa cultura brasileira de matriz africana. Esta edição marca o estabelecimento do texto definitivo da peça, musicado por Nei Lopes, e traz análise de Elisa Larkin Nascimento sobre as encruzilhadas e os diálogos que a obra provoca entre o masculino e feminino, o moderno e o contemporâneo. Em texto do diretor, produtor e gestor cultural Jessé Oliveira, o livro traz os realizadores atuais de teatro negro à cena, além de entrevistas com Léa Garcia, atriz protagonista da montagem de estreia em 1957, e Ângelo Flávio Zuhalê, diretor da montagem de 2014, centenário de Abdias Nascimento. FICHA TÉCNICA
Autor: Abdias Nascimento
Apresentação e Prefácio: Elisa Larkin Nascimento
Participação: Léa Garcia, Jessé Oliveira e Ângelo Flávio Zuhalê
Assunto: Teatro / Dramaturgia
Coleção: Paralelos
Formato: Brochura
Dimensões: 14 x 21 cm
160 páginas
ISBN 9786555051087
E-book: 9786555051094
Lançamento: 27/05/2022
2. ABDIAS NASCIMENTO, A LUTA NA POLÍTICA
Abdias Nascimento foi uma das mais importantes e brilhantes lideranças do Brasil, dedicando-se intensamente ao enfrentamento do racismo e à promoção do legado cultural afro-brasileiro. Escritor, artista plástico, dramaturgo, deixou um legado cultural incontornável através do TEN, Teatro Experimental do Negro, das pinturas que realçam sua ligação com a cultura africana e dos livros que denunciam o racismo e a violência das relações étnico raciais no Brasil. Na década de 1980, volta-se à política institucional do Congresso Nacional, onde acreditava ser necessário pôr em pauta as questões raciais e implementar políticas públicas de reparação. Muito do debate e das políticas públicas que assistimos hoje e que foram implementadas no país devemos à sua atuação parlamentar. Essa atuação é o objeto deste livro.
FICHA TÉCNICA
Autora: Elisa Larkin Nascimento
Coleção: Debates
Assunto: Política
Formato: Brochura
Dimensões: 11,5 x 20,5 cm
240 páginas
ISBN 9786555050806
E-book 9786555050813
Preço E-book: R$ 34,90
Lançamento: 29/11/2021
SERVIÇO
Evento: Lançamento dos livros Sortilégio e Abdias Nascimento, a Luta na Política
Local: Terreiro Contemporâneo – Rua Carlos de Carvalho, 53 – Centro, RJ
Data: quarta, 13 de julho, às 19h
Entrada: gratuita