Contra ‘gordofobia’, misses protestam de lingerie em frente ao Congresso

Modelos disseram terem sido vítimas de preconceito em hotel da capital.
Objetivo das modelos é mostrar que elas não têm vergonha de quem são.

Por: Isabella Formiga no, G1

Quatro misses plus size, vestidas apenas de peças íntimas, fizeram uma manifestação contra a “gordofobia” em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, nesta terça-feira (11). O ato aconteceu depois que duas delas ouviram do recepcionista de um hotel da capital que não caberiam juntas em uma cama de casal.

As duas modelos são do estado de São Paulo e vieram a Brasília para participar de um ensaio fotográfico contra a discrimininação a obesas, previsto para esta terça. Depois do que ocorreu no hotel, elas se juntaram a outra dupla que também participaria da sessão de fotos e resolveram fazer o ato. Segundo as misses, o intuito do ensaio é provar que elas não têm vergonha do corpo.

“As meninas chegaram para a gente fazer um trabalho em Brasília contra o preconceito e, já no dia que chegaram, sofreram preconceito no hotel”, diz a miss plus size DF, Janaína Graciele, de 34 anos. “Na hora do check-in, o pessoal do hotel já falou que, se eram as duas na cama de casal, era melhor olhar a cama, porque [ele] achava que não ia caber as duas.”

“Não falamos nada, ficamos sem graça. Mas tudo bem, fomos lá e olhamos a cama, que cabem até três [pessoas]. Mas foi um preconceito”, disse Janaína. “Não entendo como que é. Faz um hotel que acha que nunca vai ter uma hóspede gordinha?”

Maquiadas, de salto alto e cobertas apenas com robes, as misses DF, São José do Rio Preto, Baixada Santista e São Paulo chegaram ao gramado do Congresso Nacional por volta de 14h. Acompanhadas de três fotógrafos e uma maquiadora, as modelos chamaram a atenção de funcionários, vigias e turistas, que tiraram fotos e gritaram palavras de apoio. Muitos motoristas buzinavam enquanto elas faziam poses para as lentes.

“A gente quer mostrar para as meninas que não temos que ter vergonha do que nós somos, do corpo que nós temos. Nós somos lindas, maravilhosas, e cada uma tem sua beleza”, disse a miss São Paulo, Camila Bueno, de 19 anos. “Viemos aqui hoje protestar contra isso, contra todo o preconceito, e mostrar quem a gente é de verdade, e que não é porque é gorda que não pode ser maravilhosa.”

Na hora do check-in, o pessoal do hotel já falou que, se eram as duas na cama de casal, era melhor olhar a cama, porque [ele] achava que na cama não ia caber as duas”
Janaina Graciele, miss plus size DF

Depois do incidente no hotel, as misses dizem terem sido vítimas de preconceito em um bar. “Domingo à noite saímos para um barzinho e, na hora que entraram as quatro misses, um pessoal de uma mesa lá disse: ‘Olha lá, já entraram as gordas. As meninas se chocaram”, diz Janaína.

“A gente tem a autoestima elevada, a gente compreende bem. Mas e quem não tem? E quem tem autoestima superbaixa? Se entrasse no barzinho, já saía, perdia a noite, a vida, de não querer se aceitar”, disse. “Recebemos muitos comentários [sobre o incidente] dizendo: ‘ai, isso acontece todo dia comigo, nem saio mais de casa, nem vou no shopping’. Então a gente vê que abala muito, que afeta. Sei que a gente vai receber muitas críticas, mas taí para gente pagar para ver.”

Apesar de três das modelos serem de São Paulo, as quatro participantes do protesto fazem parte do BSB Plus Size, grupo que realiza ações voltadas para as mulheres com sobrepeso na capital federal. Entre os projetos organizados em dois anos de existência, está um calendário com fotos das “gordinhas” em frente a monumentos de Brasília, uma revista voltada para o segmento, uma campanha de prevenção ao câncer de mama e um ato pela criação de um hospital para obesos no DF.

Foto: Paulinha Almeida/Divulgação

 

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