Dramaturga negra que conquistou palcos ingleses

Por JOANA EMÍDIO MARQUES

 

Estreou uma peça sobre Martin Luther King numa obscura sala londrina e ganhou o mais importante prémio de teatro: o Laurence Olivier. Foi a primeira mulher negra a obtê-lo.

Katori tem um nome japonês, nasceu em Memphis, no estado americano de Tennessee, vive em Nova Iorque e a Inglaterra deu-lhe um dos mais prestigiados prémios de teatro: o Laurence Olivier, para melhor peça de teatro em 2010. Foi a primeira mulher negra a receber esta distinção. A peça chama-se The Mountaintop, recria a última noite de vida do activista negro Martin Luther King e vai passar do West End londrino para a Broadway já no próximo Verão. O actor Samuel L. Jackson interpreta o papel principal.

Uma conversa com Katori Hall, 30 anos, torna-se inevitavelmente um tempo bem passado. O olhar inteligente e irónico que lança sobre si própria e sobre o mundo em redor e as gargalhadas contagiantes fazem dela uma personagem fascinante. O DN encontrou-a num hotel de Lisboa, onde esteve para assistir à encenação da peça que escreveu quando viveu entre a África do Sul e o Ruanda: Filhos e Assassinos. A obra foi traduzida para a língua portuguesa e encenada por alguns dos grupos de teatro escolar que integraram o festival PANOS, promovido pela Culturgest. Foi precisamente durante esta entrevista que Katori recebeu o livro, acabado de chegar da gráfica, com a tradução da peça. “Oh my God!”, exclamou várias vezes, entre gritinhos e gargalhadas, enquanto segurava o livro e olhava para as suas palavras, pela primeira vez, escritas numa língua que não a inglesa.

Katori tem uma história que na América de Barack Obama ainda é uma excepção. Nasceu no seio de uma família negra de classe média baixa. Aos 15 anos, começou a escrever artigos para um jornal local. Aos 23 anos, graduou-se em Estudos Afro-americanos e Escrita Criativa, na Universidade de Columbia, e aos 25, em Estudos Teatrais, na Universidade de Harvard.

“Comecei a estudar teatro porque pensava que ia ser actriz, mas depois percebi que aquilo em que era boa era na escrita. Então escrevi uma peça sobre um homem que abandona a namorada”, diz, antes de dar mais uma gargalhada e acrescentar: “a namorada era eu”. Apesar de hoje achar este primeiro trabalho “ingénuo”, a peça foi representada em vários palcos dos Estados Unidos.

Não obstante este começo auspicioso, quando se mudou para Nova Iorque, Katori passou por momentos difíceis. “O meio teatral nova-iorquino é muito fechado. Está ainda preso aos velhos dramaturgos e não tem capacidade para integrar os mais novos, novas linguagens, novos olhares. E, apesar de Obama ser Presidente, a situação dos negros, em especial das mulheres negras, continua a ser difícil.”

 

 

 

 

Fonte: DN

+ sobre o tema

Nasser e o Pan-Arabismo

Gamal Abdel Nasser, na verdade, era o principal...

Vidas Negras Importam: Nego E solta clipe ‘Lua Negra’, com KL Jay, Mc Soffia, Drik Barbosa

Na última quarta-feira (21), o Nego E finalmente divulgou...

Cenário político brasileiro desperta apreensão na Feira do Livro de Frankfurt

Nomes da literatura nacional e internacional falam sobre suas...

Poderosa Shonda

As noites de quinta-feira agora têm dona: Shonda Rhimes,...

para lembrar

Viriato da Cruz

Porto Amboim, Angola, 1928 - Pequim, China, 1973. Foi...

Perturbadores do sono do mundo

Pra que serve mesmo a literatura? Vivemos num tempo...

Escola flutuante em favela africana ganha prêmio de design

Uma exposição no Museu do Design de Londres reúne...
spot_imgspot_img

Com Mano Brown, festa 100% Favela homenageia as mulheres do rap

No dia 14 de setembro (sábado), a festa 100% Favela + Mulher acontece na Favela Godoy, no bairro Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo....

James Earl Jones, a voz de Darth Vader e de Mufasa, morre aos 93 anos

O ator e dublador James Earl Jones, eternamente lembrado como a voz do vilão Darth Vader, morreu nesta segunda (9) aos 93 anos, em...

The Wailers anunciam shows no Brasil em comemoração aos 40 anos do ‘Legend’

The Wailers comemora dois marcos significativos neste ano: o aniversário de 40 anos do álbum Legend, com Bob Marley, e o lançamento da cinebiografia Bob Marley: One Love. Sob...
-+=