Em filme, Beyoncé vai além da música e se impõe como a autora de ‘Renaissance’

Cantora pinta retrato transparente do seu processo criativo mostrando perrengues e crises nos bastidores da turnê

“Estou animada para as pessoas verem o show”, diz Beyoncé, no início do filme “Renaissance: A Film by Beyoncé”, que estreia nesta quinta-feira no Brasil, baseado em sua recente turnê mundial e sétimo álbum de estúdio. “Mas estou realmente animada para que todos vejam o processo.”

Há muito tempo eu queria entender melhor o processo dela, especialmente porque Beyoncé tem se recusado a dar entrevistas com frequência. Em vez disso, ela deixou sua arte falar por si mesma, uma empreitada arriscada quando os críticos a interpretam sem a sua contribuição.

Meu interesse em sua abordagem é em parte acadêmico. Ministro cursos sobre ela e quero que meus alunos aprendam com suas observações. Muitas vezes me pergunto se nossa ignorância sobre sua prática criativa tem minimizado e negado sua inovação, engenhosidade e contribuições para sua própria obra.

Se “Renaissance” fosse só um filme sobre seu público animado, performances deslumbrantes e a criação da turnê, isso seria mais do que suficiente. No entanto, fica claro desde o início que Beyoncé não está totalmente interessada em fetichizar seu “processo” para validar sua arte.

Em vez disso, o filme desconstrói seu objeto para expandir a nossa compreensão da cantora. A obra critica como raça e gênero limitaram nossa capacidade de ver seu talento e, ao fazer isso, a liberta de ter de provar seu impacto na cultura.

O longa faz isso estabelecendo rapidamente seu controle criativo. O próprio show celebrou a maestria simultânea de Beyoncé na dança, na música e na moda e em apresentações ao vivo, o que a torna incomparável entre artistas atuais.

Por outro lado, o filme mostra seu trabalho nos bastidores. Como diretora, produtora executiva e diretora criativa, ela supervisionou tudo, desde contratação e salários até seleção musical, marketing, coreografia, figurinos e vídeo.

Mas o que torna “Renaissance” único entre outros filmes de shows é que Beyoncé não é só a estrela da produção. Ela também escreveu, dirigiu e produziu o filme.

Dessa forma, “Renaissance” é o ápice de seus projetos para cinema, começando com os álbuns visuais “Beyoncé”, de dez anos atrás, e “Lemonade”, de 2016; passando pelo documentário íntimo “Life Is But a Dream”, de 2013; o filme “Homecoming”, de 2019, sobre sua apresentação no festival Coachella; e “Black Is King”, de 2020, que ela e Blitz Bazawule fizeram para acompanhar a trilha sonora “The Lion King: The Gift”. Mas, ao dar mais detalhes de sua perspectiva, da sua preparação e sacrifício pessoal, o novo filme vai além.

Com narrações e closes dela em roupas casuais, vemos a artista enquanto ela dá sugestões à sua equipe sobre ângulos de câmera, iluminação e velocidade e direção dos ventiladores mecânicos.

Em outra cena, em que todo o sistema de som falha enquanto ela canta “Alien Superstar” em Glendale, nos Estados Unidos, a tensão aumenta. Ela e suas dançarinas deixaram o palco de imediato —isso é tudo o que a plateia sabe.

Mas, como diretora de cinema, ela faz com que as câmeras a sigam nos bastidores para capturar os retornos de sua equipe, prometendo a normalização em três minutos. Nesse curto período, ela convence o departamento de figurino de que há tempo suficiente para uma rápida troca de roupas e, em seguida, no novo traje, ela se encontra com o chefe de produção musical para testar uma nova transição para a próxima canção.

É uma sequência emocionante que torna seu retorno perfeito ao palco ainda mais admirável e mostra seu notável senso de tempo e tensão como narradora e cineasta.

Esses momentos despertam a questão de por que demorou tanto para ela ilustrar de forma eletrizante essa liderança. Então percebi que nós éramos o problema; não demos ouvidos a ela. Beyoncé passou boa parte da vida dizendo que estava no comando.

Cartaz do filme ‘Renaissance: A Film by Beyoncé’ (Foto: Divulgação)

No Brasil, o lançamento do filme será acompanhado de uma edição nacional do “Club Renaissance”, evento que a cantora realiza para celebrar os seus fãs. O projeto será feito com a TV Globo em Salvador, na Bahia, nesta quinta-feira.

RENAISSANCE: A FILM BY BEYONCÉ

  • Quando Estreia nos cinemas nesta quinta (21)
  • Classificação 12 anos
  • Produção EUA, 2023
  • Direção Beyoncé

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