Cronistas batem perna. Mesmo quando trancados em casa não se esquecem da rua. Pois é nela que a vida trota suas mesmices e surpresas. Semana passada, num footing pela Vila Madalena, dei de cara com um carimbo grafitado no tapume de um prédio em ascensão.
O grafite comunicava: Você praça, acho graça. Você prédio, acho tédio. É claro que sorri. De forma dupla. Primeiro, pela delícia da mensagem colorida e afiada. Segundo, por entender que se trata de uma utopia. Afinal, como tantos outros bairros de Sampa, a Vila se verticaliza. E, perdão pela rima chinfrim, vertiginosamente.
Caiem uma a uma as casinhas de construção e inspiração portuguesas. Sobem prédios com o valor do metro quadrado na lua. Riem os bancos e os juros. É o mercado! Mas o grafite continua tendo razão. Vai-se a graça, instala-se o tédio.
Choram cinquentões e sessentões. Em breve, a Madalena não será mais a mesma. Quer dizer, ela já não é. Por exemplo, as famílias mais pobres se foram. Para mais longe. O pãozinho da padoca, frutas e verduras da quitanda se tornaram bem mais caros.
Ocupando os antigos lugares veio uma classe média boa de consumo e renda. Onde antes víamos varandinhas com antúrios e imagem de santo, agora vemos sinistros portões escondendo moradores e seus carrões. Também aumenta o número de vigilantes, assustados e meliantes.
Quem está reivindicando a graça da praça e refutando o tédio dos prédios é a juventude. Gente no energético intervalo entre vinte e trinta anos. Eles não querem saber das razões do capital. Da velha lei da oferta e da procura. Parecem bradar: Nem Karl Marx, nem Wall Street.
É uma gente com o pensamento em movimento. Acreditam no progresso com responsabilidade. No dinheiro com honestidade. Clamam por áreas mais coletivas. Querem o verde afugentando o cinza. Tenho dúvidas que eles consigam deter com poesia a força bruta da grana.
Mas os saúdo! Guerreiros da beleza. Como eles, penso que o estampado é mais alegre que o cimento liso. Que pode haver um caminho do meio, no qual viver seja muito mais do que possuir e ostentar.
Por: Fernanda Pompeu
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Fonte: Yahoo