‘Fatalidade genética’ leva 1 em cada 8 mulheres a ter câncer de mama

Cerca de 90% dos casos são causados por mutações genéticas não hereditárias; exposição prolongada ao estrógeno é um dos fatores de risco

Por Deborah Giannini, do R7

Divulgação

Uma em cada 8 mulheres que viverem até os 75 anos terão diagnóstico de câncer de mama. O dado é da American Cancer Society, mas também vale para a realidade das brasileiras, segundo o mastologista Antonio Frasson, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia.

A incidência da doença é maior nas regiões Sul e Sudeste, intermediária, no Nordeste, e baixa no Norte, segundo o médico.

De acordo com relatório divulgado recentemente pela OMS (Organização Mundial da Saúde), o câncer de mama afetará cerca de 85.600 mulheres este ano no Brasil, sendo o mais comum no país. “A incidência de câncer de mama vem aumentando nos países Ocidentais e nos que passam por ocidentalização”, afirma o mastologista.

Segundo ele, desenvolver câncer de mama sem ter propensão hereditária ocorre por uma “fatalidade genética”. “Todo mês, as células do corpo se renovam e podem surgir defeitos de divisão celular”, explica.

A maioria dos casos de tumor de mama – 90 a 95% – não está associada a fatores genéticos, mas sim ambientais e reprodutivos, segundo ele. Fatores ambientais se referem ao estilo de vida, como alimentação saudável, prática de atividade física, o não consumo excessivo de bebidas alcóolicas e o não tabagismo.

Já fatores reprodutivos estão relacionados ao tempo em que a mulher fica exposta, ao longo da vida, ao estrógeno, hormônio feminino produzido pelo próprio corpo. Segundo o mastologista, cerca de 60% a 70% dos tumores de mama têm associação com o hormônio.

“Os tumores de mama são hormônios-dependente. Então, quanto maior o tempo de exposição a este hormônio, maior será o risco de desenvolver um tumor de mama. Se a menstruação começa cedo e termina tarde, aumenta o tempo de exposição da mulher a este hormônio. O estrógeno estimula a proliferação celular da mama”, explica.

Depois dos 50 anos – quando a incidência de câncer de mama é maior – esse hormônio continua circulando no organismo. “Muda a origem. Ele não é mais produzido pelos ovários, mas pela glândula suprarrenal. Mas o que importa no risco é sempre o tempo de exposição, e não o momento da exposição”, afirma.

O câncer, de uma forma geral, pode ser hereditário ou esporádico, desenvolvido a partir de hábitos de vida. Ambos apresentam os mesmos genes alterados. No câncer hereditário, a mutação do gene é herdada dos pais e está presente em todas as células do corpo. No esporádico, ela é adquirida ao longo da vida e não passa para aos descendentes.

“O que ocorre, no caso de câncer de mama, é que os fatores de risco são pouco modificáveis. Há mulheres que levam uma vida saudável, tiveram várias gestações, que funcionariam como ‘protetores’ e, mesmo assim, desenvolvem câncer de mama”, completa.

Apenas entre 5% a 10% dos tumores de mama são causados por propensão genética, ou seja, presença de mutação nos genes BRCA 1 e BRCA 2, que são adquiridos hereditariamente.

“Cerca de 50% das pessoas que apresentam essa mutação terão câncer até os 50 anos de idade e a chance de ter câncer até os 80 anos é de 80%. Isso é um risco muito alto”, diz.

Segundo ele, é recomendado que mulheres com casos de câncer de mama na família antes dos 50 anos de idade façam um teste genético, chamado de pesquisa para síndrome hereditária mama-ovário, para identificar a presença da mutação. Assim a estratégia de prevenção, que vai até a mastectomia (extração da mama), poderá ser traçada.

O médico explica que esse exame pode ser requisitado por um oncologista, geneticista ou mastologista, leva três semanas para ficar pronto e custa em torno de R$ 1.500. Não está disponível pelo SUS.

Gravidez tem efeito “protetor” contra câncer de mama

Ele explica que a gravidez antes dos anos 30 anos é um fator “protetor” para o câncer de mama, pois ajuda o tecido mamário a se desenvolver completamente, tornando-se menos suscetível a alterações genéticas. Segundo ele, o mesmo não acontece na gestação tardia – após os 40 anos.

O estrógeno é um dos hormônios utilizados no tratamento de fertilização in vitro (FIV). Embora sejam administradas doses elevadas do hormônio, o médico afirma que não aumenta o risco de câncer de mama.

Ele afirma que, neste caso, a ação dos hormônios é pontual e não cumulativa. Não há evidência científica de aumento da taxa de câncer em mulheres submetida ao FIV.

Apenas mulheres com histórico familiar de câncer de mama ou outro tipo de tumor estrógeno-dependente deve evitar um grande número de tratamentos para engravidar – mais de dez.

O risco de câncer de mama, na população em geral, aumenta após os 50 anos. O tratamento de reposição hormonal, adotado por algumas mulheres na menopausa, aumenta o risco da doença, segundo Frasson. “A reposição hormonal utilizada após a menopausa aumenta o risco em 30%”, explica.

A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que o exame de mamografia seja realizado a partir dos 40 anos a cada dois anos e, após os 50 anos, anualmente. O médico ressalta que o exame é capaz de detectar alterações mamárias antes que se tornem nódulos. “Quando vê e é um câncer, é um câncer menor”, afirma.

De acordo com o mastologista, a mortalidade tem relação direta com o tamanho. “Se eu descubro um câncer de mama de 1 cm, a chance de cura é de 90%. Se eu descubro um de 3 cm, a chance de cura é de 70%. Cada milímetro de tumor implica risco de ter metástase em torno de 1%. Então se eu descubro um tumor de 1 cm, o risco de ter metástase é de 10% e a chance de cura é de 90%”, explica. “É claro que os tumores são de comportamento diferente. Mas hoje, 70% dos tumores pequenos são menos agressivos”, completa.

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