Um recado firme e perfeito: “meio ambiente não é adereço”
É no “paralelo” que a presença feminista se faz notar
por Fátima Oliveira, no Jornal O TEMPO
No último dia 13, nos preâmbulos da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, a presidenta Dilma Rousseff discorreu sobre “o desafio das nações de crescer sem agredir o planeta” na inauguração do Pavilhão Brasil, exposição com cinco eixos – inovação e produção agrícola sustentável; inclusão social e cidadania; energia e infraestrutura; turismo, grandes eventos e cultura; e meio ambiente – e quatro exposições de programas de inovação, tecnologia sustentável e inclusão social, como Minha Casa Minha Vida, Água Doce e Cultivando Água Boa.
Acrescentou a presidenta: “Meio ambiente não é adereço. Queremos mostrar durante a Rio+20 que tornamos isso possível (…). Não consideramos que o respeito ao meio ambiente só se dá em fase de expansão do ciclo econômico. Pelo contrário, um posicionamento pró-crescimento, de preservar e conservar, é intrínseco à concepção de desenvolvimento, sobretudo diante das crises”.
Inegavelmente, um discurso de teor “verde”, que Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula, que se acha detentora única do discurso verde, está empenhada em desacreditar, como era o esperado: diz que “o país tem vivido um acelerado retrocesso no setor e que abriu mão de liderar as discussões globais sobre o meio ambiente” e que “a base legal que fez com que, desde 2004, se conseguisse reduzir a pobreza e o desmatamento agora está sendo abolida”; e patati patatá…
Já ouviu falar em dinheiro verde? E em mangue verde, que é um pouco o cotidiano brasileiro quando o assunto é meio ambiente? E misture tudo ao desinteresse e ao descompromisso dos países ricos a respeito de desenvolvimento sustentável e embrulhe no papel celofane do discurso catastrofista de alguns verdes ranzinzas de escritório.
Tá tudo lá na babel da Cúpula dos Povos que, como afirmou Aron Belinky, especialista em sustentabilidade, responsabilidade social e consumo sustentável, a “Rio+20 é uma peça em dois atos”, o oficial e o paralelo (ou Cúpula dos Povos).
É no “paralelo” que a presença feminista se faz notar como “crítica global às falsas soluções propostas para a crise atual, representada pela economia verde – contra a mercantilização da natureza, em defesa dos bens comuns e, também, da liberdade, da autonomia e da soberania das mulheres sobre seus corpos e suas vidas e demandam voz ativa em todos os processos de decisão sobre as políticas em geral”.
No mesmo sentido, a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) organizou atuação focada na “Autonomia das Mulheres e Desenvolvimento Sustentável”.
Talvez caibam as perguntas: quem se lembra da Agenda 21 das Mulheres? E do vocábulo sociobiodiversidade?
Refrescando a memória. Paralelamente à ECO-92, estruturou-se o Fórum Global, onde havia a tenda do Planeta Fêmea, na qual cerca de 1.500 mulheres do mundo finalizaram, após mais de 200 horas de debate, a Agenda 21 das Mulheres; aprovaram dois tratados e uma declaração em que denunciam que o uso do corpo das mulheres como cobaias tem sido uma constante histórica universal: “O direito das mulheres de controlar suas escolhas de vida é a base e o fundamento de toda e qualquer ação referente à população, meio ambiente e desenvolvimento. Rejeitamos e denunciamos toda e qualquer forma de controle do corpo da mulher por governos e instituições internacionais”.
Nada mais, nada menos do que a compreensão de que a Terra nos foi dada em usufruto e é nosso dever legá-la saudável para as futuras gerações.
Fonte: Viomundo