‘Financial Times’: Grupos neonazistas desafiam o mito de democracia racial no Brasil

Extremistas da Ucrânia teriam recrutado brasileiros para lutar contra rebeldes pró-Rússia

Fonte: Jornal do Brasil

Matéria publicada nesta terça-feira (10) pelo Financial Times fala sobre uma nova descoberta que o Brasil está revelando aos poucos, no que diz respeito à sua ideologia política e igualdades sociais. Segundo a reportagem, quando o delegado da Polícia Civil Paulo César Jardim ordenou uma série de buscas em casas de supostos neonazistas em dezembro do ano passado, em Porto Alegre (RS), não imaginava o que descobriria.

O Times revela que o latente movimento neonazista do Brasil, com seu submundo de violência, suásticas e propaganda de ódio, estava tendo seus membros recrutados por extremistas de direita na Ucrânia para lutar contra rebeldes pró-Rússia na guerra civil ucraniana, iniciada após a Rússia anexar a Crimeia em 2014.

O diário de finanças acrescenta que de acordo com César Jardim, a chamada Divisão Misantrópica, um movimento de extrema direita ucraniano, alinhado ao grupo paramilitar de direita Azov Battalion, que foi incorporado à Guarda Nacional ucraniana, estava por trás do recrutamento. Após descobrir o plano, a polícia, agora, investiga se algum brasileiro chegou a se juntar ao conflito ucraniano. A revelação de que movimentos ultranacionalistas brasileiros estão buscando experiência de combate no exterior é um fenômeno preocupante que chocou o país, que se considera um caldeirão de mistura racial

Reportagem lembra episódio em que Jair Bolsonaro citou Ulstra, torturador da ditadura militar, ao votar a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff

A ascensão de grupos neonazistas desafia o mito popular de que o racismo não existe no Brasil, analisa o Financial Times. Embora a extrema direita ainda seja marginal no Congresso, políticos ultranacionalistas e seus entusiastas vêm preenchendo o vácuo deixado após o impeachment de Dilma Rousseff.

Enquanto a extrema-direita ainda é vista como a sombra da política em um país que se libertou da ditadura militar em meados dos anos 80, políticos ultra-conservadores e seus partidários estão dispostos a preencher um vácuo que se desenvolveu bastante na votação de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, da Câmara dos Deputados, quando Jair Bolsonaro, congressista de extrema-direita e ex-capitão do exército brasileiro, citou um torturador histórico ao votar a favor de sua saída da presidência.

Ainda no ano passado, um grupo de ultraconservadores invadiu o Congresso e rasgou bandeiras, clamando pelo retorno do governo militar. Bolsonaro negou ser neonazista, mas os críticos o acusam de compartilhar muitos pontos de vista do movimento, como o racismo e a intolerância.

Os movimentos neonazistas concentram-se, principalmente, no sul e sudeste do país, do Rio de Janeiro e São Paulo até o Rio Grande do Sul. Essas regiões foram as que, no passado, receberam o fluxo de imigrantes vindos da Alemanha, da Polônia e da Itália, aponta texto do noticiário britânico.

De acordo com analistas, a maioria dos movimentos começou em sites que propagam o discurso de ódio na internet. Segundo um artigo da antropologista Adriana Dias, da Unicamp, dos 200 milhões de habitantes do país, 150 mil são simpatizantes ou envolvidos em movimentos neonazistas.

“A violência expressada por esses grupos, seja em ataques físicos contra negros, judeus ou homossexuais, ou a disseminação de sua literatura de ódio exigiu muito trabalho nos últimos anos”, escreveu Dias.

A tese de Dias se comprova na descoberta de redes de recrutamento, como a descoberta por Jardim, em ataques de nazistas contra gays na Avenida Paulista e no crescente preconceito contra nordestinos. O policial diz que a inflexibilidade de ideias é o principal problema para lidar com esses movimentos.

“Esses não são criminosos comuns, eles têm uma ideologia. São pessoas que acreditam em limpeza étnica, em pureza racial”, diz o delegado.

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