O governo do Estado do Maranhão confirmou nesta terça-feira (31) que a Funai (Fundação Nacional do Índio) informou a morte de mais uma liderança guajajara na terra indígena Arariboia, no Maranhão, o professor indígena Zezico Rodrigues Guajajara, diretor do centro de educação escolar indígena Azuru.
Por Rubens Valente, do UOL
Indígenas amigos de Zezico informaram que o corpo, encontrado numa estrada que dá acesso à aldeia Zutiua, tem marcas de bala. O governo do Maranhão confirmou ter recebido a informação de que houve um homicídio, mas até o momento não tem como afirmar a causa da morte porque uma equipe da Polícia Civil foi enviada à região no começo da tarde. A Força Nacional, que atua em outra terra indígena guajajara, a Canabrava, foi acionada pelo governo estadual mas disse que não poderia atuar no caso porque o decreto do ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) assinado em novembro só mencionou a terra Canabrava, não a Arariboia. Assim, legalmente a FN estaria impedida de atuar a respeito da morte de Zezico.
A Funai recebeu informações de que houve um conflito em janeiro último. Zezico teria sido ameaçado de morte por outros indígenas da mesma região. Uma carta subscrita por Zezico e outros indígenas relatando as ameaças foi entregue à Coordenação Regional da Funai, em janeiro. Não ficou claro, na comunicação, o motivo das ameaças. O coordenador regional da Funai na região encaminhou a denúncia para outros setores do órgão, para “análise do pleito apresentado em caráter de urgência”.
A coluna teve acesso à carta. Nela, Zezico pede apoio da Funai para conseguir um veículo a fim de ir, com outros sete indígenas, à Polícia Federal de Imperatriz (MA) para o registro de um boletim de ocorrência. “No dia 15/01/2020, um grupo de indígenas da mesma aldeia foram até a residência do sr. liderança, Zezico Rodrigues Guajajara. Os quais foram armados para cometer crimes de homicídio contra a liderança. Na ocasião um deles sacou de uma faca para tentar esfaquear um dos líderes de jovens e um jovem que tentou defender o outro. Sendo que essas ameaças já vinham sendo anunciadas há dias pelos mesmos, contra o líder Zezico, como contra atuais lideranças, onde afirmam que enquanto não praticarem o assassinato não descansarão.”
A carta também informa possíveis ameaças contra uma servidora da Funai e um cacique guajajara.
O governo do Maranhão determinou as primeiras apurações sobre a morte de Zezico. “A Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) já acionou, através da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), a Força Tarefa de Proteção a Vida Indígena (FT-Vida). Novas informações serão divulgadas no durante o dia”, informou o governo estadual.
Segundo relatos de indígenas compartilhados em grupos de conversa de telefone, o corpo de Zezico foi achado por volta das 12h00 desta terça-feira (31) numa estrada que dá acesso à aldeia onde ele vivia, a Zutiua, no município de Arame (MA), onde vivem cerca de 1 mil indígenas.
De acordo com um amigo de Zezico e indigenista que tem um longo trabalho na terra indígena Arariboia, Carlos Travassos, o guajajara era uma importante liderança da região.
“É até difícil para mim falar sobre ele nesse momento. Conversamos ontem ao telefone. Sempre que eu ia para o Arame, procurava falar com ele. Ele era uma das grandes lideranças da Arariboia na região do Arame. Foi um cara que sempre apoiou o grupo do Guardiões da Floresta desde o começo. Nessa região toda ele tinha um papel muito importante, uma referência na região, era ouvido pela imprensa da região. Sei que ele era visto na região por muitos madeireiros como um ‘culpado’ na reação dos indígenas à atividade madeireira, mas não tenho como afirmar se estavam ocorrendo agora ameaças contra ele. Houve, sim, relato de ameaças no passado.”
Os Guardiões da Floresta são um grupo hoje estimado em 120 indígenas que fiscaliza e se opõe ao roubo de madeira dentro da Arariboia. Em novembro passado, um dos mais destacados “guardiões”, Paulo Paulino, foi morto com um tiro dentro da Arariboia. A investigação da Polícia Federal concluiu que ele foi baleado por um grupo de caçadores clandestinos na terra indígena. Na mesma ocasião também morreu, com um tiro, um dos caçadores – a PF concluiu que o tiro partiu dos próprios invasores, no meio da confusão. Outro guajajara, Laércio, saiu ferido com um tiro.
Em um vídeo gravado em 2016, Zezico aparece dizendo que há “exploração ilegal da terra e entrada desordenada da terra por fazendeiros, que estão acabando com os limites da terra indígena Arariboia”.