Como você sabe, e caso não saiba porque está chegando por aqui agora, esta coluna discute Moda e Sociedade e todos os temas que podem se relacionar com estes universos, com suas imbricações e que pautam as múltiplas diferenças das pessoas. Isso me interessa muito e tenho uma alegria gigante de encontrar potência, resistência e beleza na pluralidade. E, claro, de registrá-las aqui.
Em janeiro, estamos no Mês da Visibilidade Trans e quero usar este espaço para abordar algumas coisas sobre moda, sociedade e transgeneridade. Mas, antes, um pouco de contexto. O mês da visibilidade expande a data conhecida como o Dia da Visibilidade Trans, que é 29 de janeiro, criado para promover reflexões sobre a cidadania das pessoas travestis, transexuais (homens e mulheres trans) e não-binárias (que não se reconhecem nem como homens nem como mulheres).
Uma vez, conversando com uma mulher trans (e é até uma observação que a Preta Caminhão, uma mulher cis lésbica, já trouxe em outra coluna por aqui) em como a moda, sobretudo das lojas mais populares ou de departamento, não pensa em corpos que transicionam ou que não performam padrões. Por exemplo, roupas “femininas” que tenham costas mais largas, roupas “masculinas” sem um design legal, cores bacanas ou roupas “femininas” que não marcam partes do corpo. Ou mesmo um setor mais híbrido nas lojas, para que as pessoas encontrem peças sem demarcador de gênero.
As pessoas trans cada vez mais têm visibilidade e ganham lugares notórios de protagonismo, e é interessante observar como a moda, a escolha consciente de suas roupas, carregam mensagens, discursos e a potência que elas representam.
Um exemplo disso é a Erica Malunguinho, deputada estadual por São Paulo, e sua escolha por uma peça do estilista Isaac Silva no dia da cerimônia de diplomação. A imagem é emblemática. Sob olhares em sua maioria masculino, cis e branco, ela que também pariu em São Paulo o quilombo urbano Aparelha Luzia, carrega em seu corpo de mulher, trans e preta, um vestido da coleção Yabás, que faz referências às orixás femininas. O vestido tem também estampa da artista baiana Adriana Meira.
Foto poderosa da diplomação de Érica Malunguinho, a primeira mulher trans a ocupar a ALESP com seu mandato pelo PSOL que será um quilombo do povo negro no estado de SP. Ao fundo, a velha política olha sem entender muito bem. pic.twitter.com/OEcnhgEeyj? PSOL São Paulo/SP (@PSOLSampa) December 18, 2018
Confiram a potência desta imagem. É concreto, mas também subjetivo. É o agora, está em curso. Mas é também construção do imaginário para o futuro.
Outra referência estética pra mim é a cantora Majur e seus looks espetaculares, carregados de inspiração afroindígena. É potência na voz, no corpo, na imagem, tudo fortemente organizado e estrategicamente exposto nas escolhas de moda que faz.
Arrisco dizer que, desde Lea T, uma das modelos mais bem sucedidas de sua geração, tivemos, na moda, por exemplo, uma visibilidade importante de corporalidades trans e travesti nas passarelas. Jari Jones, e seu outdoor viral, é algo que me emocionou também. Pierre Davis, a diretora criativa da No Sesso, que foi destaque na última edição presencial da NY Fashion Week, em 2019.
No audiovisual, que traz muito de moda e sociedade também, temos toda a série “Pose”, da Netflix, que inclusive acaba de render o prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro para uma mulher trans, a MJ Rodriguez. Tem também Laverne Cox e uma carreira em ascenção, temos a maravilhosa “Euphoria”, da HBO Max, que aborda a vivência de uma jovem trans interpretada pela atriz Hunter Schafer. Muita coisa rolando.
Por aqui, é fato que conheço mais celebridades, modelos e mulheres trans que atuam na política. Que produzem moda, quero conhecer demais, inclusive para trazer aqui para a coluna e para meu conteúdo de outras formas. E isso me leva, “de dentro”, a pensar em mais coisas.
Como empresária de moda, há uma outra reflexão relevante (mas não só, precisa ser uma ação também), a importância da inclusão para além da “representatividade” da imagem. Sabe aquela coisa de “não só, mas também”? Pois sim, tudo importa.
A moda precisa ser transparente, plural e acessível, mas quando discutimos todas essas questões, sabemos que elas precisam ser também para as pessoas travestis e trans. Não estamos promovendo as ferramentas necessárias para que a moda também seja sobre, por e para elas.
E você? Conhece estilistas, produtoras de moda, empresárias e empreendedoras de moda trans? Compartilha comigo aqui nos comentários?