Nascido Pra Guerra: Panikinho entrevista Mano Robson

“Assim como “Emicida” uma das maiores referências atuais da nova safra do Hip Hop brasileiro, “Mano Robson” de forma independente se destaca pelas redes de internet, com o CD entitulado “Nascido Pra Guerra”, tráz a conhecimento público como sobrevive um jovem negro em Codó, interior Maranhense.”

 

por: Gildean Silva Panikinho – Pode Crê!

A Capa da Revista Pode Crê! é uma homenagem ao Projeto Rappers  e a Revista Pode Crê!
projetos desenvolvidos pelo Geledés Instituto da Mulher Negra de
1992 a 1998.

 

Já não é de hoje, que a cena do Hip Hop Paulista se surpreende com produções e personalidades expressivas, que vem de outros estados, principalmente das regiões norte e nordeste, São Paulo que é conhecido e divulgado mundo a fora, como o berço do Hip Hop brasileiro, nem sempre se lembra que, grande parte da população que compõe a grande massa periférica da maior e mais rica metrópole da América Latina, também é muito nordestina. O exemplo de guerreiros como Lamartine, Nando e o saudoso Preto Góes (Clã Nordestino), Zé Brown e Tigger (ex.

Faces do Subúrbio), e até mesmo “im memorian” do inesquecível Chico Science (ex. Nação Zumbi), que desbravaram com todas as dificuldades rumo à São Paulo, sem busca de realizar seus sonhos de transmitir suas idéias, seus posicionamentos, angústias e principalmente apresentar propostas de mudanças através do canal mais expressivo e reconhecido do Hip Hop, que é a poesia rimada do Rap, não fez com que o sonho morresse , o mesmo sonho de todos os retirantes na busca de oportunidades, de um lugar ao sol de tod@s. Assim como hoje já ouvimos rumores de que as melhores expressões do Rap nacional, encontra-se na região nordestina, assim como Rapadura (Ceará), Expressão Feminina e Da Baixada(Pará), Dj Erivam e Costa a Costa (Fortaleza), Afronto e A Irmandade(Piauí), novos desbravadores de sonhos começam a surgir, assim como Mano Robson, que nasceu no itaim, zona leste de Sampa até os 11 anos, mudou-se para Codó, interior do Maranhão, onde devido às situações de discriminação racial sofrida na pele, fundou o grupo “Tiroteio Verbal”, para através da poesia rimada, denunciar suas e expressar suas indignações, assim com a música “Do outro lado da Ponte” se destacou na pequena cidade de Codó (MA), até ser convidado a se mudar para Teresina (PI), para fazer um curso de montagem e manutenção de Pcs, onde se destaca na cena do Hip Hop Piauiense, que é mais forte, devido ser o único estado nordestino a ter uma “Casa do Hip Hop” fora de São Paulo.

 

Ao passar por Sampa com o seu CD embaixo do braço, e com sua história guerreira, Panikinho fez uma entrevista para saber um pouco mais sobre éssa trajetória que promete ser um ótimo referencial para a o movimento Hip Hop Nacional;

 

Panikinho Pode Crê! – Como começou o projeto do Cd “Nascido Pra Guerra”, fale das Letras e Produção?

 

Mano Robson – O CD começou a partir da inspiração na minha propria realidade, do que vejo, do que sinto, o O CD e as musicas são é uma dissertação auto biográfica do meu cotidiano, e consequentemente dos que estão à minha volta, que se parecem comigo, que sofrem da mesma dor. A produção foi feita por mim e pelo meu parceiro Petekão da Casa do Hip Hop no Piauí, um dos melhores produtores que temos lá.


Panikinho Pode Crê!– Quais são as dificuldades e as vantagens de se fazer Rap na região nordeste do país?

 

Mano Robson– As dificuldades são várias mano, que vão desde a falta de acesso à equipamentos, materiais para o aprimoramento do trabalho, até a falta de apoio por parte dos orgãos públicos ligado à incentivos culturais, que poderiam nos ajudar, mas pelo contrário sempre dificultam nossa caminhada,ja perdi até as contas de quantas vezes fomos convidados para representar o município em festivais e dentro e fora do Estado, e nunca conseguimos se quer o transporte, um obrigado, uma ajuda de custo, nem passagens para nos deslocar-mos de Codó pra São Luis, nada!

 

Panikinho Pode Crê!– Como é ser Negro em Codó? Fale sobre a questão racial nas letras de Rap ainda é necessário?

 

Mano Robson– Mano, ser negro numa sociedada racista ja é complicado, em Codó então, que ainda tem resquícios de tradições escravocratas, coronelismo, barões que cumprem papeis de novos senhores de engenho e uma polícia que cumpre papel de capitães do mato, eu sei de onde vim, sei da minha história e do meu povo, mais aqui em Codó a maioria não sabe. Eu e minha BAN-K, é quem somos aqueles que tentam atravéz do Rap, abrir os olhos do nosso povo, para não cairem nas armadilhas dos poderosos da cidade, que enriquessem à custas do trabalho escravo contemporaneo, entende!.

Panikinho Pode Crê!– Porque lançar o CD na Fundação Casa(ex Febém) da maior metrópole Brasileira?

 

Mano Robson – Então o CD “Nascido Guerra” ao mesmo tempo que narra como é morar no gueto, o lado esquecido pelas autoridades, onde os jovens não tem acesso à um minimo acesso aos servços públicos de qualidade, escola, hospital, emprego digno, também fala de auto estima, de não se render às dificuldades e perder a cabeça, mensagens positivas, e nada melhor do que éssa mensagem chegar à quem mais precisa primeiro, que são esses meninos que trocou a pipa pela tranca.


Panikinho Pode Crê!— Soubemos que você tem muito conhecimento em tecnologia alternativa, como Softwere livre, plataforma Linux, fale como o adiquiriu e da sua importância nos dias de hoje, com a questão da Educação e a Exclusão Digital?

 

Mano Robson– Hoje em dia ja não se fala mais tanto naquele analfabeto, que não sabe ler ou escrever, e sim , naqueles que não tem acesso à tecnologia, eu sou técnico especialista em software livre, desde 2006, devido ào aproveitamento que fiz de um projeto social chamado Centro de Referencia da Cultura Hip Hop, que numa parceiria com o Minc, levou cursos de Linux para a cidade de Teresina que é onde morei por 4 anos.

para a Educação é super importante os alunos terem acesso e se apropriar dessas ferramentas tecnológicas, Saber criar, ler , enviar um e-mail é o básico para quem quer se comunicar e eliminar fronteiras, e foi justamente éssa ferramenta que possibilitou que eu estivésse aqui hoje em São Paulo para lançar e divulçgar meu CD

 


Panikinho Pode Crê!–Quais são seus planos, e como vê o futuro do hip hop nacional?

 

 

Mano Robson– Meus planos são continuar a caminhada, ajudar a quem precisa ser ajudado, assim como não fiz nada sózinho também. eu vejo o futuro do Hip Hop mais maduro, independente e consciênte de sua responsabilidade, ja vejo frutos disso como o Rapper Emicida que ja conhecia o trabalho dele como Freestyle, na na net, mas fiquei impressionado com a apresentação dele no III Encontro Paulista de Hip Hop, onde demonstrou maturidade, atitude, muito profissionalismo e respeito ao publico, sem contar outros de outras modalidades do movimento, éssa nova geração ta chegando aos poucos, e se destacando na cena nacional, O Amazon B.Boy por exemplo que mescla movimentos da dança com tradições da cultuta indígena, Varios Djs e Graffiteiros que também vem evoluindo o Hip Hop nacional para outro nivel. Mais uma coisa que tem que ser dita também, é que não devemos ser apenas bons artistas, mas sim, bons militantes, para o nosso proprio bem e para o bem do Hip Hop.

 

Panikinho Pode Crê! – Como foi sua passagem por São Paulo, a recepção, as pessoas, o clima do movimento, entre outras coisas?

 

Mano Robson– Po cara! melhor seria impossivel, conheci vários mano e Minas que só tinha contato por fotos em revistas, internet , sites e-mails, fui muito bem recebido, vou levar uma boa impressão do que vi e vivenciei aqui, para o Maranhão e o Piauí, muitos esperam que os adéptos do Hip Hop sejam uma grande família no país,.nem sempre vemos éssa postura com todos, mas com certeza éssa articulação irá render frutos, para todos, como ja rendeu pra mim, e agora que éssa conexão esta feita, em breve muitos daqui de Sampa estarão lá também.

 

Panikinho Pode Crê! – Deixe uma mensagem para as novas gerações da musica negra contemporânea?

 

Mano Robson– então eu vou fazer o seguinte escrever uma mensagem em forma de ritimo e poesia, beleza!

 

“ACREDITE EM VOCÊ, NÃO DESISTA DA BATALHA

 

VIRE, EXEMPLO, PRUS MANO DA QUEBRADA

 

QUE TÃO SEMPRE ALI, MEIO SEM ENTENDER

 

JOGADOS NO MUNDÃO, COORDENADOS A SOFRER”

 

trecho de “No Vale de Ossos Part II” (Mano Robson)

 

 

Panikinho Pode Crê!

 

 

Bom, aí está a entrevista com mais um dos milhares de guerreiros da paz universal, Mano Robson estará por São Paulo até a primeira semana de dezembro, através do Projeto Arte na Casa da Ação Educativa estará fazendo o lançamento do CD “Nascido Pra Guerra” na Fundação Casa, no dia 4/12, juntamente com a participação de Eli Efi (ex DMN) que está em São Paulo para promover o a divulgação do Filme documentário “Estilo Hiop Hop” onde ele é um dos protagonistas principais e o Mc Canadense “Lou Piensa” do Grupo Nomadic Massive.

Deixo aí o seu contato para quem quizer estabelecer um link direto.

Paz!

 

Ouça o Cd ” Nascido Pra Guerra”

http://palcomp3.com/manorobson/

 

Robson Luis Moreira

MSN: [email protected]

 

mano-robson-cinescpio

 

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