Entidade se reinventa com a participação de jovens lideres. A noite será marcada por palestra de pesquisadora local sobre a trajetória do negro em Venâncio Aires
Por Cristiano Wildner Do Folha do Mate
Uma das entidades afrodescendentes mais tradicionais do Rio Grande do Sul chega aos 83 anos de fundação e acumula nesse meio tempo muito envolvimento na cena cultural e social de Venâncio Aires. A Sociedade Négo Foot Ball Club São Sebastião Mártir, que nasceu para abrigar a comunidade afrodescendente local, é hoje um simbolo de solidariedade e um marco na integração entre diferentes etnias.
Uma série de eventos foram programados entre junho e julho por conta do aniversário da entidade. Hoje ocorre palestra na sede da associação com a professora e pesquisadora Helen da Silva Silveira, 25 anos. O título de sua explanação, que inicia 19h30min, é ‘Eu négo que aqui só tenha branco: experiências de um clube negro na cidade de Venâncio Aires’.
Segundo Helen a entidade surgiu em um momento em que havia forte descriminação racial. A ideia, em 1935, era criar um clube para representantes da raça onde pudessem ter um espaço de lazer e entretenimento, mas também de valorização da cultura negra. O futebol foi uma espécie de ‘carro chefe’ do clube recreativo e cultural. ‘Négo teve como missão integrar os negros que na época eram proibidos de frequentar os mesmo eventos dos brancos’.
Na década de 1970 foi iniciada a construção da atual sede da entidade e que contou com grande participação da comunidade civil organizada do município. Ainda hoje a sede é considerada um dos maiores prédios afrodescendentes do Rio Grande do Sul.
Na pesquisa Helen percebeu na época de criação do Négo a maioria dos negros locais atuavam em serviços públicos. O fundador e primeiro presidente da entidade, João Generoso dos Santos, foi guarda municipal. ‘Naquela época o negro atuava em atividades sem grande visibilidade, em atividades secundárias’, destaca.
O trabalho de pesquisa sobre o Négo e sobre o negro na sociedade venâncio-airense também foi apresentado no II Seminário Internacional Histórias do Pós-Abolição, realizado neste ano no Rio de Janeiro. Helen integra ainda o Grupo de Estudo sobre Pós-Abolição (Gepa) da Universidade Federal de Santa Maria e pretende no próximo ano ingressar no mestrado em História, da mesma instituição.
Na atualidade o Négo é uma entidade que preserva a cultura dos afrodescentes, mas valoriza a diversidade étnico racial estando aberto a participação de toda a comunidade’.
UBIRAJARA PEREIRA, O BIRA
Presidente do Négo
IDENTIDADE VISUAL
Ao completar 83 anos, o Négo teve também renovado a sua identidade visual. O trabalho foi desenvolvido por estudantes de Design da Universidade do Vale do Taquari (Univates). Os alunos idealizadores são Matheus Ferreira da Luz, Rodrigo Ruchel, Fábio Costa, Gustavo Garcia e Lucas Pinheiro. Para criação da nova identidade os jovens se basearam na cultura e mosaicos africanos. A Além da nova tipografia foi acrescida a frase ‘diversidade cultural’.
ORIGEM DO NOME
A entidade foi fundada em 29 de junho de 1935 por João Generoso dos Santos. A grande motivação de João Generoso para a fundação do Négo foi a não aceitação dos negros nos eventos sociais da sociedade. Até a década de 1930 na maioria das atividades de lazer do município como bailes, jogos recreativos e de futebol, onde havia maior participação das pessoas da comunidade era proibida a participação de negros.
A denominação ‘Négo’ apresenta duas versões, mas a mais aceita está relaciona ao primeiro negro a jogar no único clube de futebol do município, de elite branca. Atalibas Rodrigues quando atuou de goleiro levou um gol e sofreu ofensas racistas até mesmo de seus companheiros de equipe. ‘ Negro de sangue nas veias’, tirou a camisa retirando-se do campo e disse: ‘ Eu me nego a jogar em um time de racistas. ‘Os afrodescendentes que acompanhavam o jogo se retiraram todos junto com ele.