por: Nilza Iraci – Presidenta do Geledés Instituto da Mulher Negra
“A lição sabemos de cor,
só nos resta aprender…”
Sol de Primavera – Beto Guedes e Ronaldo Bastos
As Conferências nacionais tem se constituído em espaços de discussão entre poder público e sociedade civil, e tem sido marcadas por intensos debates sobre a implementação de políticas públicas no país. É uma espécie de arena de disputas político-ideológicas, de sentidos, de busca de convergências. Tem sido assim desde 1941, quando foi realizada a 1ª Conferência Nacional de Saúde, no Rio de Janeiro e já mobilizaram milhões de pessoas.
Mais do que as Conferências, ou evento, o mais importante são seus processos de mobilização, que tem possibilitado a articulação da sociedade civil em torno de determinados temas, alguns considerados periféricos, e que tem sido refletidos pelo conjunto dos movimentos sociais. Como o racismo e o sexismo, por exemplo.
Não tem sido diferente em relação à 1ª Conferência Nacional de Comunicação, que tem cumprido um papel fundamental de trazer para o cenário nacional a reflexão de que Comunicação é muito mais que a disputa por espaços na mídia. O próprio tema Central: Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital, e seus três eixos temáticos Produção de Conteúdo, Meios de Distribuição eCidadania: Direitos e Deveres já apontam para isso.
O processo preparatório da Confecom tem demonstrado que a sociedade civil enfrenta um enorme desafio, que ultrapassa discursos e palavras de ordem. Que, em última instância, deveria ser qualificação já! – e não necessariamente especialização – para que o lema “Da Comunicação que temos à Comunicação que queremos” se torne mais que retórica.
Isso significa aprofundar nossos conhecimentos sobre tudo aquilo que envolve a democratização da comunicação, como a concentração dos meios de comunicação nas mãos de grandes corporações impedem uma sociedade livre e verdadeiramente democrática; sobre os princípios da produção e programação das emissoras de rádio e TV, sobre legislação, o direito de antena, enfim como exercer o controle e fiscalização sobre as instâncias públicas e privadas.
Entender que para além das mídias tradicionais, convivemos hoje com novos modelos de mídias alternativas e digitais capazes de construir modelos contra-hegemônicos de comunicação, e que para isso temos que levar em conta que o acesso a essas novas tecnologias tem que ser discutidas à luz da exclusão de gênero, raça, etnia, regionalização.
O processo de construção da Confecom tem sido marcado por problemas de ordem política e ideológica, em especial por parte dos governos – municipais, estaduais e federal e pela agressiva ação do setor empresarial, preocupadíssimo com o fantasma do controle público, colocando para a sociedade civil a tarefa de superar uma verdadeira corrida de obstáculos. Mas já temos indícios de que podemos transformar esse cenário e vencer as barreiras e a Conferência Paulista de Comunicação é um forte indicativo de como podemos avançar, mesmo diante das adversidades.
Realizada nos dias 20, 21 e 22 de novembro, a Conferência Paulista de Comunicação reuniu centenas de pessoas da sociedade civil, empresários e governo, entre especialistas ou não na área. Estiveram lá representantes de movimentos defendendo que o direito à comunicação é um direito fundamental, como o direito à saúde, educação, moradia, segurança, e que na maioria das vezes, tem sido também responsável pelas assimetrias de gênero, raça, classe, orientação sexual na sociedade.
As organizações do movimento social de São Paulo deram uma demonstração de como é possível o exercício da democracia com maturidade e responsabilidade, fatos que já vem marcando todo o processo de construção da Confecom em suas etapas estaduais e municipais.
E também ousou. Ao aprovar por aclamação (incluindo voto do setor empresarial) que a Conferência fosse dedicada ao líder negro Zumbi dos Palmares; ao aprovar moções chamando a atenção sobre como o aborto está sendo tratado em folhetim televisivo, denunciando cenas de racismo explícito em novela, e elegeu uma delegação plural e representativa (veja abaixo). Um exemplo marcante dessa pluralidade fica por conta da Marcha Mundial de Mulheres que explicita seu compromisso com a diversidade ao indicar, para sua única vaga na delegação, uma jovem ativista negra.
Tudo isso merece uma comemoração, sem esquecer, entretanto que ainda há uma grande batalha pela frente, mas os movimentos sociais organizados demonstraram que podem juntos, ensinar democracia e solidariedade. Agora é manter o espírito até a Confecom nacional.
A Conferência Paulista elegeu 84 delegados da Sociedade Civil, 84 da Sociedade Civil Empresarial e 21 do Poder Público
Confira a lista de integrantes da delegação eleita pela sociedade civil paulista para a etapa nacional da Confecom.
Nome | Segmento/Entidade | Cidade |
Agildo Nogueira Junior | Campinas | Campinas |
Altamiro Borges | Portal Vermelho | São Paulo |
Beatriz Costa Barbosa | Intervozes | São Paulo |
Bernarda Perez | Movimento de moradia | São Paulo |
Caio Rubens de Campos Zinet | Enecos | Santo André |
Ckristiani Albuquerque Costa | Abraço | Campinas |
Cristiane Alves da Silva | Osasco | Osasco |
Daniela de Melo Custodio | Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns | São Paulo |
Débora Gonçalves | Força Sindical | São Paulo |
Diogo Moyses Rodrigues | IDEC | São Paulo |
Edson Amaral | Sindicato dos Radialistas | São Paulo |
Eduardo Guimarães | Blog da Cidadania | São Paulo |
Edvaldo Antonio de Almeida | Vale Paraíba | São José dos Campos |
Ernesto Shuji Izumi | CUT | São Paulo |
Fabiana Caramez | Sorocaba | Sorocaba |
Iracema Schoeps | Grande ABC | Diadema |
Ivete Cardoso do Carmo Roldão | Campinas | Campinas |
Jacira Melo | Instituto Patrícia Galvão | São Paulo |
Jaqueline Silva Lima | Viração | São Paulo |
Jerry Alexandre de Oliveira | Abraço | Campinas |
João Caldeira Brant Monteiro de Castro | Intervozes | São Paulo |
João Xavier | Campinas | Campinas |
José Antonio de Jesus da Silva | Fitert | São Paulo |
José Augusto de Oliveira Camargo | Sindicato dos Jornalistas | São Paulo |
José Carlos da Silva Brito | CNAB | São Paulo |
José Eduardo Souza | Abraço | São Paulo |
José Luiz Vieira Müller | Campinas | Campinas |
Juliana Borges da Silva | UEE | São Paulo |
Juliane Cintra de Oliveira | Marcha Mundial das Mulheres | São Paulo |
Kleiton Ramos da Silva | Alto Tietê | Suzano |
Leandro Frenham Chemalle | Movimento Software Livre | São Paulo |
Leandro Luiz Catalano | Araraquara/São Carlos | São Carlos |
Leonardo Carvalho Cordeiro | Crianças e adolescentes | São Paulo |
Leonardo de Oliveira Bueno | Grande ABC | Santo André |
Lidia Correa da Silva | CMB | São Paulo |
Lilian C. R. Romão | Viração | São Paulo |
Lilian Mary Parise | CUT | Campinas |
Luana Meneguelli Bonone | UNE | São Paulo |
Lúcia de Fátima Rodrigues Gonçalves | Sindicato é pra Lutar | São Paulo |
Luciana Gomes de Araújo | Revista Debate Socialista | São Paulo |
Luiz Marcos Ferreira Junior | Bauru/Marília | Bauru |
Madalena Maria Rodrigues | Guarulhos | Guarulhos |
Marccella Lopes Berte | Meio ambiente | São Paulo |
Márcia Regina Nestardo | União Brasileira de Mulheres | São Paulo |
Márcia Regina Quintanilha | Sindicato dos Jornalistas | Campinas |
Marco Antonio Ribeiro | Sindicato dos Radialistas | São Paulo |
Marcos Milanez Rodrigues | Sintetel | São Paulo |
Maria de Fátima Nassif | CRP-SP | São Paulo |
Maria de Lourdes Alves Rodrigues | Liga Brasileira de Lésbicas | Jundiaí |
Maria de Lourdes Silva | Bauru/Marília | Pompéia |
Maria Fernanda Bombonatti Portolani | Baixada Santista | Santos |
Mariana Felippe de Oliveira | Baixada Santista | Santos |
Mariana Meriqui Rodrigues | Liga Brasileira de Lésbicas | São Paulo |
Marina Giancoli Cardoso Pita | Intersindical | São Paulo |
Marli José da Silva Barbosa (Iyá Ekedji Ogunlade) | CENARAB | Praia Grande |
Mateus Zimmernann | Música pra Baixar | São Paulo |
Mila Freitas Lourenço Sanches Molina | Artigo 19 | São Paulo |
Miriam Leirias | CUT | São Paulo |
Mirta Maria Gonzaga Fernandes | Associação Cidadania e Saúde | São Paulo |
Muna Zeyn | Movimento de Mulheres | São Paulo |
Neusa Maria de Melo | Sindicato dos Jornalistas | São José dos Campos |
Nilza Iraci | Geledés | São Paulo |
Paulo de Tarso Gracia | Confederação Nacional dos Trabalhadores Químicos | São Paulo |
Pedro dos Santos Ekman Simões | Intervozes | São Paulo |
Pedro Estevam da Rocha Pomar | Sindicato é pra Lutar | São Paulo |
Rachel Moreno | Campanha pela Ética na TV | São Paulo |
Raquel H. Quintino de Oliveira | Grande ABC | Santo André |
Renata Vicentini Mielli | Portal Vermelho | Itapevi |
Rita de Cássia Braga Ronchetti | Articulação Mulher e Mídia | São Paulo |
Rita de Cássia Freire Rosa | Ciranda da Informação Independente | São Paulo |
Ronaldo Werneck Gonçalves | Araçatuba | Araçatuba |
Rosa de Lourdes Azevedo dos Santos | Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos | São Paulo |
Rosangela Malachias | CEERT | São Paulo |
Rute Hernandes Rosa Ramos da Silva | Baixada Santista | Santos |
Sandra Maria Mariano da Silva | CONEN | São Paulo |
Sérgio Ipoldo Guimarães | Sindicato dos Radialistas | São Paulo |
Sueli Ferreira Schiavo | CRP-SP | Santo André |
Tamara Amoroso Gonçalves | Instituto Alana | São Paulo |
Tarcísio Geraldo Faria | Cedisp | São Paulo |
Terezinha de Jesus Vicente Ferreira | Articulação Mulher e Mídia | São Paulo |
Ubiraci Dantas de Oliveira | CGTB | São Paulo |
Valério Freire Paiva | Enecos | São Paulo |
Vanessa Silva | Apijor | São Paulo |
Vera Lúcia Lemos Soares | Observatório da Mulher | São Paulo |
Total: 84 | ||
Total de mulheres: 51 | 60,70% | |
Total do interior: 29 | 34,50% |