O negro que se tornou o primeiro caso na Justiça de racismo no Brasil

Em 1955, Fernando foi expulso na escola de elite onde foi colocado pela patroa da mãe

Por MARÍA MARTÍN, do El Pais 

Esta não é a primeira vez que Fernando Dias, de 63 anos, aparece num jornal. Em 1955, com pouco mais de três anos, ele ocupou as páginas dos diários cariocas durante meses. Sua história foi batizada como “o caso do menino preto” e foi, segundo os cronistas, a primeira vez que o Judiciário brasileiro enfrentava um caso de racismo.Fernandinho, bisneto de escravos e filho de uma empregada e um mordomo de Petrópolis, foi matriculado na então mais nova escola de elite em Copacabana, a The Happy School. Com doutrina canadense, o jardim de infância matriculou rapidamente sobrenomes reluzentes como Van Lammeren, Malcon Morris, Von Bertrand… A maioria de diplomatas que, em seguida, demonstraram seu desconforto ao ver seus filhos brincando com um negro.

O único nobre que aquele menino tinha era a patroa da sua mãe, Devanaguy Lakmy Silva, uma refinada filha de militar, que o apadrinhou, pagou seus estudos, e o tornou herdeiro de todos seus bens desde que nasceu. “Ela era humanista e progressista, mas foi uma postura polêmica em uma cidade escravocrata e racista”, lembra ele hoje. Os diretores da The Happy School, que aliás se passaram por canadenses mas eram brasileiros, expulsaram Fernandinho da escola em um piscar de olhos e o escândalo explodiu. “O povo brasileiro é profundamente hostil ao preconceito racial”, “ficou claro que a medida racista foi insuflada por gente que herdou de Hitler o ódio pelos povos inferiores”, diziam algumas reportagens da época. Fernandinho ganhou o caso e os falsos canadenses foram condenados simbolicamente a um ano de prisão graças a lei Afonso Arinos, a primeira lei antirracismo do Brasil.

 

Continue lendo aqui 

+ sobre o tema

Número de negros em universidades particulares cresce 264%

Dez anos após a implantação das primeiras leis de...

Senado aprova prorrogação e ampliação da política de cotas para concursos públicos

O Senado aprovou, nesta quarta-feira (22), o projeto de...

Precisamos ser mais rápidos que o racismo ao educar nossos filhos

Você sabia que estudos mostram que crianças começam a...

para lembrar

O carnaval vai esconder a Salvador de verdade

Salvador se prepara para sediar aquele que é chamado...

Marchas e protestos contra o racismo levam norte-americanos às ruas

Milhares de norte-americanos foram às ruas na noite de...

Uma nota sobre a arte de arranhar a vida entre os dentes

“A noite está tépida. O céu já está salpicado...

Sob Bolsonaro, o genocídio negro por bala e fome ganhou a câmara de gás

Genivaldo de Jesus Santos, negro, 38 anos, desarmado, que...
spot_imgspot_img

Cena do cotidiano

Não há credencial, talento, fama, reconhecimento ou fortuna capazes de blindar uma pessoa negra contra o racismo e o preconceito étnico-racial no Brasil. Há alguns dias,...

Geledés repudia caso de racismo contra Vera Lúcia, ministra do TSE  

A ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Vera Lúcia Santana Araújo, sofreu um episódio de racismo no dia 16 de maio. A magistrada foi...

Ministra do TSE relata humilhação e racismo em evento do governo: ‘Vou ajuizar tudo, indignidade’

A ministra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Vera Lúcia Santana diz se sentir humilhada e promete entrar na Justiça após denunciar episódio de racismo em evento do governo...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.