Os inaposentáveis: o limbo da Previdência brasileira

15% dos trabalhadores com mais de 60 anos não conseguem contribuir o suficiente para se aposentar, e tampouco cumprem requisitos para ganhar o benefício social para os mais pobres. 66% são mulheres

Por Heloísa Mendonça, Do El País 

Nailda Mendes de Moraes Silva - mulher idosa branca, com uma caneca de porcelana branca na mão, vestindo camiseta vermelha e um casaco azul- em pé na frete de uma casa simples
Aos 66 anos, Nailda Mendes de Moraes Silva não sabe se algum dia conseguirá se aposentar. (Foto: Fernando Cavalcante)

Aos 66 anos, Nailda Mendes de Moraes Silva não sabe se algum dia conseguirá se aposentar ainda que tenha trabalhado tempo suficiente. Começou cedo, aos 7 anos, na roça em Pernambuco. “Era trabalho duro, puxado. Fiquei lá até os 22 anos, mas hoje não conta para aposentadoria”, diz. Se mudou então para São Paulo em busca de melhores oportunidades. Sem estudos —“Meu pai dizia que tinha que trabalhar”—, fez de tudo: limpeza, costura, serviços gerais. Nem sempre na formalidade, e nem sempre com as empresas cumprindo com sua parte do acordo e recolhendo o INSS. Conseguiu contribuir 111 meses, dos 180 (15 anos) necessários para se aposentar após os 60 anos. Hoje, com problemas de saúde, já não procura mais emprego.

Para se aposentar sem ser por tempo de contribuição, a saída seria conseguir o benefício que garante um salário mínimo mensal, atualmente 998 reais, para pessoas com deficiência ou idosos com 65 anos ou mais, que não possuem meios de prover seu próprio sustento nem ajuda familiar, o chamado BPC (Benefício de Prestação Continuada), previsto na Lei Orgânica da Assistência Social. “Não consegui o benefício porque meu marido é aposentado e ganha um salário mínimo”, conta. Para ser elegível ao benefício, Nailda Silva deveria ter uma renda de aproximadamente 250 reais, ou um quarto do salário mínimo. “Eles alegam que dá para duas pessoas viverem com um salário mínimo”, lamenta.

Em um país com alto grau de informalidade —40,8% de toda a população ocupada trabalhava sem carteira assinada  em 2017— não são poucos os brasileiros que assim como Nailda Silva não conseguem receber uma proteção previdenciária e tampouco assistencial. Em 2017, 15% dos idosos do país estavam desprotegidos, segundo a Secretaria de Previdência.

Leia a Matéria completa em El País 

Leia também:

Entenda como fica o FGTS do aposentado com a Reforma da Previdência Social

Reforma muda leis sem relação com Previdência, corta PIS e remédios do SUS

A reforma da Previdência e o Brasil que queremos por Maria Alice Setubal

 

 

+ sobre o tema

É bem-vinda, e algo tardia, a preocupação de Lula com a inflação dos alimentos

Convém a Luiz Inácio Lula da Silva lembrar que foi levado,...

Trump suspende participação dos EUA no Conselho de Direitos Humanos da ONU

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta...

Fim do trabalho escravo exige novas políticas, dizem especialistas

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) admite que...

para lembrar

A cara do brasileiro

De onde vem nosso jeitinho, nosso modo de falar,...

Celso Amorim estuda retirar tropas brasileiras do Haiti

O ministro da Defesa, Celso Amorim, pensa em...

“A fábula africana do macaco e do peixe”, narrada por Mia Couto

Mia Couto, escritor moçambicano conhecido em todo o mundo...

Lula recebe Prêmio de Direitos Humanos George Meany-Lane Kirkland 2019

Honraria é oferecida pelas centrais sindicais dos Estados Unidos...

Políticas antidiversidade nos EUA reacendem o alerta no Brasil

Não é mais ameaça ou especulação do campo progressista, agora é realidade. Os efeitos imediatos atingem o radicalismo máximo da extrema direita naquele que...

Protesto contra a extrema direita leva 160 mil às ruas de Berlim

"Nein, Friedrich", dizia de forma direta o cartaz. Em um fim de semana de protestos na Alemanha, o alvo preferido dos manifestantes foi Friedrich Merz, o...

Milhares protestam a favor da diversidade na Argentina

Milhares de pessoas se manifestaram neste sábado em Buenos Aires, na Argentina, em defesa da diversidade e contra o presidente Javier Milei, economista e líder da ultradireita...
-+=