Bloco passa por momento complicado, com dívidas que chegam a R$ 600 mil; Petrobras deve cerca de R$ 400 mil ao Ilê
Vovô criticou falta de apoio ao bloco
Foto: Carol Garcia/Secom
A situação não está nada fácil para o Ilê Aiyê. Na 38ª Noite da Beleza Negra, que aconteceu neste sábado (4), o fundador e presidente do bloco, Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, se pronunciou sobre o momento que a instituição passa. Na ocasião, ele criticou as grandes empresas, que não apoiam o bloco. “Não existe crise de agora. [Pro povo negro] Ela existe há 500 anos, quando o primeiro negro escravizado pisou no Brasil”, afirmou.
Segundo Vovô, para branco sempre tem espaço. “Cadê as grandes cervejarias, aqui?”, questionou ele, à repórter do CORREIO. “Nós também somos ótimos consumidores. Para branco sempre tem espaço. Por quê não para a gente? Por quê só Nego do Borel e Karol Conka, artistas que são do Sul, têm espaço?”, indagou.
“As pessoas estavam me recomendando que não falasse sobre isso, mas não posso deixar de falar. O Ilê está cheio de problemas. A Petrobras está nos devendo. Eu não estou na Lava Jato. O Ilê não está na Lava Jato. O dinheiro sai pelas tubulações. Não é só problema do Ilê Aiyê. É problema dos projetos sociais que eles estão querendo justificar”, afirmou ele sobre as dívidas do bloco, que chegam a R$ 600 mil. Só a Petrobras deve cerca de R$ 400 mil ao Ilê. Esta prevista para esta segunda-feira (06) uma reunião do Ilê com a estatal.
Em nota enviada ao CORREIO, no final da tarde deste domingo (05), a Petrobras informou que não deve ao bloco. “A Petrobras esclarece que o patrocínio ação projeto Ilê Ayê Construindo o futuro – vigente de 23 de dezembro de 2013 até 22 de dezembro de 2015, sem prorrogação de prazo – tem um saldo contratual correspondente a 20% do valor total, que só poderia ser pago após o cumprimento integral do que foi previsto em contrato. Ao longo dos procedimentos de fiscalização , foi verificado que as ações previstas no plano de trabalho, referentes a realização de duas oficinas profissionalizantes em Estética Afro, não foram integralmente executadas. A instituição também não alcançou a meta de participantes previstos por ela no plano de trabalho, onerando o custo per capita do projeto. Dessa forma, não foi possível a liberação dos recursos restantes. A Petrobras deu conhecimento à instituição de todas as pendências , e as soluções cabíveis serão adotadas conforme procedimento previsto no instrumento contratual, em conformidade com as normas e padrões da Companhia”, afirmou a Petrobras.
Sobre a operação Lava Jato, citada por Vovô, a estatal disse que está colaborando com a Justiça. “As autoridades públicas que conduzem as investigações da Operação Lava Jato e o Supremo Tribunal Federal reconhecem que a Petrobras é vítima de todos os fatos revelados por esta investigação. Como resultado, a companhia já recebeu cerca de R$ 660 milhões recuperados pelas autoridades brasileiras, provenientes de empresas e indivíduos envolvidos em práticas criminosas que prejudicaram a Petrobras. O valor recuperado pode chegar a R$ 5,5 bilhões, considerando as ações de improbidade administrativa em andamento, nas quais a Petrobras atua como coautora do MPF e da União. A Petrobras segue colaborando com as autoridades e buscará o ressarcimento de todos os prejuízos causados em função dos atos ilícitos cometidos contra a companhia”, afirmou em nota enviada ao CORREIO.
Festa
A festa de ontem, inclusive, ocorreu graças ao trabalho voluntário, inclusive de artistas como Daniela Mercury, que não cobrou cachê. Elísio Lopes Jr., que dirigiu a cerimônia, também não foi remunerado. “Eu só tenho a agradecer a nossa teimosia. A teimosia da minha diretoria. Agradecer a esse povo que faz o Ilê que você não vê. São as costureiras, o pessoal que cuida da sede. A toda equipe que se prontificou a acompanhar essa maluquice. A Denise (Correia), a Daniela (Mercury)…”, agradeceu Vovô. “Isso quer dizer que é possível. Nós também podemos”, completou.
Vovô criticou ainda a distribuição de cortesias para a festa. “Nós somos maioria nessa terra, pessoal. Nós somos nossos patrocinadores. A casa está cheia, mas ainda tem muita cortesia. As pessoas tem que parar com esse negócio de cortesia. Somos negros, todo mundo ama o Ilê Aiyê, é muito bonito o trabalho social, fazer filantropia, mas tem que ter dinheiro”, declarou.
A atriz e apresentadora Regina Casé, que marcou presença no evento, ressaltou que não só as empresas, mas todo mundo deveria apoiar os blocos afro. “Sem eles não teria esse batuque, esse ritmo. Eles foram precursores de muita coisa”.