Paraibano vitima de racismo por chefe no ‘Correio da Paraíba’ ganha prêmio em São Paulo

O jornalista Daniel Motta, vítima do crime de racismo há um ano, humilhado que foi pelo superior hierárquico na sucursal do jornal Correio da Paraíba em Campina Grande, Arquimedes de Castro, depois de ter postado fotos em um hotel na praia de Pipa-RN gozando seu período regular de férias da empresa, é um dos vencedores do “Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo 2015”, na categoria Televisão, da Rede Record, em São Paulo.

Do Apalavra online

Daniel superou o preconceito e é vencedor em São Paulo

Paraibano de Juazeirinho, Daniel depois do episódio lamentável pediu demissão do jornal paraibano e mudou-se para São Paulo, onde hoje é produtor da TV Record. Lá, produziu com Luís Gustavo Rocha “O Mistério do Matador de Mulheres”, contando a história de um serial killer de Goiás, reportagem exibida no dia 08 de setembro de 2014 no programa Repórter Record Investigação.

Daniel produziu o material de São Paulo, Luís Gustavo Rocha o de Goiás, Lucas Wilches editou o texto e Oloares Ferreira concluiu a reportagem.

Os ganhadores ficaram sabendo da escolha nesta segunda-feira (16) e a entrega da premiação será no dia 14 de abril, no Rio de Janeiro.

O Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo nasceu em 2004 e acontece anualmente. O objetivo é fomentar, no meio jornalístico, a produção de matérias de cunho investigativo, onde o tema seja iniciativa do jornalista, e não do editor ou veículo.

O Prêmio Tim Lopes se comunica com jornalistas e editores de veículos de comunicação que, com seu trabalho e ação, contribuem para melhorar a segurança pública, seja no âmbito da violência urbana, dos crimes ambientais ou contra os direitos humanos.

11081293_10204988510344985_6084279492662176434_n

As fotos em Pipa que revoltaram Arquimedes de Castro

O Prêmio, que orgulha não somente Daniel, mas todos os profissionais de jornalismo da Paraíba, é uma prova real do esforço de superação própria de Daniel Motta.

RELEMBRANDO O CASO

Daniel gozava férias e foi descansar na praia de Pipa, litoral norte riograndense onde em tese somente ricos desfrutam das suas belezas. Descontraído e feliz, postou algumas fotos no Facebook, compartilhando o momento com os amigos.

Foi o bastante para que seu chefe em Campina Grande, Arquimedes de Castro, logo postasse um comentário preconceituoso que provocou revolta em todo o círculo amigo do repórter.

“Depois da Lei Áurea, tudo é possível”, grafou Arquimedes em alusão ao ato da Princesa Isabel que acabou com a escravidão negra no Brasil.

Ao retornar a Campina Grande depois do descanso, Daniel postou no Facebook as suas impressões, repudiando a declaração de Arquimedes.

“Acabo de chegar de Pipa, o paraíso ao qual me reservei durante o fim de semana. Juntei dinheiro o ano todo para usufruir das minhas tão esperadas férias. Foi o máximo”, avisou.

E continuou assim o relato:

“Me diverti muito. Me dei ao luxo de desligar celular, evitei ficar muito tempo acessando facebook ou qualquer outra rede social, afinal queria aproveitar cada instante daquele lugar com intensidade. Foi mágico. As primeiras fotos que meu amigo Marcos fez de mim, eu decidi postar na minha página. Depois, resolvi não mais acessar . Fui passear de catamarã, ver os golfinhos, a maré… Foi muito bom. Revitalizei! Em um determinado momento, quando estava almoçando com amigos, recebi uma mensagem via whatsapp para que observasse comentários no facebook, em uma das minhas fotos. A princípio, não quis perder meu tempo com isso e só abri o face a noite, quando parei para refletir sobre a referida postagem de um colega jornalista, ao qual nunca desrespeitei. No começo reagi normalmente e encarei como uma brincadeira. De mau gosto, claro, mas uma brincadeira.

Foi assim que eu vi. Resolvi que não me manifestaria sobre o assunto, porque inocentemente, achei tudo aquilo irrelevante. Mas, ao chegar em Campina Grande, fui bombardeado com um monte de informações. Amigos e pessoas que nunca vi, revoltados com a tal postagem ‘racista’. O que era irrelevante passou a ser visto por mim como indignação ao saber que além de tudo, estou sendo acusado de ter provocado a situação. Alegaram que eu estou querendo mídia. Mas como? Eu não ofendi ninguém. Eu não falei de ninguém. Eu estava curtindo minhas férias, de direito e sem tempo pra picuinhas. Jamais teria coragem de criar uma situação constrangedora como essa, para ‘aparecer’. Não sou desse tipo. Não busco aparecer em cima dos outros, como é o costume de ‘alguns’ jornalistas. Nunca precisei disso. Procuro fazer meu trabalho o melhor possível, porque é dele que retiro meu sustento. Meus pais, pobres agricultores analfabetos, não me ensinaram essas coisas não. Respeito ao próximo sempre foi o maior ensinamento que eles me deram. Ter força e coragem para lutar e conseguir o que almejo, também. Nunca precisei de ‘pistolão’ e apadrinhamentos para conseguir alguma coisa. Nunca fiz contendas e dei pressão em quem quer que seja, para ter algo. Sempre procurei ser honesto em tudo que faço. Mas enfim, o que mais me magoa não é saber que fui vítima de racismo. Mas de saber que estou sendo acusado de me aproveitar do trágico, para ter ‘mídia’. Agradeço a todos os amigos, colegas de profissão e das pessoas que não conheço, que se indignaram com o fato. Paz e bem”.

SOLIDARIEDADE

Imediatamente, vários internautas reagiram à provocação, inclusive o presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, Rafael Freire, que postou a seguinte nota, também no Facebook:

“Depois da Lei Áurea, tudo é possível”.

Quem disse isso? O jornalista Arquimedes de Castro, recém-contratado diretor de Jornalismo da rádio 98 FM de Campina Grande. Ele é também apresentador do programa Balanço Geral e escreve a coluna Informe Político no jornal Correio da Paraíba, onde defendeu o radialista Fabiano Gomes no episódio da semana retrasada.

Arquimedes escreveu esse comentário numa foto do também jornalista Daniel Motta, repórter da sucursal do Correio da Paraíba de Campina Grande.

Daniel, que é negro, postou fotos de suas férias na praia de Pipa (RN) em seu perfil do Facebook, sendo alvo do ataque racista e repugnante de Arquimedes.

Informo que Daniel está indignado com o comentário e que o SindJornalistas PB vai atuar sobre este caso de racismo envolvendo os dois jornalistas.

Informo também que, durante a entrega do Prêmio AETC, Beatriz Ribeiro, dona do Sistema Correio, pediu-me desculpas pelos ataques de Fabiano a mim e disse que gostaria de conversar comigo com calma. Acho que agora essa conversa é mais do que necessária…

Nossa total solidariedade ao companheiro Daniel Motta, que é um jornalista ético e comprometido com a profissão, seja em seu exercício ou fora dele!

Compartilhem esta denúncia e a cara desse racista!

+ sobre o tema

Vidas e lutas na diáspora africana nas Américas

enviado por, Amauri Mendes Pereira* “Será que permiti à luta...

Meia-volta, morrer

Como decidir a morte de alguém? Um idoso que...

Um passo à frente, dois atrás

Será que alguém que não sabe o que é...

Equiparação salarial é realidade na justiça brasileira?

Ainda que a Consolidação das Leis Trabalhistas (artigo 461)...

para lembrar

Quando a Globo luta contra o racismo. Já que estamos falando em Oscar

Estava pensando em como estamos sendo engabelados. Caminhamos igual...

Mãe denuncia ameaças de morte e racismo contra filha de 12 anos em escola: ‘Macaca’

Menina chegou a receber carta com xingamentos e ofensas....

Crise tem cor e gênero

Negros e mulheres enfrentam as maiores taxas de desemprego Por...

Consciência branca

Como boa parte da classe média branca brasileira, cresci...
spot_imgspot_img

Cinco mulheres quilombolas foram mortas desde caso Mãe Bernadete, diz pesquisa

Cinco mulheres quilombolas foram mortas no Brasil desde o assassinato de Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, em agosto do ano passado. Ela era uma das...

Independência forjou nação, mas Brasil mantém lugares sociais de quem manda

Em pleno dia em que celebramos a independência do Brasil, vale questionarmos: quem somos enquanto nação? A quem cabe algum direito de fazer do...

Os outros

O que caracteriza um movimento identitário é a negação de princípios universais somada à afirmação de um grupo de identidade como essencialmente diferente dos "outros" e...
-+=