Por que ainda não podemos vivenciar plenamente a autonomia sobre os nossos corpos?

“Em uma publicação do Facebook, a jovem de 24 anos, narra momentos de terror sofrido por ela na madrugada de sexta-feira (1º/1), após a virada do ano. Segundo o relato, ela estava no evento The Box – Reveião, que ocorreu no Setor de Clubes Norte, quando foi coagida por um segurança, que a levou para um estacionamento e a estuprou.

Por Ana Paula Meirelles Lewin Do Brasil Post

“Era mais de meia-noite, eu estava dançando com um amigo perto da entrada quando fui abordada por um dos seguranças, que me coagiu a sair da festa, eu realmente não entendi o motivo e mesmo alcoolizada só atendi por ser uma figura de autoridade do local. Havia uma área de terra onde alguns carros estavam estacionados entre o cerrado. Eu estava completamente vulnerável, com muito medo. Um dos carros estava estacionado de ré para o cerrado, então atrás do carro só havia vegetação. Ele me virou de costas e sem a menor cerimônia me estuprou”, conta”.

(Correio Brasiliense)

“A vítima disse que foi estuprada por mais de uma hora e que o rapaz que estava com ela fugiu. Por enquanto, a polícia não vê relação entre o caso da jovem de 18 anos e a de 16 anos, que foi ao local encontrar uma amiga. A polícia busca imagens e testemunhas que possam ajudar a identificar os criminosos. Já era noite quando as jovens foram atacadas”.

(G1)

“Policiais do Bope divulgaram vídeo mostrando o rosto da moradora da Rocinha que acusa os soldados de estupro. As imagens foram exibidas nos telejornais com efeitos que escondem seu rosto. Entretanto, o material que foi para a internet não preserva sua identidade. A atitude demonstra o desprezo que os policiais nutrem pela vítima, na avaliação do líder comunitário da Rocinha, William de Oliveira, já que por questões éticas e humanitárias, imagens de vítimas de estupro não são divulgadas. Segundo ele, essa é uma velha estratégia da polícia, de desmoralizar a vítima.”

(Geledes)

Os trechos acima foram extraídos de notícias veiculadas recentemente em grandes portais e refletem diversas situações em que as mulheres não tiveram seus corpos respeitados.

Notícias como estas aparecem, infelizmente, quase diariamente. Lemos, mas nunca refletimos: porque estupros ainda acontecem?

As respostas para este porque são inúmeras: vivemos ainda no seio de uma sociedademachista, patriarcal, sexista, misógina, homofóbica, racista, em que as mulheres, em que pese serem a maioria da população, representam ainda uma minoria política.

Fato é que no Brasil nossas mulheres são violentadas a cada onze minutos. Esta foi a conclusão do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado em 2015.

Importante lembrarmos que ainda é recente a alteração legislativa que passou a configurar o crime de estupro, como crime contra a dignidade sexual. Até o ano de 2009, o estupro era considerado crime contra a honra.

Honra? Será que uma mulher vítima de um crime tão grave, torna-se apenas uma mulher “que não serve para casar”, uma mulher desonrada?

As consequências desta forma de violência dizem respeito à mulher, ao seu corpo, à sua sexualidade.

Além do mais, sabemos que as mulheres que sofrem violência sexual muitas vezes são questionadas se não seriam elas quem teriam dado causa à essa violência, afinal de contas, “ela estava bêbada”, “a roupa que usava era curta”, “estava sozinha”, “estava dando mole”..

Somos mesmo as culpadas? Não somos as vítimas de toda essa situação e de toda uma sociedade que entende que a mulher é propriedade do homem?

Portanto, precisamos enfrentar todos os “porquês” que permitem que no século XXI ainda tenhamos medo de sair na rua e sermos violentadas (jamais esquecendo, que muitos estupros acontecem à luz do dia, dentro de nossas casas).

As mulheres precisam ser ouvidas!

E os seus testemunhos precisam de credibilidade!

Força às mulheres!

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