‘Pretendia fazer um filme a que minha mãe pudesse assistir’, diz Edileuza Penha

Foi na base da simplicidade que a diretora de cinema Edileuza Penha de Souza, 58 anos, arrebatou o júri do Festival É Tudo Verdade, com a conquista do título de melhor curta-metragem para Filhas de lavadeiras. “Pretendia fazer um filme a que minha mãe pudesse, aos 86 anos, assistir comigo. Quero que ela entenda o que está sendo dito. Crio filmes que minhas tias, minhas primas, que não tiveram o mesmo privilégio que eu, de ter uma vida profissional acadêmica, possam sentir”, explica a também professora Edileuza.

Na trajetória, a cineasta sempre teve, por suporte, o audiovisual em sala de aula. Em 2006, lançou, pela Editora Mazza, o primeiro volume da coleção Negritude, cinema e educação, num caminho para a implementação de lei que instituiu ensinos de história e cultura africana na educação básica. Hoje em dia, depois do acúmulo de experiências na UnB, na Universidade Federal do Espírito Santo e na Escola de Cinema e Televisão cubana, é no Instituto Federal de Brasília (Recanto das Emas) que Edileuza ministra aulas.

Alunas de Edileuza, ao lado de personalidades como Ruth de Souza, Benedita da Silva e Conceição Evaristo, formam o protagonismo de Filhas de lavadeiras, num ciclo de ruptura da predestinação de mães e avós que foram empregadas domésticas. “Veio o direito à educação que, historicamente, é negado à população negra”, pontua Edileuza.

Reconhecimento
Sem dúvidas da qualidade técnica e da importância da narrativa do curta Filhas de lavadeiras, a diretora criou expectativa, ao integrar o principal festival de documentários da América Latina. “Representa um passaporte para muita coisa. Na medida em que se é selecionado, há criação de muitos sonhos. Eu sonhei com este filme; a vida se faz por sonhos”, analisa. O novo filme veio cinco anos depois de despontar de Edileuza, com o curta Mulheres de barro, com reconhecimento no Festival de Avanca (Portugal).

Vinda do eixo Vitória-Vila Velha (Espírito Santo) no qual foi criada, há uma década, Edileuza está na capital em que, no passado, viveu poeta capaz de servir como inspiração: Maria Helena Vargas. “Quero falar de poesia e de amor, quando se vê que a pobreza é feminina, e é negra. Sou uma mulher negra, fazendo filme de mulheres negras, com as histórias delas, nisso consigo atingir a todos. Enredos dores são muitos e estão por aí, mas é urgente falar de amor”, conclui.

 

Fonte: Por Ricardo Daehn, do Correio Braziliense 

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