Professores da Ufba fazem críticas severas ao racismo brasileiro, em Sessão Especial

Plenário soteropolitano Cosme de Farias lotado de jovens e de pensadores para celebrar a memória de Zumbi dos Palmares no Dia Nacional da Consciência Negra (Foto: CFF/Romero Mateus)


Apesar de não ser feriado na capital baiana, o que é questionado por grande parte da comunidade negra soteropolitana, o Plenário Cosme de Farias ficou lotado neste dia 20, na sessão especial alusiva ao Dia da Consciência Negra, que celebrou a memória do grande líder Zumbi dos Palmares, na Câmara de Vereadores.

Conforme conferiu o Camaçari Fatos e Fotos (CFF), que cobriu, de forma excepcional, a solenidade, nomes de peso figuraram na mesa convidada ao evento proposto pela Comissão de Reparação da Câmara, sendo presidida por um dos juristas mais respeitados do país que já foi prefeito de Salvador, Edivaldo Brito.

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Edvaldo Brito (Foto: CFF/Romero Mateus)
“Estou muito feliz com o belíssimo resultado da sessão. A constituição brasileira já no favorece de forma clara. Precisamos de mais projetos de estado e não de projetos de governo que perduram por apenas quatro anos”, exclamou Brito, na abertura de mesa.

Logo em seguida, o vereador, membro da Comissão de Reparação e presidente da Comissão de Educação e Cultura, Silvio Humberto, aproveitou a expressiva presença de jovens na sessão, para tecer comentário baseado uma metáfora, que levou todos a uma profunda reflexão:

Silvio Humberto (Foto: CFF/Romero Mateus)
“Se pegarmos a flecha de Zumbi e virarmos para baixo ela simbolicamente vira uma caneta. O racismo tem impedido que talentos floresçam e temos que utilizar nossas formas de poder para fazer efetivamente consciência negra, pois sem dinheiro não se faz reparação”, ressaltou Silvio – mentor do Instituto Cultural Steve Biko – organização que há 20 anos facilita a inserção de jovens negros em universidades brasileiras, com ênfase às estaduais e federais.

O CFF perguntou a Silvio Humberto, sobre as possibilidades de parceria e intercâmbio entre parlamentares de Salvador e de Camaçari.

Humberto assinalou que um bom passo inicial pode ser a criação de uma agenda de cobranças em comum, que poderia facilitar o debate acerca dos temas em ambas as Câmaras, fortalecendo a discussão num caráter inter-municipal.

Carregada de emoção e com um leque de experiências a proferir, a professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ELisete Pinto, fez questão também de salientar a presença dos alunos do Colégio Estadual Azevedo Fernandes – localizado no Pelourinho-, fazendo adaptação à linguagem, para falar de um modo mais íntimo perante à comunidade secundarista.

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Elisete Pinto (Foto: CFF/Romero Mateus)
Docente critica tratamento da questão racial em setores da UFBA

A docente que coordena o Programa de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil daquela universidade, declarou que em algumas ocasiões professores do instituição teriam dito que ela “estava incomodando ela falar de racismo e assuntos correlatos dentro da universidade.

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Juventude marcando presença na Sessão Especial
“Pois é. O crítico é que ninguém se incomoda com a mortalidade da juventude negra e materna”, apontou Elisete, expondo alguns slides que davam base às suas colocações, parafraseando sua avó, no fim da explanação: “A minha força está na minha língua e minha língua ninguém pode calar”, frisou.

Em seguida, o presidente da sessão convocou à fala, Hamilton Oliveira. Depois de alguns segundos de silêncio, com expressões risonhas, todos perceberam que o referido convidado, se tratava do ativista social, largamente conhecido como Dj Branco, este que parabenizou pela passagem do dia, mas não economizou no volume de críticas ao que na sua opinião, ainda deve melhorar em Salvador, para haver avanço efetivo na capital contra o racismo.

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Dj Branco (Foto: CFF/Romero Mateus)

Na reflexão, um dos momentos que mais causou agitação nas cadeiras do plenário foi quando Branco atacou de forma aguda alguns programas televisivos. “Programas como o Se Liga Bocão, dentre outros sensacionalistas, contribuem para a morte simbólica da população negra. Muita gente tem medo de falar, mas é aqui que isso tem que ser dito, nos espaços de poder”, concluiu o pensamento.

O discurso mais eloqüente do dia ficou a cargo do ativista histórico do movimento negro e professor de Direito da Ufba, Samuel Vida. O docente abriu a fala com o seguinte relato: “Nós temos motivo para comemorar sim. Cresci ouvindo dizer que não existe racismo e que quem falava sobre isso era complexado. Hoje em dia este discurso não encontra mais oportunidade”, frisou.

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Samuel Vida (Foto: CFF/Romero Mateus)
Dentre os temas levantados por Samuel, vale destacar a denúncia do professor, a um suposto esvaziamento e desprestígio de secretarias responsáveis pela promoção da igualdade racial em todas as esferas, as quais não conseguiriam executar de modo real e eficaz suas atividades, principalmente por questões financeiras e políticas, sendo necessário repensar o modelo das mesmas, para que num futuro próximo elas não fossem repugnadas.

Vida ainda teve tempo para pontuar sua luta no debate aberto sobre aspectos do Estatuto de Igualdade Racial, aprovado em 2010, que deveria ser responsável por nortear todas e quaisquer políticas públicas voltadas à comunidade negra.

Dando contornos finais à sessão, o ex-governador da Bahia e atual vereador, Waldir Pires, apontou para a comunidade jovem presente e disse: “lutem que vocês vão conseguir. Não há nada neste mundo, que não se alcance, se desejar e lutar para conseguir”, assinalou Pires.

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Waldir Pires (Foto: CFF/Romero Mateus)
No dia de celebração, destaque ainda para a presença internacional de autoridades norte-americanas, referências na promoção da igualdade racial, Joe Beasley e Richard Freeman. Este último que é o advogado norte americano que mais defendeu pessoas que acusaram empresas de prática de discriminação racial.

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Richard Freeman, acompanhado de tradutora

Fonte: CFF

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