Por Cidinha da Silva
O desespero de Zumbi não dá no jornal! Sua estratégia de buscar os dois filhos adolescentes na escola à noite, e de os três esperarem pela mais-velha no escadão da faculdade, quando então, juntos, ele, Luiza Mahin, Amílcar e Kwame Nrumah caminhavam para casa, apoiando-se mutuamente e trocando impressões sobre o dia, naufragou em sangue.
Zumbi está aturdido. Enquanto busca uma solução, conversou com os filhos. Em conjunto, decidiram ficar recolhidos em casa durante as noites, até que a matança cesse e o toque de recolher acabe. Na escola já estão acostumados. O acordo é tácito, cada um sabe o que fazer para tentar preservar a vida. Winnie, a mãe, não suportaria perder mais um filho para a guerra. Eles querem viver, acima de tudo.
Para se aproximar do número de civis mortos a cada noite, multiplique por cinco a cifra noticiada. É informação técnica confiável do pessoal das funerárias de bairro, dos cemitérios, do Instituto Médico Legal.
Na guerra é assim: eles chegam montados em motos possantes ou em carrões, arrogantes! De dentro do covil diminuem a velocidade. Das janelas, por cima dos fuzis, miram a cabeça dos quilombolas em grupo, parados ou em movimento. Riem alto enquanto atiram e apertam os olhos para alvejar os que correm. Têm predileção pelas crianças das biqueiras, mas podem também brincar de matar qualquer outro grupo caminhante pelas ruas. Feito o serviço, não chegam a fugir, apenas cantam pneu e quem sobrou guarda silêncio, guarda a vida.
Essa é a onda do momento, matar quilombolas. Voltamos à Colônia, quando qualquer grupo de mais de três negros juntos era um quilombo. A ordem da Coroa? Exterminá-los.
—
Cidinha