“Seja Um Preto Como Eu”: pretos na música eletrônica

O projeto “Seja Um Preto Como Eu” é um manifesto que reúne produções de artistas negros da cena musical eletrônica brasiliera para reivindicar seu espaço em alto e bom som. Liderado pela gravadora “O Problema É Grave”, junto com os produtores Christian Gomes aka Thousand Kids e Iago Cavallieri aka Cavallieri, o lançamento ocorre Dia 20 e será disponibilizada no YouTube, Spotify e SoundCloud. Com o objetivo de valorizar a produção nacional, os destaques serão Curol, Ishimarumusic, Mistikke.music, Douth, Cavallieri, Klledawid, Guzz que, inspirados em nomes como DJ Marky, Black Coffee e Carl Cox, fortalecem o material que contam com nove colaboradores.

Em comemoração ao Dia da Consciência Negra, o manifesto tem o objetivo de subverter a lógica da cena eletrônica e, além de reduzir as desigualdades nela presentes, retomar e reapropriar essa construção cultural e artística, ressignificando seu conceito. O projeto marca uma tomada de posição que envolve representatividade e busca de equiparidade, somando esforços com a luta antirracista enunciada por pretos e pretas do país. Escrito por Christian Gomes em colaboração com a psicóloga e pesquisadora Rubiana Viana, o manifesto se dedica a reanimar a autoestima das populações marginalizadas dentro do cenário fonográfico, principalmente eletrônico. Esse trabalho também é resultado do movimento “Vidas Negras Importam”, que surge o impulso necessário para transformar a inquietação em realidade.

Sobre a contribuição negra na música eletrônica
O genêro eletrônico nasce com a Disco Music. Sucesso dos anos 1980, pode ser considerado o precursor da música eletrônica, e a ele atribuímos o surgimento da House Music. O público era composto, principalmente, pelas comunidades LGBTQIA+, latina e negra dos Estados Unidos, residentes dos primeiros clubes de Dance Music de Chicago. Muitos até hoje atribuem o nome “house” a Warehouse Club, conhecido reduto onde o gênero explodiu.

A população negra foi fundamental para a construção da House Music, nomes como Larry Levan, Tony Humphries, Marshall Jefferson e Derrick May são exemplos de DJs que foram cruciais para a criação e crescimento do estilo musical. Frankie Knuckles, um dos pioneiros do gênero, é considerado por muitos como o pai da House Music. Além de Grandmaster Flash, o DJ inventor da Quick Mix Theory – conjunto de técnicas como double-back, back-door, back-spin, e phasing, onde o DJ maneja os vinis, para frente e para trás, em mixagens que permitem criar beats próprios.

No Brasil, a House Music chega em 1989, com Pump Up the Jam do grupo Technotronic. A princípio chamado pejorativamente de “poperô”, a House logo desponta e se torna sucesso nacional, com maior impacto nos grupos LGBTQIA+. Outro destaque é como a House Music é recebida pela população negra da época: ao ser importada pelas elites, o gênero passa a ser visto como “música de playboy”, um questionamento problemático se analisarmos suas origens históricas.

Dessa forma, todos os artistas considerados fundamentais para o surgimento da House Music são negros. Por outro lado, ao ser disseminada pelo mundo, o estilo acaba intermediado pelos brancos de classes sociais mais altas, reflexo sintomático das desigualdades raciais e do processo de descaracterização das culturas. A iniciativa de oferecer protagonismo para a população negra, e outros grupos marginalizados socialmente no cenário da música eletrônica, surge então como um resgate necessário da contribuição destes para construção da House Music, um ato simbólico de resistência que serve de estímulo para outras produções neste sentido.

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