Sentir Yorubá

Há um tantão de idiomas no mundo. São estruturas diversas para comunicação oral e/ou gestual.

E nossos corpos comunicam, para se manter, comunicam pra inventar, para comer. A gente comunica. E comunicação, pra mim, também é transa. Transa é comunicação! Umas gostosas, molhadas e quentes! Outras, chatas, sem química, nem pele em chamas. Invasivas, estupradoras!

Foto: Reprodução/origomundi.de

por Ríssiani Queiróz via Guest Post para o Portal Geledes

Aqui em Cariacica/ES, eu e um monte de gente, aprendemos a transar com o povo, a base de linguada portuguesa!
Essa língua parece-me dura e seca! Na escola ela me desceu assim! Português!
Português!
Por Tu, Guês?! Não?
Então, por quem?
Nela, entendi um mucado de mundo. Mas, ainda bem que, nem só de linguagem pronunciada com a voz e escrita no papel se faz um corpo e os mundos dos mundos.

Acontece que, depois que cresci mais um cadin, descobri que há infinito número de seres. E eles falam em outras lógicas e tem jeitos diversos de inventar vida! Eta, caramba!
Nessa brincadeira, eu cheguei no Yorubá! A brincadeira foi ficando séria! E se tornou minha vida!

Daí, eu que não sei falar em Yorubá, tenho sentido que esse idioma pulsa em minha pele e brota em minhas raízes capilares. Eu sinto! Sinto na planta do pé e como vento no pescoço. Eu sinto!
To falando de sentir! Eu gosto de sentir mas, as vezes, mais penso do que sinto. E meus pensamentos são dormentes. Eles me vibraram, no entanto, a necessidade de experimentação da sensação!

Eu experimento
o Me Sinto e Me Sinto por e para Te Sentir.
O quê você sente?!
Você se sente em Português?!
Se sente em Alemão?! Italiano?
Cê tem algo nisso?! Talvez sim, talvez não…

E a sensação?! Que sensação tem, ler com o corpo em Inglês?! Você já leu no infinito do “Indígena”?
Mas até essa palavra é invenção de quem sentiu em Português, pensando que chegava na Índia, dando nome ao que já tinha nome. Outros nomes.

Resumo da gestação dessa gastação é:

EU NÃO ME SINTO EM PORTUGUÊS!
EU ME SINTO YORUBÁ!
Deusa fala comigo em Yorubá!
Ela é Yorubá em mim.
Meus sonhos são em Yorubá!
Os afloramentos espirituais, também.
Que seja meu, em mim, esse Yorubá que inventei ou me foi consagrado! Que seja seu, mesmo, isso que você fala e sente também.

Como podemos, ao fim, afirmar nosso corpo, um universo brankkko, quando, somos Multiversos Negros?! Um Multiverso Negro, de seres diferentes, muitas vezes diferentes mas, ainda assim, negros, cor de terra, de vida, onde alimento se faz! Como podemos, viver o negro que somos, sentindo brankkko, pensando brankkko, vivendo a vibração brankkka? A vibração que anulou nosso sentido! Ascendeu a pulsação pélvica pra longe do chão. Desfazendo, deste modo, a conexão…

Esse não é um texto pra teorizar. É com palavras em Português mas, de escrita do além mar. É pra me sentir.

Você não sente como eu, então não me entende como me entendo. Não me lê como eu leio. E tudo bem.
Contudo, se ler, no idioma dos espíritos Africanos, que te guiam, que são a história que você faz parte e está dando continuidade, pode ser uma baita experiência.

Que fique tudo em aberto. Não somos peças perdidas, nem engrenagens duras ou transa gelada e seca do Norte, “descobridor” do que nem estava oculto! Que o espírito esteja protegido! E o nosso idioma de sentir, desperte, fale, movimente, desengesse!

Que seja entendido!

Zacimba Gaba Vive!

 

** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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