Trabalhar a prevenção do racismo desde a infância, fortalecendo a autoestima das crianças pretas, foi o assunto abordado pela mesa-redonda “1ª infância no centro: garantindo o pleno desenvolvimento infantil a partir do enfrentamento do racismo”, que contou com a participação de vários movimentos sociais e de representantes das secretarias municipal e estadual de educação (Semec e Seduc), durante o X Fórum Social Pan-Amazônico, neste sábado (30), no campus do Guamá da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
Lucinha de Oxum, da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), defendeu a garantia de acesso a direitos, inclusive da ancestralidade e da religiosidade, e o empoderamento das crianças com a reafirmação do quanto são lindas e amadas e manifestando afeto com o toque. A professora Maria Aparecida Matos, do Tocantins, comentou a experiência com a primeira infância em áreas remanescentes de quilombos: “Vimos crianças que não são beijadas. Não há educação sem afetividade”, alertou.
Ela também defendeu o direito das crianças do candomblé frequentarem as aulas vestidas de branco nos dias de sexta-feira, como preceitua essa religião.
Estereótipo de beleza exclui os negros e negras desde a infância, diz vereadora Lívia
A vereadora de Belém Lívia Duarte (PSOL), que participou da mesa, ressaltou que o estereótipo de beleza exclui os negros e negras desde a infância, nos ambientes sociais e até na família, inclusive, ainda no nascimento, com a violência obstétrica mais incidente entre as mulheres negras, numa realidade que afeta a autoestima até a fase adulta. “Precisamos de um sistema educacional que garanta a plenitude da 1ª infância. Estamos falando de uma educação (racista) que está entranhada e que ameaça a formação anti-racista”, disse ela, que é autora da lei do Estatuto da Igualdade Racial, em vigor em Belém.
Lívia, que é negra, recordou que chegou a ser barrada de entrar no plenário da Câmara Municipal de Belém, no dia da posse, por um segurança negro que alegou que ela não tinha “cara” de vereadora. Ela destacou que o avanço dos negros na ocupação dos espaços políticos é resultado de muita luta, mas que “é necessário ir além”.
Deputada federal Vivi Reis teve suprimido o direito de brincar por ser filha de doméstica
Já a deputada federal do Pará Vivi Reis (PSOL), que também é negra e estava na mesa, recordou que, na própria infância, teve suprimido o direito de brincar por ser filha de empregada doméstica, a quem era atribuída a função de ajudar a mãe no trabalho. “A gente quer que as pessoas cresçam sem achar que não são suficientes. A gente não pode crescer com esse medo. Na escola, na hora de evidenciar um aluno para uma foto de divulgação, por exemplo, a prioridade nunca é das crianças negras”.
Tatiana Maia, da Semec, que é pesquisadora de comunidades tradicionais e quilombolas, integra o Movimento de Contadores de Histórias da Amazônia que difunde a leitura para crianças negras e de comunidades tradicionais. Ela defendeu a importância de constituir um fórum com as entidades representativas e organismos públicos para trabalhar o enfrentamento do racismo desde a primeira infância.
Já Maria Malcher, do Centro de Defesa do Negro no Pará (Cedenpa), defendeu que a educação anti-racista seja integral, desde a primeira infância até a universidade, inclusive, alcançando a formação dos professores. “Precisamos olhar para as nossas crianças negras, principalmente da Amazônia “, defendeu Rivana Lima, do Instituto de Mulheres Negras do Amapá (Imena), apoiando a ideia de um fórum que seja capaz de construir um futuro de formação de negros e indígenas sem racismo.