Tenista árabe se nega a continuar jogo e acusa juiz de racismo em torneio na França

Atleta do Omã diz ter sido vítima de preconceito em competição por ser muçulmana e denuncia árbitro à Federação Internacional de Tênis, que investiga o episódio

Do Globo Esporte 

O torneio de tênis ITF de Clermont-Ferrand, de nível US$ 25 mil, teria passado despercebido não fosse um episódio polêmico nas oitavas de final, na última quinta-feira. A tenista Fatma Al Nabhani, do Omã, acusou um juiz de cadeira de racismo e abandonou o jogo diante da revolta com o comportamento do árbitro. Atual número 406 do mundo, a atleta árabe de 27 anos publicou uma carta aberta, em suas redes sociais, e postou vídeos neste fim de semana para denunciar a atitude dos oficiais da competição à Federação Internacional de Tênis (ITF) e à Associação de Tênis Feminino (WTA).

– Jogo tênis desde criança e participo de torneios ao redor do mundo desde que comecei no circuito profissional, em 2007. Eu nunca imaginei que vivenciaria o verdadeiro significado de racismo e desigualdade. Peço desculpas, eu sei que é um assunto sensível, mas o que aconteceu em Clermont, na França, não foi aceitável. Eu sou muçulmana. Eu sou árabe. E sempre terei orgulho disso. Sendo de um país árabe, uso calça por baixo da minha saia para respeitar minha religião e me sentir confortável competindo – disse.

A atleta enumerou uma série de problemas que enfrentou durante a semana na competição, desde a estreia até o ápice, a desistência nas oitavas de final do torneio quando o placar marcava 3/0 no 3º set para a francesa Myrtille Georges, 232ª colocada. Al Nabhani chegou a ter sete match points na parcial anterior e disse que o juiz errou nas decisões em cinco de sete match points, todas a favor da oponente.

– Eu fui até ele e disse “você precisa ser justo e se focar, isso não é aceitável”. E ele me deu uma advertência, sério?! Enquanto minha adversária continuava me xingando em francês, a torcida ouvia e ele não fazia nada. Ele estava contra mim desde o início do jogo. Não aguentava mais – explicou a atleta quanto à desistência.

Atleta Fatma Al Nabhani em ação — Foto: Reprodução/Instagram

A ITF abriu investigação para apurar o episódio, mas ressaltou que leva qualquer acusação de racismo “muito a sério”. Os vídeos da tenista, dividido em duas partes, tiveram mais de 100 mil visualizações e repercutiram nas redes sociais.

– Por que eu fui tratada assim por ele, pela equipe do torneio, por quê? Só por que sou muçulmana, só por que minha mãe está usando o hijab (um véu), só por que sou árabe? Bem, eu sou muçulmana, tenho orgulho disso, sou árabe, tenho orgulho disso, vou me defender e vou representar todos os outros jogadores – completou.

 

Visualizar esta foto no Instagram.

 

Part 1 I never thought or imagined I could ever experience the real meaning of racism and unfairness 👎🏼👎🏼👎🏼 I am sorry I know this is a very sensitive topic but I have to stand up for my self. I Am Muslim, I Am Arab and I’ll always be proud of it. @itf__tennis @wta 1- in the first round wanting me to remove my leggings and threatening me by not able to compete my match if I didn’t while it’s approved by the ITF in the end they made me pull it up higher a bit because that 2 inch extra of skin was a big deal for them. 2- second round not giving me my right as a player inside the match chair umpire against me since beginning of the match and stealing 5 match points from me and giving me a code violation for complaining while my opponent should get it for swearing and bad language and miss behaving 3- chair umpire having conversation in French in each change over and laughing with the opponent 4- a very bad treatment from some of the staff in the tournament

Uma publicação compartilhada por Fatma Al Nabhani (@falnabhani) em

+ sobre o tema

Mulher é demitida após denunciar racismo e intolerância religiosa em hipermercado no Rio

Uma auxiliar de cozinha negra foi demitida após denunciar...

Existe uma filosofia essencialmente africana? Por SÉRGIO SÃO BERNARDO

A existência de uma filosofia popular oral é mais...

Primeira bebé do ano em Viena é alvo de ataques xenófobos

Às primeiras horas de vida, Asel já era vítima...

para lembrar

Criola lança campanha internacional contra o racismo, por Mônica Bergamo

A campanha contra o racismo que estampou em outdoors...

Senador Demóstenes Torres participa de audiência pública sobre cotas raciais

  O presidente da Comissão de Constituição, Justiça...

‘Agora tudo é racismo, vocês são muito chatos’

Na terça-feira, 24, Gabriela Monteiro (foto), 26 anos, estudante...
spot_imgspot_img

Racismo no futebol cresce, apesar de campanhas, alerta Observatório

Câmeras da TV Brasil, que realizavam a cobertura da primeira divisão do Campeonato Brasileiro Feminino de futebol, flagraram na última segunda-feira (31) um ataque racista...

Filme aborda erros judiciais e racismo em reconhecimento fotográfico

Treze processos criminais e cinco anos detido em sistema prisional. A ficha é extensa, mas quem responde por ela é uma pessoa inocente, absolvida...

Mais amor, por favor

É preciso falar de amor. Não o amor romântico, mas o amor atitude, coisa que envolve "cuidado, compromisso, confiança, responsabilidade, respeito e conhecimento", como...
-+=