Um chamado aos brancos: o Brasil passa fome!!! Participe com doações para a campanha “Tem Gente com Fome, dá de comer”

Artigo produzido por Redação de Geledés

Em 1996, quando aos 20 e poucos anos essa branca aqui que vos fala aportou na sede do Geledés, Sueli Carneiro, filósofa, sócio-fundadora da organização e uma das maiores lideranças deste país na luta contra o racismo e sexismo, olhou pra mim e sem pestanejar disparou: “O que essa ET está fazendo aqui?”. Na época, para surpresa de Sueli, eu já sabia que meu Brasil não teria chances de ser realmente uma nação democrática, igualitária realmente, se brancos e brancas não combatessem frontalmente o racismo.

Já se foram mais de duas décadas e sob o comando das mulheres negras da organização, após inúmeros aprendizados (intermináveis, diga-se de passagem), venho fazer um chamamento aos ETs e às ETs brancas como eu diante de uma realidade que salta aos olhos: o Brasil agoniza com sério risco de voltar ao mapa da fome, depois de décadas! Aos brancos e brancas que se perguntam como podem ajudar é hora de colocar a mão no bolso e doar para a campanha “Tem Gente com Fome, dá de comer” protagonizada pela Coalizão Negra por Direitos, da qual Geledés faz parte entre as 200 organizações do movimento negro, em parceria com a Anistia Internacional, Oxfam Brasil, Redes da Maré, 342 Artes, ABCD – Ação Brasileira de Combate às Desigualdades, Nossas – Rede de Ativismo, Instituto Ethos, Orgânico Solidário e Grupo Prerrogativas. O objetivo principal é distribuir alimentos e produtos de higiene e limpeza para 222.895 famílias em situação de vulnerabilidade, mapeadas em todas as regiões do Brasil. A meta é alta mesmo, daí a necessidade de tantas contribuições!

“Nada menos do que 14 milhões de famílias, de acordo com dados do CadÚnico (Cadastro Único para programas sociais do governo federal), que vivem na extrema pobreza e são dependentes dos programas sociais governamentais.  Isso corresponde a 39,9 milhões de pessoas que vivem na extrema pobreza no Brasil.” 

Hoje, ao entrarmos na pior fase da pandemia do novo coronavírus, somada ao alto índice de desemprego e à incapacidade administrativa do Planalto (para não entrar nos adjetivos corretos ao mandatário deste país), nos deparamos com um cenário avassalador que não vivíamos há décadas: pessoas sem ter nada para comer, nem às vezes o gás de cozinha. Há três meses o governo federal simplesmente passou a faca no auxílio emergencial, deixando sem verbas nada mais, nada menos do que 14 milhões de famílias, de acordo com dados do CadÚnico (Cadastro Único para programas sociais do governo federal), que vivem na extrema pobreza e são dependentes dos programas sociais governamentais.  Isso corresponde a 39,9 milhões de pessoas que vivem na extrema pobreza no Brasil, segundo dados do próprio Ministério da Cidadania. Essas famílias vivem com renda per capita de até R$ 89 por mês. Alguém consegue sobreviver (não digo nem viver) com esse dinheiro?

Estatísticas são para os meios de imprensa, para os analistas econômicos. É necessário ter a dimensão humanitária desses números, é necessário transformar cada um deles em uma boca faminta, em um estômago vazio, em pais e mães desesperados porque não têm o que dar a seus filhos. Se estivermos com os olhos bem abertos, bem atentos, como diz Caetano, estaremos notando o aumento de famílias inteiras vivendo nas ruas, de pessoas batendo no vidro dos carros pedindo comida nas grandes metrópoles deste país. Mas ainda há lugares que a visão de um branco, de uma branca de classe média não alcança, como os quilombos, as tribos indígenas, os ribeirinhos e as comunidades periféricas, onde há gente, sim, passando muita fome. São nesses recantos do Brasil afora que a campanha chegará com a distribuição de alimentos, num esforço hercúleo.

“É necessário ter a dimensão humanitária desses números, é necessário transformar cada um deles em uma boca faminta, em um estômago vazio, em pais e mães desesperados porque não têm o que dar a seus filhos.” 

Daí o chamamento emergencial a todos os ETs brancos e brancas como eu. Como já dizia Betinho em suas campanhas da fome: “estamos assustados com o País em que vivemos; estamos assustados com a falta de futuro, e estamos assustados com o presente que faz da vida das grandes cidades um pesadelo”.

Como o som de um sino de igreja, um minarete de mesquita, um tambor de um terreiro ou templo budista, este é um chamado! Um chamado ensurdecedor aos que, subitamente, despertaram diante de dois fenômenos que chegaram quase que simultaneamente no ano passado, escancarando de vez o racismo estrutural e as desigualdades sociais: a revolta antirracista global, provocada pelo assassinato de George Floyd nos EUA, e a pandemia do novo coronavírus. A pandemia afetou com maior potência a população negra no Brasil, em especial as mulheres negras. Não há mais dúvidas sobre isso. Então, meu caro amigo ET branco, minha cara amiga ET branca como eu, se está realmente querendo ver um Brasil mais justo, é hora de doar. Aqui está o link para a campanha.

PARTICIPE!

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