Um país doente de realidade

Insistem em distorcer a realidade para colocar o abusado no papel de abusador

O Brasil é um país “doente de realidade”. A constante negação da verdade me leva a essa conclusão. Enquanto parte dos indivíduos prefere alterar os fatos a admitir inúmeras situações que fazem de nós uma das nações mais desiguais do planeta, a maioria vive em constante provação por conta da “desrealização” da vida como ela é.

Essa “dissonância cognitiva” emperra o desenvolvimento socioeconômico e nos impede de avançar coletivamente, fomentando discurso de ódio e negando a mais evidente de todas as mazelas brasileiras: o racismo institucional.

Manifestantes colam cartazes em frente ao prédio do Conselho Universitário, na Cidade Universitária, em São Paulo – Pierre Duarte/Folhapress

No último país das Américas a “abolir” a escravidão (em 1888, há apenas 136 anos), foram criadas leis específicas para impedir a inclusão social dos ex-escravizados. Depois de cerca de quatro séculos de trabalho forçado, os negros não poderiam adquirir a posse de terras, nem estudar e seriam presos por ficar “vadiando” nas ruas.

Sem proporcionar as mínimas condições para que os afrodescendentes se tornassem “cidadãos” de fato e de direito, o país foi adubando as raízes do racismo institucional. Tanto que, até hoje, pretos e pardos enfrentam inúmeras dificuldades para alcançar o básico: alimentação, moradia, saúde e educação.

Mas, apesar das evidências, não falta quem insista em distorcer a realidade para colocar o abusado no papel de abusador quando uma iniciativa é adotada para enfrentar a desigualdade racial. A ponto de cotas raciais nas universidades serem classificadas como “privilégio” ou instrumento capaz de “restaurar o racismo” onde ele havia sido abolido.

Não sei como é no país de Alice, mas no meu, os negros, em geral, não saíram da base da pirâmide. E isso se deve aos obstáculos criados pelo racismo institucional, que entrava a vida de pretos e pardos.

Nada disso é novidade. Mas, como cunhou Tom Jobim, “o Brasil não é para principiantes.” Então, às vezes, é preciso desenhar.

“Ando tão à flor da pele/Que a minha pele tem o fogo do juízo final.” – Zeca Baleiro

+ sobre o tema

Bahia tem 5 das 10 cidades mais violentas do país

Dados do Mapa da Violência 2014 revelam que a...

PMs presos após pai de vítima investigar execução são julgados

Pai investigou morte de filho e amigo e descobriu...

Escrito em Nego

Quando buscaram os Negros na África, trazendo-os como bichos amontoados...

para lembrar

spot_imgspot_img

X se assemelha a cidade sem lei

Faz poucos dias, o IBGE apresentou ao país as projeções atualizadas da população. Território inteiro, grandes regiões, todas as 27 unidades da Federação, 100% dos 5.570...

‘Gay não opina aqui’: estudante de 14 anos denuncia que sofreu injúria racial e homofobia de colegas de escola na Zona Sul do Rio

Um estudante de 14 anos foi alvo de injúria racial e homofobia por parte de colegas de turma do Colégio pH, no campus de...

Abordagens por reconhecimento facial têm 10% de falsos positivos, diz PM na Alerj

As abordagens conduzidas pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) com o uso do sistema de reconhecimento por biometria facial tiveram uma taxa de falsos...
-+=