Usina não será obrigada a dar comida a cortadores de cana

Fonte: Folha de São Paulo –

Acordo diz que será obrigatório fornecer recipiente para manter alimento aquecido

Apesar disso, compromisso é elogiado por entidades de usineiros e de trabalhadores; documento será lançado por Lula na próxima semana

Trabalhadores rurais durante blitz do Ministério Público do Trabalho em fazenda no interior de SP; fornecer comida será opcional
(Edson Silva/Folha Imagem)

Com avanços reconhecidos por governo, empresários e trabalhadores, o compromisso nacional para melhorar as condições de trabalho no setor sucroalcooleiro não mexerá na realidade de insegurança alimentar dos cortadores de cana.

A Folha teve acesso ao documento final, que será lançado na próxima quinta-feira pelo presidente Lula. No item alimentação, o compromisso dos usineiros para no fornecimento de recipientes a fim de manter o alimento aquecido.

Os trabalhadores e o próprio presidente esperavam que os empresários assumissem a responsabilidade pela comida.

Semanas atrás, em evento reservado no qual lhe foi apresentado o texto, Lula reclamou com os usineiros. “Você está dando uma marmita térmica, mas cadê a comida? Está vazia?”, teria dito, segundo relato de presentes ao encontro.

O fornecimento da alimentação, na prática, traria dois ganhos imediatos aos cortadores: uma refeição balanceada e, em consequência, menos problemas de saúde. “Esse assunto [da alimentação] continuará presente nas negociações e virá ao compromisso, sem dúvida”, diz Marcos Jank, presidente da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar). Ele cita a logística complicada e o alto custo como os empecilhos atuais.

Segundo os próprios trabalhadores, a ausência desse ponto não esvazia a importância do compromisso nacional, construído por dez meses numa mesa de diálogo entre governo, trabalhadores e empresários, sob a coordenação da Secretaria Geral da Presidência.

“Pela primeira vez no Brasil uma atividade produtiva faz uma discussão como essa. Por isso acreditamos no compromisso”, afirma Antonio Lucas, da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). “É um marco que merece ser enaltecido”, diz Elio Neves, presidente da Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo).

Hoje, há 1,2 milhão de pessoas no setor. O foco do compromisso, porém, está nos 500 mil cortadores de cana, vítimas do ritmo exaustivo de trabalho e algumas vezes flagrados em situação degradante.

O lançamento desse compromisso é o primeiro passo para mudar essa realidade e evitar que a imagem do álcool brasileiro no exterior seja atrelado a esse tipo de denúncia. Em 2007, Lula chamou de “heróis” os usineiros brasileiros, o que provocou críticas de acadêmicos e de movimentos sociais.

A adesão será voluntária e, em troca, os empresários terão seus nomes incluídos numa espécie de “lista branca” das boas práticas. No Brasil, há 413 usinas, e, até ontem, ao menos 60 já haviam sinalizado pela assinatura do documento.

A mesa de diálogo será mantida para buscar ajustes no texto e fiscalizar as empresas signatárias por meio de auditorias independentes.
“As que optarem [pelo compromisso] servirão de modelo para as demais”, afirma Jank.

O compromisso é uma espécie de termo de ajustamento de conduta adotado pelo Ministério Público, só que sem multa. “Mas esse [termo] tem compromissos morais”, afirma Renato Cunha, do Fórum Nacional Sucroenergético, que reúne usinas de todo o país.

No texto, destaca-se o compromisso dos usineiros de apenas contratar os cortadores de forma direta, eliminado assim a terceirização e a participação do “gato” -o aliciador de mão de obra degradante.

Matéria original: Usina não será obrigada a dar comida a cortadores de cana

+ sobre o tema

Geledés Instituto da Mulher Negra lança PodeCrê Podcast

O PodeCrê Podcast está lançando sua primeira temporada em...

Ideli sobre redução da Maioridade: “Perdemos o primeiro Round”

"É uma batalha longa e difícil da qual perdemos...

Trabalho infantil caiu quase pela metade no Brasil em 15 anos, diz OIT

  BRASÍLIA - Caiu quase à metade, de...

para lembrar

Milícias já superam facções no Rio, diz estudo

Fonte: Yahoo! Notícias -   As milícias já...

Mulheres negras são mais vulneráveis ao desenvolvimento de miomas

Mulheres com histórico familiar, obesidade e sem filhos também...

Jovens negros promovem princípios da Internet através de linguagens artísticas

A Conexão Malunga, plataforma de discussões dos usos das...

CEOs brasileiros debatem papel do setor privado na promoção dos direitos humanos

Pensar em direitos humanos na hora de traçar as...
spot_imgspot_img

Estudo relata violência contra jornalistas e comunicadores na Amazônia

Alertar a sociedade sobre a relação de crimes contra o meio ambiente e a violência contra jornalistas na Amazônia é o objetivo do estudo Fronteiras da Informação...

Brasil registrou 3,4 milhões de possíveis violações de direitos humanos em 2023, diz relatório da Anistia Internacional

Um relatório global divulgado nesta quarta-feira (24) pela Anistia Internacional, com dados de 156 países, revela que o Brasil registrou mais de 3,4 milhões...

Apenas 22% do público-alvo se vacinou contra a gripe

Dados do Ministério da Saúde mostram que apenas 22% do público-alvo se vacinou contra a gripe. Até o momento, 14,4 milhões de doses foram...
-+=