Família de jovem amarrado e executado critica justiçamento na Baixada: ‘Não cabia à população julgar’

Parentes de Patrick Soares de Lima Ribeiro, de 19 anos, executado a tiros após ter pernas e braços amarrados pela população do bairro Pioneira, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, não acreditaram quando receberam a notícia de que o jovem estaria roubando quando foi assassinado. A pastora Adriele Basílio, de 27 anos, prima em primeiro grau de Patrick, afirma que o jovem é ex-jogador de futebol, trabalhava com o pai como trocador de Kombi e tinha até medo de ser assaltado. Testemunhas contaram à polícia que Patrick teria assaltado uma mulher após sair de uma festa na manhã desta terça-feira.

Por Rafael Soares, do Extra 

— Antes de sair de casa para essa festa, ele foi para casa e tirou um relógio e um tênis que havia acabado de ganhar do pai porque eram caros. Ele tinha medo de ser assaltado — diz Adriele, que também criticou a ação da população, que amarrou o jovem:

— É muita maldade no coração do ser humano. Se ele estava roubando, não cabia à população julgar. Pelo que eu entendi, na hora, quando as pessoas o agarraram, ele não conseguiu se expressar, se defender.

Arquivo Pessoal

Patrick foi enterrado na manhã desta quarta-feira no Cemitério Nossa Senhora de Fátima, em Caxias. Segundo seus parentes, ele havia parado de estudar e morava com a mãe e com a avó, em Caxias. Nos últimos quatro anos, ainda de acordo com a família, o jovem jogou futebol no Esporte Clube Tigres do Brasil, em Caxias. O único registro com seu nome no banco de dados da polícia foi justamente quando foi vítima de um roubo: em janeiro de 2016, dois homens de moto roubaram seu celular.

A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), que investiga o caso, apura se milicianos estão tentando se instalar no bairro Pioneira. Agentes da delegacia especializada disseram que, atualmente, o local é dominado por traficantes de mais de uma facção criminosa. Entretanto, grupos paramilitares teriam interesse em explorar a área. A polícia investiga se o assassinato foi uma mensagem passada pela milícia.

Patrick foi amarrado e executado a tiros. O autor dos disparos, que estava num Palio Branco, e atirou após o rapaz ter sido agarrado por moradores, não foi identificado.

Em depoimento na DHBF, um adolescente de 16 anos, irmão de criação da vítima, contou que Patrick teria assaltado uma mulher antes de ser capturado por moradores. O jovem relatou que “também foi amarrado e arrastado na rua pelas pessoas”. Patrick foi executado com seis tiros — um no braço, três no peito e dois na cabeça.

De acordo com o relato do adolescente, ele, Patrick e mais um amigo, conhecido como Esquerdinha, saíram, no início da manhã desta terça-feira, de uma festa, próxima ao local do crime, na Avenida Geraldo Rocha, bairro Pioneira. Antes de voltarem para casa, Patrick disse que iria assaltar uma mulher. O adolescente afirmou que não participou do assalto e teria tomado, com uma moto, a direção de casa. Os outros dois teriam subido em outra moto para realizar o assalto.

O jovem também conta que retornou pouco tempo depois ao local, após perceber um tumulto. Quando chegou, afirmou ter encontrado Patrick amarrado e com ferimentos no joelho e nos braços. Esquerdinha havia conseguido fugir. Após afirmar que era parente de Patrick, também teve as mãos amarradas. De acordo com seu depoimento, os moradores afirmaram que só iriam soltá-los “quando a polícia chegasse”. O adolescente afirma só ter ouvido o barulho dos disparos contra Patrick e que não viu o autor.

 

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