Kijinga: o símbolo do poder

“Kijinga”, o chapéu considerado símbolo do poder tradicional, é a peça do mês de Setembro, no Museu Nacional de Antropologia, em Luanda, um utensílio que fez parte do acervo da referida instituição museológica.

Por Manuel Albano, do  Jornal de Angola

O poder tradicional é exercido por uma entidade secular tradicional, dotada de grande autoridade moral, jurídica e educativa. É a guardiã da cultura e das tradições ancestrais, investido segundo os preceitos culturais.

As autoridades tradicionais obedecem a certos rituais para que a comunidade as reconheça, respeite e venere como representantes dos seus ancestrais e de Deus. Estas autoridades usam um conjunto de peças etnográficas que são elementos simbólicos do poder tradicional, como: coroas ou gorros, trono, banco, bastão, enxota-mosca e cachimbo. Como proposta, o Jornal de Angola, apresenta a “Kijinga”.

A entronização, a outorga e a ostentação dos símbolos de poder, bem como a pertença à linhagem real são algumas condições para se ser autoridade tradicional. De referir que desde a Independência Nacional, em 1975, o Executivo reconheceu a importância e a eficácia das autoridades tradicionais como elementos de intermediação entre o poder político e determinados grupos locais.

A sua função sempre foi de destaque, no sentido de participarem directa ou indirectamente na formação da vontade colectiva do Estado. A peça Kijinga pertence ao grupo etnolinguístico ambundu, localizado ou repartido numa grande extensão entre o mar e o rio Kwango, excedendo para o leste, transpondo para o sul e médio Kwanza, envolvendo as províncias de Luanda, Bengo, Malanje e Cuanza-Sul.

O termo kijinga aplica-se ao chapéu da autoridade, que é considerado como símbolo de afirmação da personalidade do indivíduo que o ostenta. Dentro da tradição dos ambundu, constitui um dos elementos do aparato que distingue o poder legitimado pela pertença ao “sangue, valor da linhagem” e pelos ritos que o consagram.

O artefacto é feito de fibras vegetais e ráfia, pintado a preto e a castanho, com tonalidades cinzentas. Ele apresenta duas pontas ao lado, uma espécie de duas orelhas alongadas, bordadas em algodão multicolor.

O seu detentor utiliza-o em circunstâncias especiais, geralmente em actos oficiais. Ele simboliza o poder, a sabedoria e a força do seu proprietário. Os dois sentidos principais do quijinga são: primeiro, o portador é tido como guardião da integridade física de todos os cidadãos que se encontram sob a sua jurisdição. Essa integridade implica, antes de tudo, educação e garantias laborais, enquanto no sentido seguinte, o detentor tem a responsabilidade de manter harmonia, concórdia e unidade entre todos os que reconhecem nele a lealdade.

Projecto ganha força

O chefe de departamento da Educação e Animação Cultural (DEAC), do Museu Nacional de Antropologia, Massokolo Nsituatala, disse ao Jornal de Angola que o número de visitantes da instituição tem aumentado e que os mesmos procuram conhecer melhor a história do país.

Massokolo Nsituatala disse que, depois da realização, de 29 de Maio a 29 de Junho, de uma formação dirigida aos estudantes finalistas do Instituto Médio Técnico de Hotelaria e Turismo “Terra do Ngola”, o museu tem procurado manter parcerias com várias instituições, fundamentalmente de ensino.

O responsável assegurou que aos visitantes têm sido transmitidos conhecimentos gerais sobre o museu e o seu acervo museológico. “Temos recebido muitos estudantes, principalmente, uns por orientação dos professores e outros por curiosidade e interesse de aumentar os conhecimentos sobre a história do povo angolano”, argumentou Massokolo Nsituatala.

Uma experiência positiva teve a estudante universitária da Faculdade de Letras, do primeiro ano, do curso de Secretariado Executivo e Língua Empresarial, da Universidade Agostinho Neto, Bernardete Graça Pedro, sargento das Forças Armadas Angolanas, que foi à procura de mais valências e subsídios para o seu trabalho de investigação sobre estudos sociolinguísticos.

Em declarações, ontem ao Jornal de Angola, espelhou a sua vontade de aprender mais sobre a cultural dos seus ancestrais e poder dominar melhor a história do país. “Recebi valiosos subsídios e aconselho mesmo os estudantes do curso de História a visitarem o museu, por  lhes permitir ter contacto com uma variedade de peças que simbolizam os mais variados rituais dos povos angolano, em particular, e africanos no geral”, sugeriu a estudante.

 Preservação da memória colectiva angolana

Criado
 no dia 13 de Novembro de 1976, o Museu Nacional de Antropologia tem por missão assegurar a preservação do acervo etnográfico e antropológico da memória colectiva do povo angolano além da investigação, recolha e exposição do mesmo para o usufruto público.

O Museu Nacional de Antropologia possui um acervo de cerca de seis mil objectos (parte do acervo é constituído pelo espólio do antigo Museu de Angola e outra parte proveniente do acervo do Museu do Dundo) que comporta maioritariamente peças etnográficas que descrevem o quotidiano dos diferentes grupos etnolinguísticos de Angola (os Bakongo, os Ambundu, os Ovimbundu, os Lunda e Cokwe, os Ovingangela, os Nyaneka Khumbi, os Helelo, os Ovambó e os San/Kung).

Do acervo destaca-se as peças sobre pastorícia, caça, metalurgia, pesca, tecelagem, instrumentos musicais, cerâmica, cestaria, crenças religiosas, arte africana, poder Tradicional, arte sacra, numismática e artes plásticas (pintura). Em Novembro do ano passado, o museu ganhou o seu depósito central, contíguo ao edifício principal, localizado na Baixa de Luanda. O Depósito Central do Museu Nacional de Antropologia tem capacidade de acondicionamento de seis mil peças.

A infra-estrutura, que contam com duas salas destinadas ao acondicionamento e uma de restauro, vai, fundamentalmente, garantir a protecção e preservação do acervo destinado à pesquisa e exposição.

O edifício construído no âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013/2017, com recurso ao investimento público, tem três pisos e varias valências.

Situado no Centro Histórico da Cidade, este museu está instalado num edifício secular , de estilo palaciano, com níveis de pavimentação diferenciados, construído com pedra e cal na parte mais antiga e a tijolo e cimento na parte norte do edifício.

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