Risco de jovem negra ser assassinada é duas vezes maior que de branca, aponta pesquisa

Jovens negras têm 2,19 mais risco de ser assassinadas no Brasil do que jovens brancas. É o que aponta o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ) 2017, divulgado nesta segunda-feira, que faz pela primeira vez o recorte de gênero na análise de homicídio de jovens brasileiros. O índice faz parte de uma pesquisa desenvolvida por Secretaria Nacional de Juventude, Unesco no Brasil e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Por Eduardo Barretto Do Extra

Quando a análise inclui homens e mulheres, na mesma faixa etária de 15 a 29 anos levada em conta para o cálculo do IVJ, jovens negros têm 2,71 mais chances de serem assassinados do que jovens brancos no país. Este risco é maior em 24 unidades da federação. Em Alagoas, chega a ser 12,68 maior.

No Rio Grande do Norte, jovens negras morrem 8,19 vezes mais em comparação a jovens brancas, ao passo que, no Amazonas, o número é de 6,97. No Rio, é 1,55. Só no Paraná jovens brancas morreram mais do que as negras, e em Alagoas e Roraima nenhuma jovem branca foi contabilizada morta no ano retrasado, o que inviabilizou o cálculo nestes dois últimos. Os dados são referentes a 2015. O levantamento considera negros como a soma de pretos e pardos.

“A violência contra a juventude negra no Brasil atingiu índices alarmantes”, afirma o estudo, que conclui que a cor da pele é um “fator de risco” e que há “brutal desigualdade que atinge negros e negras até na hora da morte”. O IVJ qualifica que as taxas apresentadas nesta segunda-feira, relativas a 2015, são “endêmicas”. O homicídio é a principal causa de mortalidade entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil, e o número vem em alta.

DISPARIDADE EM INDICADORES SOCIOECONÔMICOS

A pesquisa menciona ainda que a disparidade se manifesta em diversos indicadores socioeconômicos, em uma “combinação perversa de vulnerabilidade social e racismo” que acompanha os jovens negros a vida toda. Dados de 2016 do IBGE mostram que negros ganham 59% dos rendimentos de brancos, e representam 70% da população em extrema pobreza.

O IVJ também analisou todos os 304 municípios com mais de cem mil habitantes no tocante à violência contra jovens, sob as variáveis: mortalidade por homicídios e por acidentes de trânsito, frequência à escola, escolaridade e inserção no mercado de trabalho. Os 21 primeiros são classificados como oferecendo vulnerabilidade “muito alta”.

Os campeões são Cabo de Santo Agostinho (PE), Altamira (PA), São José do Ribamar (MA), Eunápolis (BA) e Marituba (PA). Entre os 21 com a denominação mais severa, o estado do Rio tem cinco cidades: Angra dos Reis, em 6º; Cabo Frio, em 9º; Queimados, em 11º, seguido imediatamente por Araruama e Itaguaí. O município com menos risco ao jovem foi São Caetano do Sul (SP).

Essa pesquisa passa a levar em conta jovens de 15 a 29 anos, conforme definido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Até então, a faixa etária considerada era de 12 a 29. Fizeram parte do estudo a Secretaria Nacional de Juventude, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

A Secretaria Nacional da Juventude afirma que lançará mão do estudo no Plano Juventude Viva, para buscar reduzir a vulnerabilidade de jovens negros, por meio de “criação de oportunidades de inclusão social e autonomia”.

— A violência no Brasil tem cor, raça, geografia e faixa etária — afirma ao GLOBO o secretário nacional da juventude, Assis Filho.

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