O que levou “Pantera Negra” a receber sete indicações ao Oscar 2019

Nunca antes na história de Wakanda — e do mundo — um filme de super-herói havia sido indicado para a categoria do Oscar de melhor filme. “Pantera Negra” conseguiu este marco histórico, além de marcar presença em mais seis categorias da maior premiação do cinema: trilha sonora, canção original, mixagem de som, edição de som, direção de arte e figurino.

por Rodolfo Vicentini no UOL

Chadwick Boseman e Michael B. Jordan se enfrentam em cena de Pantera Negra Imagem- Divulgação / Marvel

Dirigida por Ryan Coogler, a história de T’Challa (Chadwick Boseman) ocupando o lugar do pai como rei da nação mais rica do planeta Terra é cercada por misticismo, intrigas, política e polêmicas, afinal, o vilão Erik Killmonger (Michael B. Jordan) conseguiu de forma justa um lugar como o comandante de Wakanda.

O primeiro filme solo do herói arrecadou impressionante US$ 1,34 bilhão nas bilheterias mundiais e carregou uma representatividade ímpar na história do cinema de ação. Mas o que levou “Pantera Negra” a conseguir tanto destaque no Oscar 2019? Nosso palpite:

O vilão Killmonger

Michael B. Jordan no papel do vilão Erik Killmonger, do filme Pantera Negra Imagem- Divulgação:Marvel

Interpretado por Michael B. Jordan, Erik Killmonger é um dos melhores vilões do Universo Cinematográfico da Marvel. O primo de T’Challa, que cresceu em Oakland (Califórnia), procura vingança pela morte do pai e dialoga com a questão familiar assim como Loki em “Thor” (2011) e “The Avengers: Os Vingadores” (2012). Jordan consegue atrair mais atenção nas telonas do que o próprio Chadwick, seja pela máscara africana que usa tanto quanto pela atuação precisa.

O vilão ainda tem uma questão nobre que difere de seu primo. Assim que consegue subir ao poder seguindo as leis de Wakanda, Killmonger começa seu plano de liberar para o mundo a tecnologia avançada, representada pela liga metálica Vibranium, para ajudar comunidades marginalizadas. O seu fim trágico ainda foi importante para T’Challa perceber que os recursos naturais de seu país podem ser importantes para o mundo.

Wakanda

Cena de Wakanda em Pantera Negra (2018) Imagem- Reprodução/Marvel

Após dez anos construindo seu universo cinematográfico, a Marvel já está acostumada a acertar a mão em lugares fantásticos. Apenas nos últimos anos, conhecemos o planeta sucateado Sakaar em “Thor: Ragnarok” — sem contar com o poderio da agora destruída Asgard –, inúmeros mundos que sofreram com Thanos em “Vingadores: Guerra Infinita” e até o reino quântico psicodélico de “Homem-Formiga e a Vespa”.

Porém, Wakanda salta aos olhos por reunir efeitos visuais que transformam o local em um dos personagens principais de “Pantera Negra”. A nação, que pulsa e parece respirar nas telonas, é representada como a união da tecnologia e das raízes africanas, toda colorida, escondida entre uma densa floresta.

A equipe de animação teve que ler uma “Bíblia” de Wakanda de 500 páginas para entender os mínimos detalhes sobre a civilização fictícia. No total, juntando as cinco tribos que formam a nação, são mais de 60 mil prédios e 12 milhões de árvores espalhados pela região.

“Ele teve uma visão real, o que foi impressionante, porque você está no mundo da Marvel e pode ir para onde quiser “, disse o cineasta Ryan Coogler sobre Geoffrey Baumann, supervisor de efeitos visuais em “Pantera Negra”. “É uma linha tênue entre realidade e fantasia, e ele foi capaz de caminhar bem nestes mundos.”

Lado político

As mulheres de Pantera Negra Imagem- Reprodução / Marvel

A organização social da região é igualitária, tanto que as mulheres do filme são fundamentais para a proteção e o desenvolvimento do país. Nakia (Lupita Nyong’o) e Okoye (Danai Gurira) são guerreiras de confiança do rei; Shuri (Letitia Wright), irmã de T’Challa, é uma genial cientista; e Ramonda (Angela Bassett) é a “rainha-mãe”, educadora que divide o cargo de governante com o rei.

O filme também aborda uma questão interessante com o protagonista, que se vê obrigado a dar uma espécie de “golpe” para retomar o controle de Wakanda. Killmonger clama por uma batalha contra T’Challa, o que é o seu direito de sangue. Na luta, o Pantera Negra é derrotado de forma limpa e perde o posto para o primo.

Killmonger quer abrir o mercado de Wakanda, possibilitando que a tecnologia da região alcance pessoas marginalizadas. Apesar da boa intenção, o vilão porta-se como um ditador dentro do governo, sem dar possibilidade para discurso. T’Challa, então, entra em combate com Killmonger para tomar o que é o seu.

“Pantera Negra” também ganhou muito apoio nos Estados Unidos pela representatividade, em dar espaço para um herói negro e sua comunidade. Para se ter uma noção, o filme arrecadou apenas nas bilheterias norte-americanas US$ 700 milhões, mais até do que “Vingadores: Guerra Infinita”.

Trilha sonora

Maior nome do hip-hop atual, Kendrick Lamar carregou a responsabilidade de ser um dos produtores das canções originais de “Pantera Negra”, cujo álbum chegou a ficar no topo dos mais vendidos dos Estados Unidos.

Quem o ajudou nesta aventura foi o compositor Ludwig Göransson, parceiro do diretor Ryan Coogler, que incrementou as melodias das trilhas sonoras com instrumentos típicos da África, como tambores, flautas e até vuvuzelas.

A canção “All The Stars”, de Kendrick com a cantora SZA, foi indicada na categoria melhor canção original do Oscar e ainda traz um clipe especial inspirado no filme.

Raízes africanas

Pantera Negra e a influência africana Imagem- Reprodução:Montagem

“Pantera Negra” se aprofunda nas tradições africanas para criar um mundo fantástico de um filme de super-herói. Ryan Coogler conseguiu adaptar para o cinema pontos importantíssimos que Stan Lee e Jack Kirby criaram em 1966 nas HQs, dialogando sobre preconceito, família, religião e cultura.

A Wakanda politeísta que crê em Pantera Negra homenageia as raízes africanas principalmente na representação do mundo espiritual. Quando T’Challa vira rei, ele passa por uma cerimônia de passagem em que encontra o pai morto. Ao fundo estão a savana, cujas árvores carregam os espíritos dos reis da região.

Outro aspecto importante é o figurino. As designers Ruth Carter e Hannah Beachler pesquisaram inúmeras tribos do continente para dar personalidade a cada grupo representado no filme. Um exemplo são os cobertores que vimos a tribo da fronteira, liderada por Daniel Kaluuya como W’Kabi, inspirados no grupo étnico dos Basothos.

A cultura africana também é vista no exército de T’Challa, em que as generais, apesar de todo o aparato tecnológico, não deixam de lado as lanças e os escudos, inclusive com trajes coloridos e apetrechos típicos das culturas locais.

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