Athletico divulga mensagem contra o racismo, e Nikão cobra: “Quando isso vai acabar?”

Após o meia-atacante Nikão relatar ofensas de cunho racista, Athletico divulga um vídeo em que pergunta, em várias línguas, “até quando?”

Do GloboEsporte.com 

Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O Athletico se posicionou sobre as ofensas racistas ao meia-atacante Nikão após o Athletico 1×0 River Plate, pela Recopa. O camisa 11 do Furacão divulgou xingamentos nas redes sociais na noite de quarta. O clube publicou um vídeo com a frase “até quando?” em várias línguas nesta quinta.

 

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‪Até quando teremos que aguentar o racismo? #AtéQuando #SouNegroComMuitoOrgulho ‬

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Após a vitória sobre o River, Nikão divulgou três ofensas e desabafou. “Lamentável, em pleno 2019, ainda existir esses tipos de coisas, sou negro com muito orgulho”, escreveu o camisa 11.

Nikão ainda divulgou um texto nesta quinta. Ele relembrou outros casos, como Tinga no Cruzeiro e Serginho no Jorge Wilstermann, e classificou o racismo como “inadmissível”.

 

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Meu nome é Maycon Vinícius Ferreira da Cruz, mas sou mais conhecido como Nikão, atleta profissional de futebol do Club Athletico Paranaense. Hoje, eu estou com 26 anos de idade e algumas vezes me deparei com uma situação tratada por muitos como “delicada”, mas que eu aprendi a classificar como INADMISSÍVEL. Ontem foi um dia desses. . Entramos em campo para disputar o primeiro jogo da final da Recopa Sul-Americana diante de uma das equipes mais tradicionais do continente e, outra vez, numa disputa esportiva de nações coirmãs, o racismo tomou forma. O Grafite e o São Paulo sabem porque eu disse “outra vez”. O Vasco e seu torcedor também. O Cruzeiro e o Tinga também. O Serginho, do Jorge Wilstermann, também… isso pra não citar o resto do mundo. Quantos mais? Dezenas? Centenas? Ou milhares? Quando isso vai acabar? Estamos no ano de 2019 e ainda somos obrigados a nos deparar com atitudes tão desumanas como esta. . Já ouvi dizer que isso é uma questão cultural, que é comum esse tipo de xingamento em alguns países da América do Sul e que a gente não deveria dar tanta importância. Também já vi falarem por aí que o preconceito nem existe de verdade e que é tudo vitimismo. Eu posso falar por mim: se uma atitude me machuca, corrói, afeta não só minha família, mas tantas outras pessoas que se sentem representadas por mim quando estou em campo, não passa pela minha cabeça aceitar. Essa ideia tem que ACABAR! . Apesar de acreditar que uma boa postura se aprende em casa, com boa educação, orientação e diálogo franco, por outro lado, tenho a certeza de que já passou da hora de a Conmebol ser mais enérgica com os casos de injúria racial. Já tivemos aqui no Brasil um grande exemplo de punição para o Grêmio, cuja torcida teve atitudes racistas, e o ato resultou na eliminação da Copa do Brasil. O recado é bastante claro: se o respeito não vem através de campanhas de conscientização e do diálogo, será necessário estabelecer punições mais severas, que mexam naquilo que mais importa para o torcedor e que deixem claro que cada ação tem uma consequência. (continua nos comentários)

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Texto completo de Nikão

Meu nome é Maycon Vinícius Ferreira da Cruz, mas sou mais conhecido como Nikão, atleta profissional de futebol do Club Athletico Paranaense. Hoje, eu estou com 26 anos de idade e algumas vezes me deparei com uma situação tratada por muitos como “delicada”, mas que eu aprendi a classificar como INADMISSÍVEL. Ontem foi um dia desses.

Entramos em campo para disputar o primeiro jogo da final da Recopa Sul-Americana diante de uma das equipes mais tradicionais do continente e, outra vez, numa disputa esportiva de nações coirmãs, o racismo tomou forma. O Grafite e o São Paulo sabem porque eu disse “outra vez”. O Vasco e seu torcedor também. O Cruzeiro e o Tinga também. O Serginho, do Jorge Wilstermann, também… isso pra não citar o resto do mundo. Quantos mais? Dezenas? Centenas? Ou milhares? Quando isso vai acabar? Estamos no ano de 2019 e ainda somos obrigados a nos deparar com atitudes tão desumanas como esta.

Já ouvi dizer que isso é uma questão cultural, que é comum esse tipo de xingamento em alguns países da América do Sul e que a gente não deveria dar tanta importância. Também já vi falarem por aí que o preconceito nem existe de verdade e que é tudo vitimismo. Eu posso falar por mim: se uma atitude me machuca, corrói, afeta não só minha família, mas tantas outras pessoas que se sentem representadas por mim quando estou em campo, não passa pela minha cabeça aceitar. Essa ideia tem que ACABAR!

Apesar de acreditar que uma boa postura se aprende em casa, com boa educação, orientação e diálogo franco, por outro lado, tenho a certeza de que já passou da hora de a Conmebol ser mais enérgica com os casos de injúria racial. Já tivemos aqui no Brasil um grande exemplo de punição para o Grêmio, cuja torcida teve atitudes racistas, e o ato resultou na eliminação da Copa do Brasil. O recado é bastante claro: se o respeito não vem através de campanhas de conscientização e do diálogo, será necessário estabelecer punições mais severas, que mexam naquilo que mais importa para o torcedor e que deixem claro que cada ação tem uma consequência.

Não deveria ser assim, mas, quem sabe dessa forma a própria torcida não comece um movimento para impedir esse tipo de situação, tão corriqueira e tão infeliz?

Caráter e grandeza não se definem por cor, mas, sim, por atitudes. Pra mim, coisas desse nível são um balde de água fria em qualquer conceito de civilidade. Aconteceu comigo e não me calei, mas isso acontece todos os dias em todos os lugares, não só no futebol, e se omitir não pode ser uma opção. Obrigado a todos pelas mensagens de apoio! Ver que temos tanta gente evoluída conforta muito.

Você não precisa sentir NA PELE pra repudiar.

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