No Dia da Visibilidade Lésbica, mulheres retratam suas gerações

Dos 17 aos 60 anos, lésbicas contam das conquistas e medos de suas gerações

Por Ricardo Ampudia | Karime Xavier, Da Folha de S.Paulo

Da esquerda para direita: Priscila Prates, 33 - mulher negra, de cabelo curto, usando roupa na cor nude-, Renata Meccatti, 32- mulher branca, loira, de cabelo na altura dos ombros, com camiseta verde musgo-, Daniela Castelani, 49- mulher branca, de cabelo curto, usando camiseta na cor nude-, e Daiana Bastos, 17- mulher branca de cabelo liso, na altura dos ombros, vestindo camiseta marrom.
Da esquerda para direita: Priscila Prates, 33, Renata Meccatti, 32, Daniela Castelani, 49, e Daiana Bastos, 17 (Foto: Karime Xavier/Folhapress)

No Dia da Visibilidade Lésbica, comemorado nesta quinta (29), a Folha reuniu quatro gerações de mulheres homossexuais para contar como lidam com sexualidade e como veem o Brasil de hoje.

Daiana Bastos, 17
Secretária

Filha de família evangélica, ser lésbica não era uma possibilidade para ela até os 14, quando descobriu esse universo e começou a repensar sua própria sexualidade. Acredita que o ativismo, nas suas diferentes formas, é fundamental para quebrar o preconceito na sociedade

“Minha geração vê um apoio cada vez maior à luta, mas, se melhorou, é porque tiveram outras que lutaram por nós e fizeram ser o que é hoje. Precisamos continuar”

Pricila Prates, 33
Garçonete

Criada em um abrigo para menores dos dois aos 19 anos, Priscila conta que nunca precisou se assumir, simplesmente foi crescendo e se descobrindo. Única negra no grupo convidado pela Folha, ela conta que o preconceito é “dobrado”, mas não existe outra alternativa que não enfrentá-lo.

“Não vou me pintar de branco e fingir que não sou lésbica. Não vou deixar de ser quem eu sou. O preconceito está escrito, ele existe. Tem que superar. Eu vou pra cima”

Renata Mecatti, 32
Produtora de moda e cultural

Vinda de uma família mais progressista, nunca teve problemas para se assumir ao se apaixonar por outra mulher. “Minha mãe sempre disse, para mim e para meu irmão, que se quiséssemos namorar Fernanda ou Fernando, tudo bem”

“Se você não se encaixa no estereótipo preconceituoso que se tem das lésbicas, o da mulher masculinizada: Ah, mas você não é sapatão”

Mariana Falqueiro, 39
arquiteta

A profissão ainda a leva para espaços dominados por machismo e preconceito onde “não digo que eu sou, mas também não digo que não sou”. Descobriu-se lésbica aos 24. Acredita que o mais difícil não é assumir para a família ou sociedade, mas para si mesma.

“As forças conservadoras estão de volta e muito presentes. É um momento importante para lutar contra a ignorância, e não contra as pessoas”

Daniela Castelani, 49
Publicitária e terapeuta quântica

Em 1988, quando se apaixonou por uma mulher, aos 19, conta que as mulheres gays se segregavam em bares na noite e a sociedade não discutia muito o tema. Se assumir em público não era uma questão fácil e voltou a não ser ser, segundo ela.

“Dizer que é lésbica deveria algo humano, um ato de humanidade. Hoje voltou a ser um ato de resistência, um ato político”

Cintia Zanco, 52
Violinista

Depois de “tentar ser hetero por muito anos”, Zanco resolveu deixar-se ser quem é após um acidente quase fatal, aos 21. Conta que nunca foi ativista, mas após as eleições de 2018, mudou sua postura em relação ao tema, por uma questão de sobrevivência.

“Se não sou vista como sujeita de direitos pelo Estado, então não quero mais pagar impostos, é um acordo. Imagina se todas fizéssemos esse acordo”

Ana Maria Domingues de Oliveira, 60
Carmem Sílvia de Almeida, 66
professoras

Ligada a grupos da renovação carismática da igreja católica, Ana se reprimiu até os 24, quando distanciou-se para se assumir lésbica. Aos 40, conheceu Carmen. A princípio não deu certo. Se reencontraram oito anos depois e resolveram investir na relação. Estão juntas há 20 anos.

“Crescemos tendo o cuidado de não demonstrar afeto em público e acabamos internalizando que é proibido. Minha geração tinha receio de se expor, essa perdeu o medo”

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