Pandemia precisa ser enfrentada também no campo da política

Estamos diante de uma das maiores ameaças da nossa geração: a pandemia do coronavírus. Os impactos da Covid-19 em um país desigual como o Brasil são devastadores para a vida da população mais pobre, que já vivia em habitações precárias, sem acesso a saneamento básico e em regiões que sofrem historicamente com a invisibilidade e a violência do estado.

O crescimento do desemprego e o aumento dos preços dos alimentos têm levado milhões de brasileiros à condição de extrema pobreza. Após a ruptura democrática em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, o consequente aprofundamento da política neoliberal, as reformas Trabalhista e Previdenciária e a promulgação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do Teto de Gastos, que congelou os gastos sociais por 20 anos, temos assistido ao rápido processo de miserabilidade de uma grande parte da população brasileira.

Com a maioria do apoio parlamentar e 30% de aprovação popular, o presidente da República tem outras prioridades. Dentre elas destacam-se a autonomia do Banco Central, o controle da Petrobras, a proteção ainda maior aos congressistas diante de imputações legais e a liberação de armas e munições, que, por sua vez, fortalecem as milícias.

Internacionalmente, o Brasil se transformou em pária. A derrota de Trump foi a última de uma sequência de retomadas de países das mãos de governos abertamente racistas, misóginos e de ultra austeridade. Se lembrarmos das cenas na invasão do Capitólio, podemos ter uma previsão do cenário no próximo ano.

A esquerda ainda não garantiu a unidade necessária para apresentar um projeto em comum. O PT é o maior partido do campo, e Lula ter readquirido a possibilidade de concorrer em eleições é uma correção da injustiça praticada por Sérgio Moro, mesmo que este ainda precise ser responsabilizado por suas arbitrariedades.

  • Vale destacar que existem articulações com o objetivo de ultrapassar o projeto progressista, que até o momento não tiveram êxito. Os setores liberais que se opõem ao governo ainda estão enfraquecidos, mas seguem aprendendo com tendências tão importantes para a saída dessa encruzilhada da história. Uma frente ampla entre esses grupos é importante, se entendermos que o que foi rompido no Brasil pertence ao pacto democrático de 1988, tornando-se uma ruptura institucional que aconteceu com a desqualificação da política.

Não tenho certezas —quem diz que as tem, mente— mas trago indícios: enfrentar a pandemia e seus impactos é uma missão de todas e de todos, se quisermos ter futuro.

Isso foi demonstrado nas ações de solidariedade protagonizadas em 2020 por lideranças majoritariamente jovens de favela e mulheres negras. Uma coalizão de várias dessas iniciativas lançou em 2021 a campanha Tem Gente com Fome, que visa arrecadar alimentos para quase 223 mil famílias no Brasil. É importante retomar um caminho com o povo, transformar a luta social em força política e apoiar um processo de renovação de lideranças.

Precisamos garantir, em primeiro lugar, segurança para a atuação dessas lideranças e sua potencialização com estrutura, visibilidade e formação. Além disso, não existirá debate no século 21 que não passe centralmente pela questão racial.

Vemos um levante desse tema, seja por meio de atos públicos, da produção audiovisual, do esporte ou do entretenimento. A pauta racial passou a ser uma questão relevante e continuamente discutida. Por fim, o setor de sustentação mais fiel ao atual governo são os evangélicos, que são em sua maioria negros e pobres, e com quem precisamos estabelecer um diálogo.

 

 

Wesley Teixeira
Morador da Baixada Fluminense, integrante do PerifaConnection, da Coalizão Negra por Direitos e da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito

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