Justiça condena, por racismo, ex-aluno da FGV que chamou colega de ‘escravo’

Enviado por / FonteO Globo, por Jan Niklas

A Justiça de São Paulo condenou Gustavo Metropolo, ex-aluno da Fundação Getúlio Vargas (FGV), pelos crimes de racismo e injúria racial, após ele chamar um colega negro de “escravo” em um grupo de WhatsApp. A decisão da 14ª Vara Criminal do Fórum da Barra Funda, na capital paulista, fixou a pena em dois anos e quatro meses em regime aberto. Porém, a pena privativa de liberdade foi substituída por prestação de serviços à comunidade e pelo pagamento de cinco salários mínimos à vítima.

O GLOBO tentou contato com a defesa de Gustavo Metropolo, mas não teve retorno. A FGV afirmou que “não é parte na ação e o réu já não é seu aluno desde logo após o evento”.

O caso foi denunciado em março de 2018 pelo também aluno da FGV João Gilberto Lima. Metropolo havia enviado uma mensagem para um grupo de WhatsApp com uma foto de Lima acompanhada da mensagem: “Achei esse escravo no fumódromo! Quem for o dono avisa!”.

Após a abertura do boletim de ocorrência e instauração do inquérito policial, o Ministério Público de São Paulo ofereceu denúncia por injúria racial e por racismo contra Gustavo Metropolo.

A defesa de Metropolo negou a autoria do crime argumentando no depoimento judicial que ele não era o autor da mensagem, pois seu celular hava sido roubado antes do episódio. Também foi alegado que ele teria se sentido pressionado pela instituição a admitir algo que não havia feito.

Porém a juíza Paloma Assis Carvalho, da 14ª Vara Criminal de São Paulo, refutou a tese, afirmando que a “autoria é certa” que o ato cometido pelo réu atingiu toda a sociedade.

“Não convence a versão do réu de que não foi o responsável pela fotografia, postagem e mensagem. Restou comprovado que, por diversas vezes, o réu admitiu aos professores e coordenadores da Faculdade ter sido o autor dos fatos, chegando a dizer que havia feito uma ‘monstruosidade’ e que eles estariam ‘perdendo tempo’ com uma pessoa como ele. Afirmou que não era isso que aprendera com a sua família, mostrando-se arrependido da conduta”, escreveu a juíza na sentença.

A decisão determina ainda que o réu pode recorrer da decisão em liberdade, já que, segundo a magistrada, “não houve, durante a instrução, qualquer motivo ensejador de custódia cautelar, e diante da substituição da pena, tampouco há agora”.

Em 2018, logo após dar depoimento na Delegacia de Repressão contra Crimes Raciais, em São Paulo, João Gilberto Pereira Lima falou ao GLOBO sobre a reação que teve ao ver a mensagem racista.

— Fiquei em choque. Nunca tinha passado por isso na FGV. Agora só penso em ter meus direitos adquiridos — disse na ocasião — Já fui vítima de preconceito outras vezes, mas fora do ambiente universitário.

 

+ sobre o tema

‘Enterrei dois filhos, ainda tenho esperança de enterrar meu caçula’

velho, Carlos, ela enterrou ainda bebê, morto em decorrência...

O genocídio do jovem negro em marcha

Joca Neto de Belo Horizonte Com mais de 56 mil...

Caso Rafael Braga: “A Justiça reforça a segregação racial no Brasil”

Condenado a 11 anos por tráfico, ex-catador diz que...

para lembrar

Ajude a identificar quem está depredando o País

Os protestos que tomaram conta do País nas...

Lugares de Fala

Dada a avalanche da mesma argumentação pobre e rasa...
spot_imgspot_img

PM afasta dois militares envolvidos em abordagem de homem negro em SP

A Polícia Militar (PM) afastou os dois policiais envolvidos na ação na zona norte da capital paulista nesta terça-feira (23). A abordagem foi gravada e...

‘Não consigo respirar’: Homem negro morre após ser detido e algemado pela polícia nos EUA

Um homem negro morreu na cidade de Canton, Ohio, nos EUA, quando estava algemado sob custódia da polícia. É possível ouvir Frank Tyson, de...

Denúncia de tentativa de agressão por homem negro resulta em violência policial

Um vídeo que circula nas redes sociais nesta quinta-feira (25) flagrou o momento em que um policial militar espirra um jato de spray de...
-+=