Casa Grande & Senzala numa única unidade residencial

A Rossi Residencial é um empresa que constrói e vende apartamentos em 91 cidades brasileira para todas as classes sociais que comemora em 2011 seus 30 anos de atuação no mercado. Para marcar a data está realizando uma série de shows com Ivete Sangalo pelas principais capitais do país além de veicular na TV uma propaganda comemorativa da data em rede nacional.

No filme veiculado a protagonista é Ivete Sangalo que aparece cantando do alto de uma varanda de um prédio tendo ao fundo o mar: “Todo dia, toda hora/quando eu chego na minha casa, uma paz, uma calma gostosa/ eu não quero ir embora/(a cena de fundo muda para um par de atabaques(!) e ela está empunhando um microfone) /deixa eu contar da Rossi pra você/ (a câmera em movimento conduz nosso olhar para outro cenário, a cozinha e surge como coadjuvante uma mulher negra vestida como Tia Nastácia (?) que se volta para a cantora interrompendo algum trabalho numa bacia de porcelana sobre a mesa e colocando os punhos na cintura com as mãos curvadas para fora. Em seguida, com uma toalha nas mãos encobre sorrindo o rosto curvando-se para a cantora) /da felicidade de te ver viver/ (a cena agora é o quarto com a cantora de olhos fechados e sorriso de satisfação, preguiçosamente deitada e coberta) / a simplicidade, o conforto do lar/o sonho da Rossi é te ver morar/balança a chave, aê/balança a chave aê (refrão)/balança a chave que essa casa é prá você/ (refrão)/ “A casa é sua e não é casa sem você” completa em tom coloquial, em seguida a legenda “Visite nosso site”.

Casa Grande & Senzala numa única unidade residencial
Casa Grande & Senzala numa única unidade residencial

A Rossi Residencial é sem dúvida uma empresa capitalizada e moderna, vende pela internet, anuncia seus imóveis na TV e faz uma campanha milionária de marketing, tem missão, visão e valores empresariais declarados atendendo assim aos requisitos da cultura empresarial moderna como recomendação das boas práticas de gestão de negócios. Diante disso se forma um paradoxo já o filme publicitário apresentado está aquém do que declara quando se vale de uma imagem do passado escravista para compor uma realidade atual caracterizando “o lar”. O filme procura sugerir tranquilidade, segurança, ordem e limpeza relacionados à presença servil da mulher negra tipicamente caracterizada como empregada doméstica estereotipada na figura de uma escrava mucama, servil e sorridente.

A naturalidade impune com que estas cenas se repetem impondo-se no imaginário social como violência simbólica são uma representação tão real como absurda do lugar social que ainda no século XXI o empresariado nacional e as agência publicitárias representam o “lugar do negro”, ainda que alguns possam comprar um apartamento da Rossi Residencial certamente é um ” lugar não lhes pertence”.

Fonte: Atabaqueblog

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