Segundo ato #MulheresContraCunha, contra o aumento de 54% do feminicídio de negras

Manifestantes em defesa dos direitos das mulheres protestaram, nesta quinta-feira 12, em São Paulo, contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e contra o Projeto de Lei 5069. As manifestantes levaram cartazes e entoaram gritos em alusão aos escândalos de corrupção envolvendo o parlamentar e criticaram o projeto de lei, de sua autoria, que dificulta o acesso à pílula do dia seguinte e obriga as vítimas de estupro a passarem por exame de corpo de delito antes de poderem abortar no rede pública de saúde — medida que ignora, por exemplo, o fato de que muitas vítimas de violência sexual não apresentam marcas.

por Marcelo Pellegrini  no Carta Capital

Eram frequentes cartazes com dizeres como “Meu útero não é da Suíça para ser da sua conta” e “Cunha, o inimigo número 1 da mulher”. Além disso, as manifestantes também entoaram cantos pedindo a cassação do mandato do deputado, investigado por corrupção e lavagem de dinheiro.

ato contra cunha2
Manifestante carrega cartaz em alusão às contas secretas de Cunha na Suíça. Créditos: Quebrando o Tabu

O protesto começou por volta das 18 horas no vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo), e juntou cerca de 5 mil pessoas, segundo a organização. Ao longo de toda a manifestação, mulheres negras lideraram a marcha com o objetivo de chamar a atenção para a vulnerabilidade social das mulheres pobres, negras e moradoras da periferia.

Os dados do Mapa da Violência 2015 reforça a escolha das manifestantes. Segundo o relatório, o feminicídio de negras cresceu 54% em 10 anos, entre 2003 e 2013, enquanto o número de mulheres brancas mortas caiu 10% no mesmo período.

Para a professora Geni Barros, presente no ato, o levantamento comprova o risco. “As negras são altamente vulneráveis porque ocupam trabalhos precários, têm baixo acesso à informação e moram nas periferias, longe dos aparelhos de assistência social”, afirma. Para ela, além do machismo, as mulheres negras são vítimas do preconceito racial. “É uma sobreposição de opressões”, diz.

ato contra cunha 3
Mulheres negras lideraram a manifestação. Créditos: Roberto Parizotti / Secom CUT

Na avenida Consolação, houve uma divisão entre as participantes. Manifestantes ligadas a Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes Livre), ao movimento nacional das juventudes de mulheres (Juntas!), e o PSTU rumaram em direção à Escola Estadual Fernão Dias, no bairro Pinheiros, onde estudantes ocuparam o prédio contra a “reorganização” proposta pelo governador Geraldo Alckmin, que levará ao fechamento de 94 escolas.

Ainda na rua da Consolação, houve uma manifestação específica contra o episódio de racismo na faculdade Mackenzie, em que os banheiros da instituição foram pixados com dizeres racistas. Em frente à entrada da faculdade, as manifestantes gritaram que “racistas não passarão”.

O ato terminou no Largo do Paissandu, onde parte das manifestantes se dividiu e rumou em direção às seis escolas ocupadas pelos alunos secundaristas. Não houve nenhum relato de confronto durante todo o protesto.

Além da manifestação desta quinta-feira 12, houve dois outros atos contra Eduardo Cunha e o PL 5069 – o primeiro no dia 30 de outubro, com cerca de 5 mil participantes, e o segundo no dia 31, com 1,5 mil pessoas.

ato contra cunha4
Grávidas e mães também acompanharam a manifestação. Créditos: Roberto Parizotti / Secom CUT

+ sobre o tema

Livro de Michelle Obama quebra recorde de vendas em 15 dias

Mais de dois milhões de exemplares das memórias de...

PLP2.0 Vencedor do prêmio Oi tela viva móvel 2016 na categoria Utilidade Pública

O Geledés Instituto da Mulher Negra e Themis Gênero...

Eu Empregada Doméstica Preta Rara – TEDxSaoPaulo

Joyce, a Preta Rara, fala do que aprendeu com...

para lembrar

Ser um atleta medalhista olímpico não apaga sua cor, diz ex-levantadora Fofão

A história da ex-levantadora Fofão, 48, preencheria vários capítulos...

Como as empresas brasileiras podem apoiar a agenda LGBTI?

“Parem de nos matar e comecem a nos contratar”...

Antropóloga norte-americana Sheila Walker visita Salvador

O Núcleo de Gênero do Coletivo de Entidades Negras...
spot_imgspot_img

Mulheres recebem 19,4% a menos que os homens, diz relatório do MTE

Dados do 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios mostram que as trabalhadoras mulheres ganham 19,4% a menos que os trabalhadores homens no...

Órfãos do feminicídio terão atendimento prioritário na emissão do RG

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e a Secretaria de Estado da Mulher do Distrito Federal (SMDF) assinaram uma portaria conjunta que estabelece...

Universidade é condenada por não alterar nome de aluna trans

A utilização do nome antigo de uma mulher trans fere diretamente seus direitos de personalidade, já que nega a maneira como ela se identifica,...
-+=