Déda destaca importância do reconhecimento da Praça São Francisco – Sergipe

“Esta é uma vitória que resgata 450 anos de história. O berço de Sergipe virou Patrimônio da Humanidade”, com esta afirmação, o governador Marcelo Déda avaliou a importância da deliberação pela Unesco que escolheu o conjunto da Praça São Francisco, em São Cristóvão, para ser incluído na lista do Patrimônio Cultural da Humanidade. A afirmação foi realizada durante uma coletiva concedida no Palácio dos Despachos.

A escolha ocorreu durante a 34ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, em Brasília, no final da tarde do último domingo, 1º, na disputa com 38 sítios de diversos continentes. “Esta é uma notícia da mais alta relevância para o Estado de Sergipe. O título de Patrimônio da Humanidade só foi concedido a um seleto grupo de monumentos arquitetônicos, culturais ou naturais em apenas 17 municípios brasileiros”, destacou o governador.

“São Cristóvão é o 18º município brasileiro a receber o reconhecimento internacional da Unesco, tendo a sua principal praça incluída nesta lista. Este título põe de imediato a cidade de São Cristóvão e o Estado de Sergipe sob os olhos de toda a comunidade internacional, já que a Unesco divulga de forma intensa estas áreas protegidas, além de mobilizar os governos e organismos nacionais e internacionais no sentido de preservar estes espaços”, frisou Déda, ao evidenciar a importância do trabalho de construção e consolidação da candidatura de São Cristóvão pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Governo do Estado.

Significado histórico

Segundo Déda, muito além de um conjunto de monumentos históricos, a Praça São Francisco é um registro da luta, inteligência e cultura dos sergipanos. “Quem edificou aquela praça foram nossos antepassados dentro de um processo histórico de consolidação da civilização sergipana. A construção de São Cristóvão e a edificação daquela praça registram o encontro das culturas entre europeus, índios que aqui habitavam, e os negros africanos trazidos como escravos, dentro de um processo muitas vezes dramático de ocupação do território brasileiro e sergipano”, contextualizou Déda.

A documentação que deu suporte à candidatura sergipana contava, inclusive, com registros históricos inéditos, recolhidos no Arquivo Histórico de Simancas, na Espanha, onde se comprova a relação entre a Espanha e a Capitania de São Cristóvão num documento de 1605. Este registro consolida a representação de um fenômeno singular no Brasil e nas Américas, que tem como contexto o período ímpar da aliança entre as coroas portuguesa e espanhola sobre o domínio do reinado de Felipe II (1580-1640), que determinou, inclusive, o peculiar traço arquitetônico da Praça São Francisco com nítida influência espanhola.

“Com esta decisão, nós tivemos o reconhecimento efetivo de que a história do povo de Sergipe é parte da história da humanidade”, disse o governador. Déda também fez questão de agradecer ao apoio do presidente Lula, e à colaboração dos ministros da Cultura, Juca Ferreira; das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao embaixador do Brasil na Unesco, João Carlos de Souza Gomes, e ao presidente do Iphan, Luiz Fernando Almeida, que defendeu pessoalmente a candidatura perante a comissão avaliadora, pela união de esforços concentrando a atuação dos organismos culturais e da diplomacia brasileira em torno da candidatura de São Cristóvão.

De acordo com o governador, após o período eleitoral, será promovido um grande ato que marcará a entrega oficial do diploma que reconhece esta conquista, e que ainda será marcada pela entrega da Ordem do Mérito Serigy, a mais alta honraria concedida pelo Governo do Estado a personalidades que contribuíram para esta conquista.

Dinâmica e preservação

Outro ponto abordado pelo governador durante a coletiva referiu-se à necessidade de complementação e ampliação dos investimentos na preservação dos monumentos, a exemplo dos investimentos de R$ 1,5 milhão recentemente realizados para a instalação de iluminação decorativa e implantação das redes elétrica e telefônica subterrâneas, para a constante valorização urbanística da cidade.

“A Unesco reavalia permanentemente a situação dos sítios escolhidos. Da mesma forma que recebemos, também poderemos perder este título se não tomarmos as medidas preventivas para garantir a manutenção e a correta utilização deste patrimônio”, lembrou o governador. Segundo ele, há a proposta para a criação de um comitê gestor, com verbas específicas, para manutenção, desenvolvimento e realização de eventos em parceria com a Prefeitura de São Cristóvão e instituições ligadas ao patrimônio histórico e cultural.

“Este é um título que traz uma influência direta na perspectiva de evolução turística do município. Ele é um selo que Sergipe terá e que outros estados não têm”, enfatizou o governador. “São Cristóvão passa a agregar ainda mais valor enquanto destino turístico de interesse internacional, retomando a sua vocação turística a partir da sua concessão. Nossa responsabilidade, a partir de agora, é sustentar essa colocação”, concluiu o governador.

População comemora

A boa notícia, aguardada há muito tempo pelos moradores de São Cristóvão, quebrou o protocolo da tradicional missa de domingo. Às 18h deste dia 1º de agosto, os fiéis saíram da paróquia e deram um abraço simbólico na Praça São Francisco, que acabara de receber o título de Patrimônio Histórico da Humanidade. Ao mesmo tempo, os sinos de todas as igrejas e conventos vizinhos tocaram como jamais se viu na localidade.

Alívio e emoção eram as sensações mais comuns entre os moradores da quarta cidade mais antiga do Brasil. Vestida com a blusa da campanha promovida pelo Governo do Estado em prol do título e abraçada na bandeira do município, a professora Vânia Dias Corrêa, 46, disse estar vivenciando uma das maiores alegrias de sua vida. “Foram dias de angústia à espera do resultado, mas valeu a pena. São Cristóvão Merece este título”, comemora Vânia.

Sua amiga e colega de profissão, a professora Georgina Néri, 45, conta que a mobilização teve uma importante frente de ação nas escolas. “Conscientizamos os alunos de que se nós ganhássemos seria muito bom para o futuro deles. Eles abraçaram a causa e se preocuparam mais em conservar a Praça. Além disso, eles foram à internet votar para que ganhássemos o título”, revela Georgina.

Morador de São Cristóvão desde que nasceu, o senhor Daniel Lima Costa, 67, possui uma residência bem ao lado da Praça. “Me criei aqui e sempre vi que todos os visitantes que chegam se encantam com a praça; acham belíssima”, comenta Daniel, que no ano de 1967 casou-se justamente na igreja situada no mesmo conjunto arquitetônico da Praça. “Tudo isso aqui faz parte de minha história”, conclui.

Há cinco anos pároco da igreja de São Francisco, o padre José Bernardino Santana disse ver o título de patrimônio histórico como uma vitória para o povo de São Cristóvão. “Todos esperavam ansiosamente por este momento. A esperança agora é que o município prospere, que este título traga benefícios para todos nós. Estamos muito felizes”, comentou o padre.

Lara Aguiar – Jornalista

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