Ex-colonizadores, novos migrantes

Por Marina Gonçalves

A notícia não poderia passar despercebida. Atraídos pela perspectiva de conseguir emprego em Orã, graças à presença de muitas empresas espanholas na cidade argelina, quatro espanhóis tentaram uma travessia ilegal ao país. Foram presos, segundo o jornal local “Liberté”. Sem emprego em território espanhol, e com o visto negado para o país africano, os jovens apelaram para um recurso até então muito utilizado por africanos ilegais que tentam, há muitas décadas, ganhar a vida na Europa. Diante da crise econômica que assola o continente, no entanto, os europeus fazem agora o caminho de volta.

Desde o início deste ano, a imigração africana irregular diminuiu de forma acentuada, segundo informou o embaixador espanhol na Argélia, Gabriel Busquets, durante uma mesa redonda sobre a relação bilateral entre os países. O diplomata acredita que a queda do fluxo migratório se deve à “falta de emprego na Espanha, causada pela crise econômica, e aos esforços das autoridades argelinas e de cooperação entre os dois países para lutar contra esse fenômeno”, como registra o jornal do país africano.

O fenômeno não é restrito à Espanha. Também os portugueses vêm emigrando, não somente para o Brasil – no primeiro semestre de 2011, mais de 50 mil portugueses iniciaram trâmites para solicitar residência no país -, mas também para as ex-colônias africanas, como Angola. Com o desemprego beirando aos 20%, em cinco anos, 350 mil pessoas deixaram o país. Segundo estimativas do governo português, somente em 2011, o êxodo de mão de obra chegou a 150 mil pessoas, equiparando-se somente aos índices registrados nas décadas de 1960 e 1970, no período da ditadura de Salazar.

E essa fuga em busca de novas oportunidades se dá, muitas vezes, de maneira ilegal, como fizeram muitos brasileiros e africanos nas décadas de 80 e 90, quando o país europeu vivia seu auge. Apenas na segunda metade da década de 1990, quase 100 mil brasileiros, a maioria com pouco nível de instrução, foram tentar a sorte além-mar, principalmente na construção civil e no setor de serviços.

– Naquela época, Portugal tinha se beneficiado da entrada na União Europeia, em 1986, e recebia milhões de dólares em investimentos para se modernizar. Era um período de muita prosperidade – conta a geógrafa Aline Lima Santos, autora de uma dissertação de mestrado na USP sobre a emigração brasileira para Portugal.

Evasão também de mão de obra qualificada

Agora a situação é inversa. Em fevereiro, 20 portugueses foram deportados no aeroporto de Luanda com vistos falsos. Em 2011, também na capital de Angola, 42 cidadãos portugueses sem visto de trabalho foram detidos pelo Serviço de Migração e Estrangeiros. Eram contratados de modo irregular por uma empresa de construção civil, que teve que pagar uma multa de US$ 5 mil por trabalhador.

Mas não são apenas os trabalhadores sem mão de obra qualificada que tentam a sorte nas antigas colônias. O número de vistos angolanos concedidos a portugueses saltou de 156, em 2006, para mais de 23 mil em 2011. Na Espanha, o aumento do desemprego – que atingiu 24% em abril – chegou a todos os níveis profissionais. O espanhol Antonio Sabater, de 32 anos, nem esperou a crise se instalar: deixou o país há dois anos, primeiro para os Emirados Árabes, depois para o México. Com duas licenciaturas, em arquitetura e em desenho industrial, seu maior salário no país foi de A 2 mil.

– O México me atraía desde pequeno, quando ouvia música populares graças aos meus pais. Eu me apaixonei à distância, mas depois de um ano aqui, o país continua me encantando. E, além da parte histórica, arrumar um emprego em países latinos é muito mais acessível para os espanhóis. Somos muitos aqui.

A jornalista Paula Escalada é outro desses casos. Cansada de subempregos na Espanha – nunca conseguiu deixar de ser estagiária, mesmo com uma pós-graduação -, ela rumou ao México em agosto do ano passado.

– Estava cansada de ser estagiária e vi uma oportunidade de me desenvolver profissionalmente. Além disso, não há trabalho na Espanha, e, se você consegue algum, as condições são abusivas. Aqui pelo menos temos mais oportunidades. Vivo muito bem, porque com pouco dinheiro se pode fazer muita coisa. Além disso, é um país em pleno desenvolvimento, que não para de crescer.

Fonte: Yahoo Notícias

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