O mundo está contra nós, as que lutamos pela tal liberdade

Nós, mulheres feministas, lutamos para que todas as pessoas sejam livres. Nós lutamos para que o “ser mulher” de algum modo acabe, deixando de existir como uma imposição, como o conjunto de expectativas do que devemos ou não ser. Para que todas possam traçar os seus projetos de vida, sem que algumas categorias como “mãe”, “esposa”, “idosa” as reduza. Queremos experimentar a vida de um jeito que até hoje ninguém nunca experimentou: sem opressões.

Priscilla Brito.

Algumas barreiras, contudo, se colocam como impeditivos para alcançar o que queremos. Elas não só são construídas para impor “regras” ou “modos de agir”, mas também para nos ensinar que a desigualdade faz parte do mundo e que pode até ser um jeito bom de viver. As barreiras são opressoras porque nos tornam aliadas.

Não é raro que nós mulheres nos preocupemos que a amiga engordou demais, que chamemos a outra de vadia, que assumamos a maternidade como algo muito mais importante que a paternidade e as outras relações de cuidado… Sim, não importa se nos identificamos com o feminismo ou não, todas nós fazemos o jogo do patriarcado.

Porque vivemos numa sociedade permeada de relações de poder (alô, Foucault), a opressão também nos captura independentemente da nossa vontade. Há sempre os momentos em que não sabemos como agir e é quando recorremos facilmente a discursos legitimados na sociedade e que também reproduzem valores patriarcais. É o caso do discurso médico. Nós deixamos de confiar nas parteiras, benzedeiras e bruxas porque os homens de jaleco passaram a ter o domínio sobre o discurso médico e científico. E a história mostra que muitas vezes sem sequer estudar ou investigar se aquilo que era usado para lidar com o problema realmente funcionava. Nós confiamos porque esta é uma forma de poder que não está visivelmente e diretamente relacionada à questão de gênero, mas que também nos oprime.

A conclusão é que o mundo está contra nós, as que lutamos pela tal liberdade. A nossa luta é contra o sistema, mas acontece justamente no interior dele. Se almejamos a liberdade é porque vivenciamos a opressão, embora nem sempre consigamos combatê-la ou sequer nomeá-la. Nessa luta enfrentaremos as nossas próprias contradições, porque não existimos independentemente do acontece em volta. O que queremos idealmente só existe em contraponto ao que vivenciamos, é da opressão que emerge o que entendemos por liberdade. O mundo que é patriarcal é também o nosso mundo e justamente por isso queremos transformá-lo (o mais rápido possível, por favor).

 

Claudia Regina: Como se sente uma mulher

 

 

Fonte: Blogueiras Feminista

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