Mariana em meio ao espanto observa os cenários estampidos, uma realidade doída. O tempo é grande e Mariana entende a vida da outra. Era hora de escrever sobre o violento cotidiano de uma desconhecida. Respira. Inspira. Porque em tempos de aglomeração e pouco espaço, sobram desafetos. O texto é o diário vivido por alguém. Uma mulher sem nome… Todos os dias da vida dela é um empurrão. Mas era o trivial. Senta, reza, acende uma vela. Pede a Deus mais paciência. E se puder inventa, conta umas mentiras, esconde debaixo do travesseiro o choro que ninguém vê. Lava a louça, esfrega com força as panelas, assustada quando ele grita. Se ele cisma que a esponja tem gordura, coitada, as marcas roxas se sobressaem. A situação estava complicada demais.
Por alguns instantes, ela imaginou um final. Uma garrafa de pimenta poderia ser uma arma. Ou quem sabe: Óleo quente das sobras de batatas fritas, tesourada nos testículos enquanto ele dormia, não. E as filhas? Sem pai, mãe na cadeia. Desistiu.
O dia sinaliza. Ás cinco horas, antes que o marido acordasse, a mulher foi ao armário herdado da mãe, pegou quatro comprimidos e dissolveu na xícara. Acordou as filhas, arrumou e escondeu as malas. Às seis horas o café foi servido para o “marido guerreiro”. A sonolência. Tudo bem feito. A mulher colocou as máscaras nas quatro filhas, atravessaram ruas, avenidas, pegaram o ônibus buscando um novo respirar. Ás vezes ela ouve o isolamento suave de uma liberdade.
A vida escorre pela história. Lá fora, ainda dá vontade de chorar. “E eu que não creio, peço a Deus por minha gente”.