Carlos Lopes, sociólogo guineense que é o lusófono na ONU mais próximo do secretário-geral Ban Ki-moon, afirma que África é o continente que melhor está a resistir à crise económica mundial.
Empossado em julho secretário-geral adjunto da ONU e secretário-executivo da Comissão Económica da ONU para África (CEA), Carlos Lopes afirma que África participa no debate anual da Assembleia-Geral num momento de crescimento interno e de confiança, e tendo ultrapassado “décadas de atraso” graças aos Objetivos do Milénio.
“Por enquanto, a África continua a ser a região mais resistente à crise e aquela que apresenta as taxas mais elevadas de crescimento, à volta dos cinco por cento”, disse à Lusa.
Apesar de a crise económica a norte afetar as suas exportações, adiantou, o continente vive uma expansão do mercado interno, com a classe média crescente a estimular o consumo e as novas tecnologias a trazerem “bastante valor acrescentado às economias”.
“Praticamente não há semana sem notícias de novas descobertas no campo energético, o que também cria uma autoconfiança maior das economias do continente”, adiantou.
Escolhido em março por Ban Ki-moon, depois de 24 anos ligado à ONU, Carlos Lopes quer elevar a CEA a “grande ‘think tank’ do continente” africano.
Depois de concretizar parcerias com a União Africana e o Banco Africano de Desenvolvimento, a prioridade neste momento é “arrumar a casa e fazer propostas importantes” em janeiro na Cimeira de chefes de Estado africanos que terá lugar em Addis Abeba.
Ainda em novembro, Carlos Lopes irá organizar uma reunião das agências e órgãos da ONU que trabalham sobre África, presidida pelo sub-secretário-geral Jan Eliasson.
A Assembleia-Geral que arrancou na terça-feira em Nova Iorque, destacou, é a primeira depois da Cimeira Rio+20, onde se aprovaram alguns “princípios que vão marcar a definição da agenda de desenvolvimento pós-2015”.
“Acho importante que os países africanos se posicionem nesse processo, pois eles ganharam muito com os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, um quadro que ainda prevalece e que permitiu sair das décadas perdidas do ajustamento estrutural”, disse à Lusa.
Com 60 por cento da agenda do Conselho de Segurança tomada por países africanos, serão passados também em revista ao longo desta semana os desenvolvimentos recentes na Somália e entre o Sudão e o Sudão do Sul.
Deverão ainda ser escutados “lamentos” em relação ao Mali, República Democrática do Congo e Guiné-Bissau, afirmou.
Antes de assumir a direção no “sistema de ensino” da ONU, Carlos Lopes foi diretor político do ex-secretário-geral Kofi Annan e coordenador residente do Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil e no Zimbabué.
Formado em estudos do desenvolvimento em Genebra e doutorado em História da África pela Universidade de Sorbonne, Carlos Lopes tem publicados dezenas de livros e artigos académicos.
Em Portugal, é membro da Academia de Ciências de Lisboa e presidente do Conselho Geral do ISCTE.
Fonte: Dinheiro Digital