Quase me constranjo colocar em poesia a tragédia do extermínio que se vê hoje no Rio em particular e no Brasil em sua vastidão.
Por Dora Incontri, do Espiritismo Progressista, no GGN
Mas algo tem que ser dito. E quando a dor é muito profunda, vale chorar em verso.
As palavras se retraem
Para falar de Agatha,
Mas precisam ser faladas
Mesmo que recusem rimas,
Para não enfeitar o crime.
As palavras soluçam
Para falar do menino
No pelourinho do mercado.
As palavras se rebelam,
Nelas não cabe o extermínio
De corpos negros e jovens
De um pai com nome de Rosa
Já nem mais falado se ouve
Por tantos outros que caíram
Depois dos 80 tiros!
As palavras morrem na goela
Para lembrar Marielle
Aclamada pelo mundo
Injustiçada aqui há uma eternidade.
As palavras se quebram no verso
Desencantado e avesso.
Porque o Brasil ainda é senzala
Ainda se farta de sangue
Do negro, do índio, da mulher.
Da criança que não crescerá,
Do jovem que sonhava ser.
Até quando?
“Senhor Deus dos desgraçados,
Dizei-me vós, Senhor Deus!”
Usarão de vosso nome
Para matar filhos teus?
“Existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e covardia”
Dos navios imundos do passado
Às favelas alvejadas por fuzis.
“Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga”
Voltai Castro Alves e Luiz Gama
Mulheres Marielles e Dandaras
E arrancai essa vergonha que nos fere
E justiçai Agatha caída!