Alas abertas para a equidade racial em postos de liderança

Um pacto coletivo para acelerar a busca pela equidade racial nas posições de liderança. Esse é o modo como pode ser descrita a Plataforma Alas. A nova iniciativa da Fundação Tide Setubal visa apoiar a formação e preparação de lideranças negras com trajetória negra, em momentos diferentes da vida, para chegarem a espaços de poder e de decisão. Além disso, o projeto visa sensibilizar e envolver gestoras(es) brancas(os) em ações com esse propósito. Esse ponto é ressaltado no seguinte trecho do manifesto publicado na plataforma.

“Queremos ir longe, o mais longe que pudermos para transformar a realidade de injustiça racial ainda tão presente no Brasil. Queremos mudar o cenário das empresas, das universidades, do sistema judiciário.”

A Plataforma Alas é composta por três estratégias – AsasElos Caminhos. As OSCs, o campo do ISP e empresas podem potencializar ações já existentes dentro das estratégias. As organizações atuantes nesses segmentos poderão, segundo Viviane Soranso, coordenadora do Programa Raça e Gênero da Fundação Tide Setubal, desenvolver e propor novos projetos. “A ideia é que essas instituições também se responsabilizem por esses projetos, seja por meio de financiamento próprio, seja na elaboração de estratégias para processos internos de inclusão.”

Incentivar os primeiros voos

Voltada à potencialização de jovens com idades entre 16 a 24 anos moradores de regiões periféricas e que estejam cursando o Ensino Médio ou sejam recém-formados, a Estratégia Asas visa despertar o interesse desse público em áreas diversas do conhecimento e no exercício da liderança.

A estratégia, cuja fase experimental foi implementada no Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo, terá alcance nacional em 2022 e será implementada por meio de financiamento coletivo em formato de matchfunding. Uma das organizações parceiras na implementação da Estratégia Asas é a Global Opportunity Youth Network São Paulo (Goyn SP).

Lucas Gregório, assistente de projetos do Goyn SP, explica que a parceria com a Plataforma Alas se trata de um passo importante para a organização. “Sendo assim, possuir uma organização parceira como a Plataforma Alas é um marco para o programa, pois além de permitir sustentabilidade e escalabilidade, contribuirá para uma estratégia maior de apoio à inclusão produtiva de jovens negros.”

Ligação com o saber e o conhecimento

Estratégia Elos é voltada para jovens estudantes e adultos de origem periférica em busca de cursos de graduação ou preparatórios para mestrado, concursos públicos e carreiras jurídicas em instituições de excelência.

Uma das instituições parceiras é o Insper, que já atuava em conjunto com a Fundação Tide Setubal e com a Educafro em um projeto para preparar candidatos para participarem de seu processo seletivo, ao conceder bolsas para candidatas(os) negras(os) e de origem periférica. Agora, a parceria permitirá que mais jovens possam se dedicar aos estudos para participar do vestibular.

“Ofertar a oportunidade para esses jovens terem acesso ao ensino superior de qualidade contribuirá com as suas trajetórias profissionais, transformando suas realidades. Além disso, representa para o Insper termos mais diversidade etnico-racial no corpo discente, tornando o ambiente mais representativo – e no futuro, tornando as empresas e instituições em que trabalharão mais representativas e com equidade racial”, ressalta Ana Carolina Velasco, gerente de relacionamento institucional da instituição.

Estratégia Elos conta também com parceria do Instituto Singularidades. De acordo com o seu presidente, Alexandre Schneider, a instituição estabeleceu um compromisso antirracista segundo o qual jovens negros com origem periférica devam compor pelo menos 30% do corpo discente, deverá haver cursos de formação continuada sobre essa mesma temática e que essa mesma premissa norteie mudanças nos processos de contração, na relação com fornecedores e no desenvolvimento de currículos pautados por princípios antirracistas.

“Nunca é tarde para lembrar que há sub-representação de professores negros e negras, e que esta é ainda maior na rede particular de ensino. A parceria é fundamental para podermos garantir que mais jovens negros periféricos possam se formar professores e, na sala de aula, possam ser um fator de mudança social e de luta pela equidade educacional”, explica Schneider.

Ao levar a esfera governamental em consideração, o Vetor Brasil, organização que atua na formação de profissionais para o ingresso no setor público e cujo trabalho é pautado pela promoção da diversidade, equidade e inclusão, tornou-se parceiro da Plataforma Alas por meio do projeto Ubuntu: Fortalecendo Potências para o Setor Público.

De acordo com Lara Barreto, diretora do Vetor Brasil, o objetivo do projeto preparatório é garantir que profissionais negros tenham acesso ao desenvolvimento de competências socioemocionais e ferramentas de gestão de pessoas. “Faremos isso a partir de um programa de desenvolvimento pensado especificamente para profissionais públicos negros, incluindo uma trilha formativa, mentoria individual com profissionais referência e, ainda, fortalecendo a conexão em rede entre os próprios participantes.”

As inscrições para participar do Ubuntu: Fortalecendo Potências para o Setor Público estarão abertas até 8 de outubro no site do projeto.

Pavimentar caminhos para lideranças

Voltada ao fortalecimento e ao aprimoramento no trabalho desenvolvido por lideranças negras e das organizações que coordenam, o trabalho exercido por meio da Estratégia Caminhos consiste, no primeiro momento, na organização dos editais Traços Elas Periféricas.

Edital Traços é voltado a lideranças negras com idade acima de 20 anos e visa fornecer recursos que poderão ser investidos em atividades que contribuam para as trajetórias das lideranças, como cursos de idiomas, cursos de pós-graduação, participação em intercâmbios, congressos e seminários; cursos livres que abordem temáticas relacionadas a consolidação da democracia e a superação das desigualdades, dentre outras atividades formativas. Em sua primeira edição, quando ainda tinha o nome Edital Caminhos, o projeto potencializou 31 lideranças negras com trajetória periférica.

Já o Edital Elas Periféricas é voltado à potencialização de mulheres negras atuantes em áreas periféricas ao redor do Brasil e cujas iniciativas causam efeitos transformadores nos seus territórios. Realizado há três edições, sendo a mais recente em parceria com o TikTok, o edital fomentou 72 iniciativas por meio de fomento e fortalecimento institucional no formato de mentorias voltadas a tópicos como comunicação, gestão financeira e administração dos projetos.

Seja um aliado dessa causa

Acesse plataformaalas.org.br para saber mais detalhes sobre as estratégias, editais e demais projetos voltados à potencialização de lideranças negras e de trajetória periférica. O site contém informações para quem quiser ser potencializada(o) e para quem quiser colaborar com o pacto coletivo para acelerar a busca pela equidade racial nas posições de liderança.

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